O que eu gostaria de ter ouvido aos treze.

Barbara Miranda
barbararmiranda
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3 min readApr 6, 2017

Mamilos (de verdade, não polêmicas) começavam a aparecer e as meninas já ficavam todas alvoroçadas pra colocar um sutiã, pra se sentirem mulheres, mais velhas, adultas. Eu, com a genética que meu pai e minha mãe me deram, demorei uns três anos a mais que outras meninas pra começar a pensar neles.

Em meio a leituras da Capricho, filmes e as amigas da escola, eu achava que tinha problema com o tamanho dos meios seios. Eu repetia as frases de toda menina que tinha o corpo parecido com o meu diz(ia): ah, como eu queria ter peitos maiores; mas eles ainda vão crescer e, se não crescerem, eu coloco silicone.

Mentira.

Eu não me me importava. Na verdade, sempre achei bom ter seios pequenos. Acho confortável. Sempre odiei sutiã com enchimento e arame, e nunca consegui me imaginar numa mesa de cirurgia pra fazer qualquer mudança estética no meu corpo.

Eu reproduzia aquelas frases e gestos pra me enturmar, afinal, como eu poderia estar satisfeita com meu corpo? Diga-se de passagem, de todas as coisas que eu gostaria de mudar nele, o seio não era/é prioridade, mas se todo mundo reclamava, eu tinha que reclamar também. Ou pelo menos eu achava isso, até descobrir que esse era o motivo da reclamação.

Meus peitos são pequenos. Ponto final. Não tem um “mas” depois disso. Não tem um “eu vou esperar ter filho”, “eu vou esperar ficar mais velha”. Eu não quero mudá-los artificialmente e tá tudo bem.

Em um país onde ocorre o segundo maior número de cirurgias plásticas do mundo (1,22 milhão de procedimentos em 2015, sendo lipoaspiração e silicone os maiores números*), é óbvio que as propagandas do corpo ideal são muito valorizadas. E a gente compra, cada uma delas, desde o nascimento. Eu compro, você compra, todo mundo compra. E assim, corremos eternamente atrás desses padrões, sem perceber que eles estão sempre mudando para algo que nunca conseguiremos ser.

Nosso corpo é inconstante, fluido, espelho da nossa mente. Ele responde a cada estímulo, seja bom ou ruim. Aprender a amá-lo é diferente de aceitá-lo, como alguém que se conforma com uma condição ruim que lhe foi dada. O importante é respeitá-lo. Respeitar os limites, conhecê-lo de ponta a ponta. É ok você não amar cada detalhe do seu corpo. Está tudo bem.

Devemos questionar cada um desses desgostos, para não nos deixar levar por caminhos que só vão nos transformar externamente, quando a verdadeira mudança ocorre de dentro pra fora. Cirurgia não leva a amor e respeito próprio. Quer muito fazer cirurgia plástica? Beleza. Mas se pergunte antes porque você quis mudar sua morada em primeiro lugar. Será que não poderia modificá-lo de outra forma? Ou vê-lo sob outra perspectiva?

Eu gosto dos meus seios pequenos. Sempre gostei. Eu só passei muito tempo fingindo que não.

Às meninas que estão na puberdade: vai ficar tudo bem, tudo na vida é transitório; Às mulheres que já passaram da puberdade: seja gentis consigo mesmas e com seus corpos. Vocês merecem isso.

Don’t worry, be happy. Flaws and all.

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