GREVE SANITÁRIA NA EDUCAÇÃO E A DESMOBILIZAÇÃO DA CATEGORIA EM MANAUS.

Base Mao
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3 min readJun 17, 2021

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por Jonas Araújo*

Tenho acompanhado pelas redes sociais e por diálogos virtuais que boa parte dos colegas que estavam na defesa da greve pela vida e contra o retorno as atividades presenciais na educação resolveram voltar para as salas de aula. Esse quadro tem sido alvo de constantes reflexões, do comando de greve, da oposição sindical e de todos os movimentos de trabalhadores/as da educação que estão na luta pela imunização do povo amazonense.

A greve sanitária, instaurada nos dois sindicatos organizados da categoria, ocorreram em meio ao anúncio da Prefeitura de Manaus e do governo do Amazonas de retorno as atividades presenciais na educação mesmo sem um plano de imunização eficiente e de controle da circulação do vírus. Naquele momento, a indignação da categoria se elevou e chegamos à greve dos trabalhadores da educação da Semed/Manaus e da Seduc/AM.

A Prefeitura de Manaus, em uma manobra politiqueira, resolveu pegar o principal pleito da categoria, a imunização, e criar um mutirão de vacinação para aplicar a primeira dose e de imediato convocou os trabalhadores a retornarem as atividades presenciais. Descumprido as suas próprias orientações sobre as duas doses da vacina e o tempo de espera do esquema vacinal.

Essa manobra vil foi denunciada pelas lideranças dos diversos movimentos de professores. Contudo, o aumento da sexta-básica, do gás, da gasolina e a perda do poder de compras criaram as condições necessárias para que as gestões escolares aliciassem os trabalhadores/as a abandonarem a greve e voltar para sala de aula.

O PODER DA GREVE

O poder de uma greve, em qualquer período histórico, vem da capacidade de mobilizar uma categoria profissional em torno de um objetivo. Infelizmente esse poder não se encontra na greve dos professores de Manaus. Existem muitos elementos que influenciam para entendermos esse quadro e vou pontuar alguns.

1.0 NEGACIONISMO — Temos um governo federal onde o presidente da república nega cotidianamente a necessidade de medidas sanitárias de combate a pandemia. Mesmo as medidas mais elementares como o uso da máscara. No Amazonas o governador transformou a Assembleia Legislativa do Estado em “puxadinho” e aprovou a educação como serviço essencial, atendendo a interesses de grupos privados da educação. Em Manaus estamos sendo governados por um prefeito pastor que acredita firmemente que a covid-19 não circula nos templos, nos transportes coletivos e nas escolas e que transformou a Câmara Municipal de Vereadores em uma extensão do executivo.

2.0 CRISE SINDICAL — Em meio ao cenário caótico da pandemia ainda temos uma crise entre SINTEAM e Asprom/Sindical. As duas entidades reivindicam a legitimidade de representar os trabalhadores da educação na capital amazonense, contudo, após a aprovação da greve suas direções não conseguiram manter a mobilização da categoria após a manobra politiqueira da prefeitura em parceria com o governo do estado.

3.0 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO — As condições do trabalho remoto impossibilitaram o acompanhamento adequado do processo de ensino aprendizagem o que levou a sobrecarga dos trabalhadores. Além disso, esse modelo de trabalho amplificou as desigualdades sociais pois muitas famílias e muitos trabalhadores da educação não possuem a mínima estrutura digital.

4.0 ALIENAÇÃO — As condições sanitárias de Manaus não são seguras para o retorno as aulas, ainda assim, a pressão política dos gestores, cargos de confiança do poder municipal, possuem mais força que as orientações dos sindicatos e grupos de pesquisa sobre a letalidade da pandemia.

O QUE FAZER NO CENÁRIO ATUAL

Diante das condições postas acredito que precisamos pensar outras formas de combater a política do retorno as aulas presenciais. Manter a luta dos que se dispuseram a construir a greve pela vida em um grande sistema de monitoramento e denuncia das condições sanitárias das escolas, estudantes, trabalhadores da educação e comunidade em geral nos órgãos de fiscalização, nos jornais e redes sociais.

Tem escolas do Amazonas forçando o retorno de todos os alunos, mesmo que a família opte por não enviar, chegando ao absurdo de exigir laudo de comorbidade para quem optar pelo ensino remoto. Ou seja, existe uma política no papel e outra na realidade das escolas.

Precisamos voltar a ocupar as ruas e as redes. Construir campanhas de mobilização para envolver trabalhadores da educação, estudantes, mães, pais e toda a comunidade. A greve neste momento está desgastada, contudo, a formas de combater a necropolítica não.

*Professor em greve pela vida.

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