A Igreja na Metrópole

Leonardo Daneu Lopes
Basileia
Published in
4 min readJun 18, 2017
Foto: Marcus Gombocz

A confusão de hoje é o vazio sem forma onde o Espírito se move até que a igreja nasça novamente.

Parece que o denominacionalismo já teve seus dias. Uma pesquisa da Barna em 2009 mostrou que o compromisso denominacional não tem sido muito firme nas principais igrejas Protestantes, e as Evangélicas também não têm sido muito melhores que o resto. Com base em uma outra pesquisa similar, Ron Sellers, da Ellison Research disse que Protestantes são “fiéis às suas denominações, como são fiéis aos seus cremes dentais.” O denominacionalismo pode se recuperar, mas seu estado parece terminal. Este creme dental não está preparado para voltar à embalagem.

Como a maioria das coisas, este desenvolvimento tem seus prós e contras. Denominações nasceram de um espírito católico. Elas possibilitaram aos crentes manter suas diferentes crenças sem se separar do resto do mundo Cristão. Seria trágico se o declínio das denominações deixasse a Igreja menos católica.

E mais, sem uma lealdade denominacional sólida, Cristãos abandonam suas igrejas no primeiro relance de um problema. Antes, Anglicanos permaneciam firmes porque até mesmo um pastor incompetente e um carpete feio eram preferíveis a se juntar aos Luteranos. Hoje o Luteranismo é uma opção considerável. E a pesquisa da Barna mostrou que muitas vezes uma lealdade fraca à uma denominação expressava uma fraca aderência ao próprio Cristianismo. Pouco menos da metade dos que responderam à pesquisa era “absolutamente” comprometida com o Cristianismo, e grande parte estaria disposta a explorar outras religiões.

Tomo uma visão mais otimista. O declínio denominacional é um aspecto da nossa era de romper barreiras, e, se as igrejas responderem corretamente, uma igreja mais católica pode emergir dos destroços. O teólogo James B. Jordan há muito tempo apontou para o padrão recorrente de criação, colapso, e recriação na história bíblica. Quando Deus começa a refazer Israel, Ele primeiro destrói o antigo Israel. Quando Deus está pronto para a construção de um templo, Ele primeiro manda os Filisteus para deixar o tabernáculo em farrapos. O caos eclesiástico desorientador de hoje é uma crise, mas crises abrem portas para o futuro Cristão.

O que virá no lugar do denominacionalismo? A verdadeira resposta é, não sabemos. Principalmente em tempos de crise, o futuro nunca é uma simples extrapolação do presente. Deus faz novas coisas. Ainda assim, temos algumas razões para crer que essa grande novidade está relacionada às cidades.

Em 2008, a raça humana virou uma esquina. Pela primeira vez na história (até onde sabemos!), a maioria vive em grandes centros urbanos. Especialistas estimam que em algumas décadas, haverá 5 bilhões de pessoas nas cidades, principalmente na África e Ásia. Atualmente 700 cidades no mundo possuem população acima de um milhão.

Muitas igrejas têm notado esse padrão e redirecionado seus ministérios de acordo. A suburbanização tem ido na direção reversa. Apesar de hesitante, e dos soluços e erros, é difícil não se sentir estranhamente aquecido pelo fato de que muitas igrejas estão buscando replicar o trabalho da igreja primitiva, resumido de forma incrível por Rodney Stark: “O Cristianismo revitalizou as cidades Greco-Romanas ao trazer novos modelos e novas formas de relacionamento capazes de lidar com problemas urbanos muito urgentes. Às cidades cheias de desabrigados e miseráveis, o Cristianismo ofereceu caridade e também esperança. Às cidades cheias de imigrantes e estrangeiros, o Cristianismo ofereceu uma base imediata para se construir afeto. Às cidades cheias de orfãos e viúvas, o Cristianismo ofereceu um novo e expandido senso de família. Às cidades despedaçadas por violentos conflitos étnicos, o Cristianismo ofereceu uma nova base para solidariedade social. E às cidades que enfrentavam epidemias, incêndios e terremotos, o Cristianismo ofereceu cuidado eficaz.”

Junte esse dois fatores — denominacionalismo em declínio e urbanização — e terá o perfil de um novo (velho) modelo metropolitano de igreja. Sob o denominacionalismo, pastores Presbiterianos em Atlanta são mais íntimos dos Presbiterianos em Macon ou Minnesota do que dos Metodistas do outro lado da rua. Na verdade, o Presbiteriano e o Metodista talvez nunca se encontrarão, por mais que cada um poderia olhar da janela de seu escritório e ver o outro encarando de volta do outro lado da rua, se ao menos levantassem suas cortinas. Num modelo metropolitano, o Presbiteriano e o Metodista se vêem primeiramente como ministros numa comunidade local, co-operadores com os Luteranos e Pentecostais e Católicos do outro quarteirão, trabalhando em conjunto para construir uma imagem da cidade de Deus dentro da cidade dos homens.

Incorporar um modelo metropolitano da igreja não será fácil. Um dos obstáculos primários é a teologia. Por mais misterioso que seja, diferenças teológicas possuem consequências práticas, muitas vezes enormes. Quando igrejas trabalham juntas, elas geralmente funcionam como latitudinarianas, colocando suas diferenças teológicas no Armário Reservado para Coisas Imencionáveis. Isso não é o bastante. Conversas cordiais na associação ministerial não serão suficientes. Se for para ter cooperação e comunhão profundas, é preciso que haja um consenso teológico maior, e para chegar a um consenso, as igrejas e seus líderes precisam estar comprometidas ao trabalho árduo da oração frequente, adoração, serviço e estudo. Uma igreja metropolitana terá de ser mais profundamente católica do que imaginamos.

Será um pouco confuso por um bom tempo, e forjar uma igreja metropolitana não será fácil. Mas vale o esforço. Onde ministros trabalham e oram juntos para servir a cidade, coisas extraordinárias acontecem. A confusão de hoje é o vazio sem forma onde o Espírito se move até que a igreja nasça novamente.

Autor: Peter J. Leithart

Texto original: Church in the Metropolis

Tradução: Leonardo Daneu Lopes

Revisão: Felipe Felix

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