Amar o ideal de igreja ou amar a igreja?

Felipe Felix
Basileia
Published in
3 min readDec 17, 2017

por Bill Smith

Mid Summer Night Solstice © 2013 Laurie Pace

Não sei se você ficou sabendo, mas nesse ano se comemora o aniversário de 500 anos da Reforma. Em todo mundo, as pessoas estão comemorando, e com razão. Ainda que a causa e as consequências da Reforma sejam tristes em muitos aspectos, há muitos motivos para sermos gratos. É triste que a Igreja Ocidental tenha caído em tantos erros doutrinários e morais que uma cirurgia radical tivesse de ocorrer. Mas somos gratos que Deus teve misericórdia de nós, livrando-nos dos erros que corromperam a igreja. É triste que a consequência não intencional da Reforma tenha sido a divisão da igreja em denominações. Mas somos gratos por Deus estar santificando sua igreja através das nossas diferenças e porque um dia Ele trará toda a igreja de volta em perfeita unidade, de acordo com a oração do nosso Salvador.

Muito foi feito. Ainda há muito a fazer. Como as igrejas Protestantes estão, mais uma vez, cheias do senso da nossa identidade histórica, pode ser uma tentação entrar em um “estado reformacional” que é caracterizado por um zelo pelo o que a igreja deveria ser, apaixonando-se pela ideia ou ideal de igreja, mas não amando a igreja como ela é.

Não há nada errado com ideais. Eles são necessários para nos manter olhando para frente. Através da história do mundo, o próprio Deus definiu os padrões pelos quais seu povo deve lutar. Através de seus comandos diretos, assim como imaginando seu povo no Tabernáculo, Templo e na Nova Jerusalém (Ap 21–22), nos são dados padrões, ideais, pelos quais devemos lutar.

Mas, algumas vezes, nos apaixonamos com a ideia da igreja ao invés de amar a própria igreja; a igreja como ela é e não apenas como ela deve ser. Nós imaginamos esse lugar de perfeita paz e harmonia, onde todos estão fazendo o que é certo, e nós estamos rindo e alegres em todo tempo. Nós amamos esse lugar. Mas essa não é a igreja da qual fazemos parte. Ela está lá fora, em algum lugar, temos certeza, mas não é a igreja da qual faço parte hoje.

Em nosso amor pelo ideal, podemos perder de vista o fato de que paz e harmonia num mundo pecaminoso vem através do perdão dos pecados dos outros e do perdão dos meus pecados pelos outros. Alegria na igreja vem através do sofrimento conjunto, suportando a dor e as feridas dos outros e com os outros. Nós, servos, não somos maiores que o nosso Senhor. Se ele teve que suportar o sofrimento pela alegria que lhe estava proposta (Hb 12:1–2), quanto mais nós teremos que suportar o sofrimento para entrarmos na alegria?

Amar a igreja envolve amar tanto o ideal de Deus para a igreja como a igreja como ela está agora na história. Amar o ideal de Deus para a igreja nos mantém encorajados para seguir em frente. Amar a igreja de Deus como ela está agora nos lembra que esse é um processo para vida inteira. Devemos ficar pacientemente contentes com a situação em que nos encontramos atualmente, mas nunca satisfeitos.

Se você está sempre descontente com a igreja, inquieto, nada nunca é o suficiente, insatisfeito com o progresso, sempre pensando que alguma outra igreja está numa situação melhor, pode ser que você esteja mais apaixonado com a ideia da igreja do que com a própria igreja. Claro, sempre existirão reformas que precisam acontecer na igreja. Parte dessa reforma pode ser apenas aprender o contentamento com as pessoas que sentam ao seu lado no culto todo domingo e amá-las.

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