Da Epifania ao Pentecostes

por Peter J. Leithart

Bruno Pasqualotto Cavalar
Basileia
4 min readJan 10, 2019

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Deus aparecia frequentemente aos santos do Antigo Testamento. Ele veio como um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo a Abrão (Gênesis 15:17), e depois como três homens diante da tenda de Abraão nos carvalhais de Manre (Gênesis 18). Ele mostrou-Se a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:2), e a Israel na nuvem de fogo (Êxodo 16:10). Quando ele apareceu a Korah, a terra abriu e engoliu os rebeldes, e Ele apareceu à mulher de Manoá com as boas novas de um filho (Juízes 13:3) e à Samuel com más notícias para a casa de Eli (1 Samuel 3:21). Faltaria-me tempo se eu enumerasse todas as aparições de Yahweh a reis, profetas, juízes e mulheres.

Todas essas aparições empalidecem diante da aparição de Deus em Jesus. Aqueles que viram a Jesus viram o Pai, e após a Sua ressurreição Jesus apareceu a muitas testemunhas e prometeu aparecer novamente. As epifanias do Velho Testamento são passageiras: Yahweh está aqui, e depois não está mais, como a centelha de uma chama. Jesus permaneceu. Ele não apareceu de repente e então ascendeu numa fumaça sacrificial, como o Anjo de Yahweh fez com Manoá (Jz 13:20). Ele podia passar por uma multidão quando necessário, mas Ele estava lá, tangível, visível, audível, localizado num barco no mar da Galileia, nas cortes do templo ou no deserto orando ao Seu Pai. Os Seus discípulos puderam passar três anos aprendendo o timbre da Sua voz, observando as expressões da Sua face, sentindo a energia das Suas paixões: a voz, a face, e as paixões do Filho de Deus.

Mas então… Ele saiu novamente. O Filho armou sua tenda na carne, viveu, morreu, ressuscitou, e então desmontou a tenda e desapareceu quase tão rapidamente como veio. Como isso é diferente das antigas epifanias? O que faz desse evento algo que vale a pena celebrar como A Epifania de Deus? A luz brilha nas trevas, mas então a luz vai embora, para outro lugar, e então o quê? A trevas descem?

Devemos conectar a Epifania ao Pentecostes para resolver esse enigma. Jesus veio e foi embora, mas Ele não deixou o mundo nas trevas. Ele apareceu e desapareceu, mas Ele não deixou o mundo sem uma epifania de Deus. Ele foi embora, mas Ele não nos deixou órfãos. Ele veio de volta a nós, no Espírito. A luz de Jesus retornou quarenta dias depois de ter partido, quando o Espírito luminoso desceu sobre os discípulos. A epifania de Deus no Filho é definitiva, mesmo que temporária, porque ela é rapidamente seguida pela aparição de Deus o Espírito.

Não é uma resposta muito satisfatória. O Espírito aqui é tão invisível quanto Jesus no céu. Pelo menos no Pentecostes, o Espírito fez dos apóstolos tochas humanas, mas nós nem sequer temos isso. Somos deixados buscando por um Deus aparente. O Espírito é luz e o Espírito veio, mas de que serve uma luz invisível? O Espírito veio, mas onde podemos encontrar a Deus na solidez da carne?

João , o apóstolo da encarnação, nos provê uma resposta. Na sua primeira carta, ele faz a seguinte afirmação estarrecedora: “qual ele é, somos nós também neste mundo” (4:17). Ele enviou o Seu Espírito, mas esse Espírito mostra a Si mesmo na carne também, na nossa carne. Brilhando nas trevas e abastecendo-nos com o óleo do Seu Espírito, Jesus nos acende para que sejamos luzes no mundo, lâmpadas num alqueire.

O que João diz é evidente por todo o Novo Testamento, quando começamos a buscar por isso. Quase tudo que as Escrituras dizem sobre Jesus é também dito sobre os Seus discípulos que se tornaram como Ele pela obra do Seu Espírito. Ele é o Filho, nós somos filhos. Ele é o Rei, nós somos reis e sacerdotes nele. Ele é a pedra angular do novo templo, somos todos pedras vivas. Ele é o lugar de habitação de Deus, o Espírito habita em nós também. Ele está no Pai e o Pai Nele, mas pelo Espírito eles habitam em nós e nós neles. Ele é Ungido pelo Espírito, mas nós somos ungidos pelo mesmo Espírito. Ele morreu e ressuscitou, nós morremos e ressuscitamos nEle. Em suma: “qual ele é, somos nós também neste mundo”.

Jesus veio e foi embora. Ele apareceu e desapareceu. Mas a Epifania do Filho não é efêmera, mas permanente no Pentecostes. Ela é densa e sólida como a carne, tão tangível como a carne de Cristãos Chineses reunidos em segredo para adoração, tão substancial como Cristãos Nigerianos sofrendo com alegria nas mãos de perseguidores muçulmanos, tão ofuscantemente visível como freiras cuidando de crianças deficientes numa favela Indiana.

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