Jesus Cristo, e Este Crucificado

Peter J. Leithart

Bruno Pasqualotto Cavalar
Basileia
6 min readMar 30, 2018

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Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. (1 Cor 2:2)

Paulo decidiu não saber nada, senão a Jesus e a cruz. Isso é suficiente? O que é a cruz? Ela é grande o suficiente para preencher o universo?

A cruz é a obra do Pai, que deu o Seu Filho em amor pelo mundo; a cruz é a obra do Filho, que não se apegou ao ser igual a Deus mas deu a Si mesmo numa morte vergonhosa; a cruz é a obra do Espírito, através de quem o Filho oferece a Si mesmo ao Pai e é derramado pelo lado traspassado do Filho glorificado. A cruz demonstra a altura e a profundidade e a largura do eterno amor Triúno.

A cruz é a luz do mundo; na cruz Jesus é o firmamento, mediando entre o céu e a terra; a cruz é a primeira das árvores frutíferas, e na cruz Jesus brilha como a brilhante estrela da manhã; na cruz Jesus é o doce incenso subindo até o céu, e Ele morre na cruz como o Verdadeiro Homem que traz o descanso Sabático de Deus.

Adão caiu por uma árvore, e por uma árvore ele foi salvo. Numa árvore Eva foi seduzida, e por uma árvore a esposa foi restaurada ao seu marido. Numa árvore, Satanás derrotou Adão; numa árvore, Jesus destruiu as obras do diabo. Numa árvore o homem morreu, mas pela morte de Jesus nós vivemos. Numa árvore Deus amaldiçoou, e através de uma árvore essa maldição deu lugar à uma benção. Deus exilou Adão da árvore da vida; numa árvore o Último Adão suportou o exílio para que pudéssemos herdar a terra.

A cruz é a árvore do conhecimento, a árvore do julgamento, o lugar do julgamento deste mundo. A cruz é a árvore da vida, cujas mudas plantadas pelo rio da nova Jerusalém produzem a cada mês o seu fruto e folhas para a cura das nações.

A cruz é a arca de madeira feita por Noé, o refúgio para todas as criaturas da terra, a garantia de uma nova aliança de paz e da restauração de Adão. A cruz é a arca que carrega Jesus, o maior Noé, com toda a sua casa, através do dilúvio e do batismo da morte para a segurança da nova criação.

A cruz é a oliveira de Israel na qual o Verdadeiro Israel morreu por causa de Israel. Por gerações, Israel adorou a ídolos debaixo de toda árvore verde. Israel derrubou árvores, queimou a madeira como combustível, e moldou o resto em um ídolo para adoração (Is. 44). Nos últimos dias, o idólatra Israel derrubou árvores, queimou a madeira como combustível, e moldou o resto numa cruz. A cruz é o clímax da história de Israel, no modo em que os líderes de Israel se juntam para escarnecer, como seus pais haviam feito, seu Rei longânimo.

A cruz é a árvore do império, onde Jesus é executado como um rebelde contra o império. Ela é a árvore da Babilônia e de Roma e de todos os principados e potestades que não querem outro rei senão César. Ela é a árvore do poder que gerou inumeráveis cruzes para executar inumeráveis mártires. Mas a cruz é também o estandarte imperial da Quinta Monarquia, o reino de Deus, que cresce até se tornar a maior de todas árvores da floresta, repouso para as aves do céu a as feras do campo.

A cruz é o cajado de Moisés, que dividiu o mar e levou o povo de Israel à seco através dele. A cruz é a madeira jogada nas águas de Mara para tornar água amarga em água doce. A cruz é a haste sobre a qual Moisés ergueu uma serpente no deserto, como Jesus foi erguido para atrair todos os homens a Si mesmo.

A cruz é a árvore de maldição, pois maldito todo aquele é pendurado no madeiro. Na árvore da maldição foi colocado o padeiro chefe do Egito, hoje a árvore da vida. Na cruz da maldição foi pendurado o rei de Ai e os cinco reis do Sul; mas agora o rei da glória, o maior filho de Davi. Na cruz da maldição foi pendurado Hamã, o inimigo que buscou destruir Israel; mas agora o salvador de Israel, Aquele maior que Mordecai. Jesus leva sobre si a maldição e o peso da aliança para levar para fora a maldição.

A cruz é a arca de madeira da nova aliança, o trono do salvador exaltado, o baú do tesouro selado mas agora aberto amplamente para exibir os dons de Deus: Jesus o maná que desceu do céu, Jesus a Palavra Eterna, Jesus o cajado germinante. A cruz é a arca em exílio entre os filisteus, sendo conduzida em triunfo mesmo em território inimigo.

Jesus havia falado contra o templo, com os seus painéis e pilares feitos de cedro do Líbano. Ele predisse que o templo seria cortado e queimado, até que não ficasse pedra sobre pedra. Os líderes do templo haviam feito do templo mais um ídolo de pedra e madeira, e permaneceram assim, mesmo à custa de destruírem o Senhor do templo. Ainda assim, a cruz se torna o novo templo, e no Calvário o templo é destruído para ser reconstruído em três dias, onde judeus e gentios se unem em adoração. A cruz é o templo do profeta Ezequiel, de onde flui água viva para renovar o deserto e refrescar a água salgada.

A cruz é a madeira no altar do mundo onde é colocado o sacrifício para acabar com todos os sacrifícios. A cruz é a madeira onde Jesus é queimado em amor por Seu Pai e por Seu povo, o combustível da Sua ascensão em fumaça como um cheiro suave. A cruz é a madeira nas costas de Isaque, subindo Moriá com seu pai Abraão, que crê que o Senhor proverá. A cruz é a madeira de cedro queimada com fios de escarlate e hissopo para a água da purificação que limpa da poluição da morte.

A cruz é plantada numa montanha, e Gólgota é o novo Éden, o novo Ararat, o novo Moriá; é o maior Sinai, onde Yahweh exibe Sua glória e pronuncia Sua palavra final, uma palavra melhor que a palavra de Moisés; ela é maior que Sião, a montanha do Grande Rei; ela é o climático monte da transfiguração onde o Pai glorifica o Filho. O Calvário é o novo Carmelo, onde o fogo de Deus caiu do céu para consumir o altar vivo de doze pedras para libertar as doze tribos, e transformá-las em pedras vivas. Plantada no topo do mundo, a cruz é uma escada para o céu, com anjos subindo e descendo sobre o Filho do homem.

A cruz rasga Jesus e o véu para que através da Sua separação Ele pudesse destruir o muro divino que separava Yahweh do seu povo e o Judeu do Gentio. A cruz estende-se para abraçar o mundo inteiro, alcançando até os quatro cantos da terra, os quatros ventos do céu, os pontos do bússula, desde o mar até o Rio e desde Lebo-Hamate até o ribeiro do Egito. É a cruz da realidade, o símbolo do homem, esticando-se, como o homem, entre o céu e a terra, distendido entre passado e futuro, entre o interior e o exterior.

A cruz é o ponto crucial, a encruzilhada, o nó torcido no centro da realidade, para onde leva toda a história anterior, e de onde flui toda a história subsequente. Por ela sabemos que toda a realidade é cruciforme: o amor de Deus, a forma da criação, o labirinto da história humana. Paulo decidiu não saber nada além de Cristo crucificado, mas isso era suficiente. A cruz era tudo que ele sabia na terra; mas conhecendo a cruz, ele, e nós, sabemos tudo o que precisamos.

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