Luz das Nações

Uma reflexão sobre Isaías 60

Bruno Pasqualotto Cavalar
Basileia
7 min readJan 6, 2018

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por Peter J. Leithart

A Epifania é a temporada da luz. O evento específico celebrado durante a Epifania é a visita dos magos ao Cristo bebê, mas sempre entendeu-se que os magos eram os primeiros frutos das nações. Os magos foram atraídos a Cristo pela luz no céu, uma estrela que fracamente revelava a luz maior, que era o próprio Cristo.

Essa é, precisamente, a profecia de Isaías 60. A luz que atrai as nações é a luz que Deus é. A glória de Yahweh que vem sobre Israel é a nuvem resplandecente e luminosa que guiou Israel no deserto, a nuvem espessa que estava entronizada sobre os querubins no templo e no tabernáculo. Quando essa luz vem, ela brilha sobre Israel.

A luz que habita em Israel irá atrair as nações da terra. “As nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o resplendor que te nasceu.” Quando as nações se encaminham para a luz que é Sião, eles trarão os filhos e filhas de Israel com eles. Yahweh não deixará Seu povo no exílio. Ele os trará de volta, e, quando eles vierem, serão trazidos pelos reis e nações dos gentios.

As nações não apenas trarão os exilados de Israel de volta. Eles também trarão presentes consigo. Isaías visualiza uma caravana de camelos montados sobre as planícies de Midiã, Sabá, Kedar e outras terras distantes. Eles trarão ouro e prata, ovelhas e carneiros, cedros do Líbano e ciprestes, zimbros e outras árvores. Eles trarão tanto consigo que os portões de Sião terão que permanecer abertos o tempo todo, porque haverá uma procissão contínua de bens chegando na cidade.

A referência à Sabá, e à caravana de camelos, nos lembra da Rainha de Sabá que visitou Salomão. Isaías visualiza um retorno futuro à glória Salomônica, quando não apenas Sabá mas todos os reis da terra virão para Jerusalém para obter sabedoria de Salomão e ver suas conquistas e tesouros.

Quase tudo que as nações trazem é usado para o culto no templo. Eles trazem ouro, e ouro cobria o piso, os muros e os móveis do templo. Eles trazem incenso, e incenso é transformado em fumaça no altar de ouro do lugar santo. Eles trazem ovelhas e carneiros, não apenas como tributo mas para que esses animais sejam oferecidos como ofertas de ascensão no altar de Yahweh. A madeira que trazem provê o necessário para reconstruir o templo. Isaías é bem explicito com relação a isso. Os estrangeiros reconstruirão os muros de Sião, e glorificarão, adornarão, e reconstruirão o santuário do Senhor.

Existe uma profecia direta dos magos nessa passagem. Isaías diz que os reis que vierem à luz de Sião trarão consigo ouro e incenso. Ao trazê-los, os magos estão admitindo que Jesus é o verdadeiro templo, a habitação de Deus na terra. A estrela os leva para Cristo; a estrela os leva para a habitação de Deus na terra.

Estrangeiros edificarão os teus muros, e os seus reis te servirão; porque no meu furor te castiguei, mas na minha graça tive misericórdia de ti. […] Mamarás o leite das nações e te alimentarás ao peito dos reis … (Is. 60:10, 16)

Isaías promete a Israel que os reis das nações se tornarão servos de Yahweh e de Israel. Eles prestarão serviço sacerdotal à nação sacerdotal (v. 10). Reis se tornarão amas do povo de Deus (v. 16). Israel herdou uma terra que mana leite e mel; agora, reis se humilharão para suprir o que a terra um dia supriu.

Aqueles que se recusarem sofrerão ruína. Um dia os gentios desprezaram e abusaram o povo de Israel. Um dia, as nações foram instrumentos da ira do Senhor. Mas agora o Senhor irá fazer com que eles se curvem diante do Seu povo (v. 14). Eles homenagearão o povo do Senhor e reconhecerão que Jerusalém e Sião são a “cidade de Yahweh” e a Sião do Santo. Eles honrarão a Deus honrando a Israel.

Isso não é apenas uma restauração. A glória de Sião será aumentada. Todos os materiais usados no primeiro templo serão substituídos com materiais mais preciosos no novo templo. O bronze será transformado em ouro, o ferro em prata, a madeira em bronze, a pedra em ferro (v. 17).

Nada disso é mítico; muito disso acontece num futuro próximo de Israel. No começo de sua profecia, Isaías menciona o nome de Ciro, o rei Persa que enviou Israel de volta do exílio. Nabucodonosor da Babilônia os tinha levado para o exílio, mas os Persas eventualmente derrotaram os Babilônios e liberaram muitas das nações que haviam sido capturadas pelos Babilônios. Israel é uma dessas nações. Ciro envia os cativos com tesouros, promete a eles proteção, e os sustenta.

Ainda antes que Jesus viesse, Yahweh brilhava Sua luz entre as nações. Os reis gentios se tornaram servos dos servos de Deus, sacerdotes dos sacerdotes de Deus. Ele pretendia atrair as nações, e quando consideramos essa passagem e a história a qual ela se refere, nós percebemos que Ele já estava a cumprindo. Ele estava, de fato, realizando a salvação das nações na história.

Durante toda a passagem, existe uma ambiguidade entre a luz que o próprio Deus é e a luz de Israel. Ela começa já no primeiro verso: “Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do SENHOR nasce sobre ti.” O que é “a tua luz”? É a luz que Israel recebe? Ou é a luz que Israel é? É necessário que seja pelo menos a última por causa da exortação para que Israel “resplandeça.” Ela não deve ser apenas a recipiente da luz; ela não deve ser apenas iluminada. Ela deve receber luz para irradiar luz. Quando as nações caminham para a luz, eles vão para a luz de Yahweh, a luz que é Yahweh, mas eles também estão vindo para a luz de Israel, o “resplendor que te nasceu”, o resplendor de um novo dia que vem sobre Israel. Especificamente, Israel se torna resplandecente por causa da alegria que ela sente quando ela vê o retorno dos exilados (v. 5). Ela vê as tropas das nações e os reis vindo, carregando seus filhos perdidos, e o seu coração expande e sua face brilha.

De fato, existe um círculo inteiro aqui: a glória de Yahweh atrai as nações glorificando Israel; as nações trazem a sua glória para Sião; essa glória adorna e glorifica Sião, que atrai mais glória porque é gloriosa; a glória brilha e atrai mais glória, e a vida de Sião move de glória em glória e glória em glória.

A luz de Yahweh brilha para as nações, através do translúcido povo de Deus, e da Sua cidade reluzente. A luz de Yahweh alcança as nações porque Ele faz com que essa luz, que é Ele mesmo, seja disponível através de nós, através da igreja. A igreja, o corpo do Filho que é o resplendor da glória do Pai, irradia através da luz que é o Filho na luminosidade do Espírito.

Tudo isso é arrebatador, talvez um belo pensamento. Mas o que isso significa? O que significa para nós sermos a luz de Deus no mundo? Como a luz de Jesus brilha através de nós? Ela brilha nas nossas boas obras: “Vocês são a luz do mundo,” disse Jesus, “Portanto, deixem que a luz brilhe diante dos homens para que eles vejam as suas boas obras e glorifiquem o Pai que está no céu.” Os seus discípulos são a verdadeira Sião, o cumprimento da visão de Isaías. Nesse contexto, Jesus está falando sobre a nossa mansidão, nossa fome e sede por justiça, nossa misericórdia, nossa pureza de coração, manifestada nos nossos esforços para nos reconciliar com nossos adversários, nossa fidelidade sexual, nossa confiabilidade, nossa recusa em fazer vingança, nossas esmolas, oração e jejum. Todas essas são obras através das quais a luz de Jesus brilha para as nações.

Nós irradiamos a luz de Deus quando produzimos o fruto do Espírito da luz. Nosso amor é luz no mundo. Nossa alegria irradia no meio das trevas. Nossa busca pela paz é luminosa. Nós brilhamos a luz de Cristo quando vestimos a longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Nós somos luz quando expomos as trevas. Nós somos luz quando nos levantamos pela justiça e verdade na praça pública, no trabalho, nas nossas casas, nas igrejas.

Por outro lado, a ganância escurece a lâmpada do corpo, que é o olho, e faz com que nosso corpo inteiro esteja cheio de trevas. A ganância enfraquece a luz. Se cultuamos a Mamom, e colocamos nossa atenção na prata e no ouro, nós não recebemos a luz que nos ilumina. Nós não irradiamos a luz quando colocamos a luz debaixo de um alqueire, quando escondemos nossas obras, quando nos tornamos fariseus que fazem boas obras apenas para nossos amigos, e não para estrangeiros e inimigos. Nós enfraquecemos a luz quando cedemos à embriaguez, imoralidade sexual, dissensões, invejas. Se odiamos nossos irmãos, não somos mais luz e não andamos mais na luz.

A Epifania é uma temporada de luz. Ela celebra a vinda de Jesus como a luz do mundo, como a luz da revelação aos Gentios. Mas se pararmos aí, não compreenderemos o que Deus está querendo fazer no Seu mundo. Seu propósito sempre foi não apenas iluminar o mundo, mas nos exaltar, Seus filhos, como filhos da luz, como estrelas luminosas brilhando nas trevas, guiando as nações para a casa onde Deus habita.

Texto original: Light of the Nations

Tradução: Bruno Pasqualotto Cavalar

Revisão: Thais Lima

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