O convite do Evangelho

por James B. Jordan

Felipe Felix
Basileia
4 min readJan 13, 2019

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Raphael, “Miraculous Draught of Fishes”

Existe um apelo ao Evangelho? Para muitos Cristãos evangélicos, a resposta para essa pergunta é um definitivo “sim”. Alguns calvinistas, reagindo ao caráter confuso do “apelo”, parecem menos interessados em convidar homens a alguma coisa do que em enviar homens para casa a pensar sobre a mensagem que ouviram. A resposta a esse conflito está na compreensão de que o convite ao Evangelho é um convite à casa de Jesus, a cear com Ele. O instinto psicológico por trás do “apelo” está correto: os homens devem fazer alguma coisa e ir a algum lugar em resposta ao chamado do Evangelho. Uma resposta física, holística, com todo o corpo, é a resposta certa ao Evangelho. É uma perversão esconder a Ceia do Senhor e pedir dos homens uma resposta escondida, um movimento interior da “alma” ao chegar a Cristo. O evangelho Bíblico é endereçado ao homem inteiro, e é esperado que o homem inteiro responda.

Para vir até a casa de Jesus comer Sua ceia, a pessoa deve atravessar a entrada da casa. Essa travessia é o sacramento do Batismo. Nós não convidamos homens ao batismo; nós convidamos para entrar e cear, mas antes eles devem atravessar a entrada e serem batizados para que possam sentar-se. Na parábola da ceia do casamento (Mt 22:1–13), um homem aparece sem a vestimenta correta. Obviamente, que ele não passou pela porta, senão ele seria lavado e ganharia roupas novas. (Jo 10:1–9).

É interessante notar como a influência da filosofia grega esvaziou o sentido claro das Escrituras para boa parte da Cristandade. Em Apocalipse 3:20, por exemplo, Cristo pede para entrar na igreja para que Ele participe em Sua própria Ceia! Essa passagem, é lida, instintivamente, pela mente moderna como “pedir que Jesus entre em seu coração”, o que na verdade não tem nada a ver com a passagem. Apocalipse 3:20 está falando sobre a refeição da aliança.

Do mesmo modo, a parábola da festa de casamento (Mt 22:1–13) e toda a discussão do Evangelho em Lucas 14:1–24, assim como passagens como Isaías 55, são lidas como se fossem apenas sobre questões “espirituais” internas. De modo nenhum. O convite é para uma refeição real, uma refeição onde Cristo está presente como anfitrião. É para se comer comida real, comida física.

Desde o Jardim do Éden até a Árvore da Vida no livro de Apocalipse, compartilhar comida é um sinal da aliança entre Deus e Seu povo. Melquisedeque partilha vinho e pão com Abrão (Gn. 14:18). Deus partilha uma refeição com Abraão (Gn. 18). Quando Jacó e Labão fazem sua aliança, eles partilham uma refeição (Gn. 31:44–46). A refeição da páscoa era um sinal da aliança de Deus com Israel no Egito, e depois por todos os anos seguintes. No monte Sinai, quando Deus estabelece a aliança com Israel, Moisés e os anciãos comem com Deus (Ex. 24). Na festa dos tabernáculos, o povo deveria comer na presença de Deus e se alegrar (Dt. 14:22–27). No deserto, o povo comia maná e bebia água da rocha, ambos eram sacramentos de Cristo (Jn. 6; 1 Cor. 10:1–5). O leite e o mel da terra (casa) prometida eram símbolos da presença e da benção de Deus. E podemos dar muitos outros exemplos, sem falar das outras festas de Israel, e do sacrifício pacífico que a família compartilhava com o sacerdote e com o Senhor.

São todas essas refeições “espirituais”? Longe com toda essa baboseira grega internalizada! Claro que o que mais importa é a presença de Cristo, e a comunhão com Ele, mas Ele ordenou que a comunhão ocorresse em uma refeição. Ele nos convida para uma ceia toda semana, e nós decidimos comer com Ele quatro vezes por ano. Você acha que há a possibilidade de Ele estar ofendido? Ele convida Seus inimigos, no Evangelho, para comer com Ele, mas nós encorajamos homens a contemplar um Cristo ausente em suas almas. Será que nossa demonstração evangelística não está turva?

A Ceia do Senhor não é um mistério escondido do mundo. Muito menos um rito místico que deve ser mantido “especial” pelo cumprimento escasso. É tão simples como um jantar com Jesus, e muito mais profundo do que qualquer teólogo poderá entender.

A Ceia do Senhor não tem uma orientação exclusiva para o passado. É uma perversão Medieval focar apenas na morte de Cristo na Ceia do Senhor. A ênfase nas Escrituras é igualmente na presença ativa de Cristo na Sua Ceia e na profecia de que Ele retornará. A Santa Comunhão não é um evento mórbido, é uma festa. Que as igrejas a celebrem como uma festa, diante dos olhos do mundo, para que os não convertidos percebam a extensão total do que eles estão sendo convidados a participar.

Texto original: The Gospel Invitation

Tradução: Felipe Felix

Revisão: Leonardo Daneu Lopes

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