Pelo Espírito

Leonardo Daneu Lopes
Basileia
Published in
6 min readMay 21, 2018

Por Peter Leithart

The Pentecost — Louis Galloche

O primeiro Pentecostes significou muitas coisas, cumprindo muitos tipos, sombras, e profecias do Antigo Testamento.

Pentecostes marcou o início de uma nova criação, e uma nova humanidade. Assim como o Espírito pairava sobre as águas da criação original vazia e sem forma para preenchê-la e formá-la, também o Espírito de Deus soprou como um vento sobre os crentes ajuntados para formá-los nos filhos de Deus que reconstruiriam a criação. Assim como o Senhor Deus soprou o fôlego de vida sobre as narinas de Adão, também o Espírito sopra vida nos discípulos em Jerusalém para vivificá-los.

Pentecostes também é uma reversão do julgamento sobre a torre de Babel. Em Babel, o Senhor confundiu as línguas dos povos da terra, e as nações foram divididas e afastaram-se umas das outras. Pelo dom do Espírito, o Senhor opera outro milagre de linguagem, mas desta vez para reunir as nações. A assembleia em Jerusalém no primeiro Pentecostes incluiu homens de todas as nações sob os céus, e até o fim do capítulo estão todos unidos em um único corpo, através de um Espírito, compartilhando de um batismo, devotos a uma fé no único Salvador e Senhor Jesus. Através de um Espírito, a igreja se torna a única e verdadeira Nações Unidas.

Pentecostes é a vinda de Jesus em cumprimento de Sua promessa aos Seus discípulos. Enquanto se preparava para partir, Ele disse a seus discípulos que Ele não os deixaria órfãos, mas Ele próprio viria a eles. Ele vem no Pentecostes através da ação e do poder do Espírito. Apesar de Jesus estar ausente da igreja em corpo, Ele está verdadeiramente presente na igreja pelo Espírito, que forma a igreja e Seu corpo. Por causa do Pentecostes, Jesus permanece presente na terra através de Seu povo.

É lamentável que um grupo de Cristãos tenha monopolizado o termo “Pentecostal”. Mas é especialmente lamentável porque o que os “Pentecostais” querem dizer com Cristianismo “Pentecostal” ignora alguns dos principais temas do Pentecostes, algumas das principais obras do Espírito.

Ser Pentecostal hoje significa que você acredita que as pessoas ainda falam em línguas como os apóstolos falavam no primeiro século, ainda profetizam, ainda realizam milagres e curas espetaculares. Ser Pentecostal quer dizer que você quer reviver o fenômeno de Pentecostes — o vento impetuoso, as línguas de fogo nas cabeças dos apóstolos, os milagres das línguas, o enorme número de convertidos.

Para o Novo Testamento, estes espetáculos não estão no centro de Pentecostes ou do Cristianismo Pentecostal. 2 Coríntios 3 nos diz o que é central.

Paulo contrasta as duas alianças em termos de suas “escritas”. A antiga aliança tinha a lei nas tábuas de pedra; na nova aliança o Espírito escreve nas tábuas do coração humano, para que aqueles que recebem o Espírito obedeçam a lei. Ao mesmo tempo, Paulo introduz dois outros contrastes: As duas alianças se diferem em seus efeitos e se diferem em relação à glória.

Primeiro, os efeitos. De acordo com Paulo, Moisés era o mediador de um ”ministério de morte”. Isso era verdade no sentido em que a Torá, que estabelecia penas de morte para vários tipos de crime, monitorava a propagação de impurezas mortais com precisão clínica, não trazia vida, mas matava. Mas isto era ainda mais verdadeiro porque o judeus não seguiam a Torá. A Torá veio como um guia de vida, como um meio de trazer vida. Mas não o fez, porque Israel não a guardou. Tornou-se um ministério de morte. Em contraste, a nova aliança é uma aliança de justiça e portanto uma aliança de vida. A nova aliança vem com o Espírito que é o Senhor e doador da vida.

Segundo, a glória. Até o antigo ministério da condenação veio com glória (v. 7). Se este ministério veio em glória, o ministério de Paulo, que é um ministério de justiça, vem com glória ainda maior (v. 9–10).

Paulo descreve a superioridade da nova aliança através de uma complexa interpretação do véu que Moisés pôs em seu rosto (Êxodo 34: 33–35). Esta história acontece logo após o incidente do bezerro de ouro. Enquanto Moisés estava no montanha, Israel ficou impaciente por seu retorno e obrigou Arão a construir um bezerro de ouro para que se tornasse o foco da adoração e os liderasse como Moisés os estava liderando. Quando Moisés desceu da montanha, ele convocou todos os fiéis a destruir os israelitas idólatras, e 3000 pessoas morreram pela espada, a maioria pelas mãos dos Levitas.

Por causa do caráter teimoso de Israel, Yahweh disse que não iria mais estaria no meio deles. Se a Sua glória viesse sobre o meio dos israelitas, eles seriam destruídos. Moisés implorou a Yahweh que fosse com Israel para a terra, o que o Senhor prometeu fazer, mas Ele disse que não mais iria no “meio deles”. Moisés novamente implorou, e finalmente o Senhor cedeu e prometeu enviar Sua glória entre os israelitas. Mas a glória que estaria entre os israelitas era a glória refletida na face do próprio Moisés. O Senhor passou em glória perante Moisés, e então Moisés desceu da montanha brilhando com a glória de Yahweh, sua face brilhando como o sol.

É aqui que Paulo pega a história. Yahweh renovou a aliança, Yahweh deu novas tábuas de pedra a Moisés. Mas quando Moisés desce da montanha com o rosto reluzindo com a glória de Yahweh, o povo não consegue olhar para seu rosto. Eles estavam com medo. Eles ainda se lembram da ameaça de Yahweh, que a Sua glória os destruiria. Então, Moisés cobre seu rosto enquanto falava com os israelitas, mas o descobre quando ia para a tenda. Desta forma, ele se torna um mediador da glória de Yahweh, mas esta mediação estava obstruída pelo véu.

Paulo nos dá o motivo: “suas mentes estavam fechadas” (2 Cor 3:14). Enquanto os hebreus tinham mentes e corações fechados em vez de corações e mentes de carne, eles não podiam estar diante da glória de Deus. Eles não poderiam ter comunhão face a face com Ele. Paulo sem dúvidas quer que nós pensemos em outro véu — o véu que formava uma barreira entre Israel e a glória entronizada no Santo dos Santos. Este véu também era um resultado do endurecimento de coração de Israel. Os judeus do tempo de Paulo (e dos nossos) ainda lêem Moisés por este véu. Enquanto eles ainda viverem sob a letra eles são incapazes de receber Moisés.

O que remove o véu é o arrependimento, se voltar ao Senhor Jesus (v. 16). O Senhor a quem alguém se volta é o Espírito que traz liberdade (v. 17). No contexto, Paulo deve estar dizendo que “se voltar ao Senhor” resolve os problemas da “dureza de mente”. Quando alguém se volta ao Senhor que é Espírito, então a mente e coração são renovados para que possa estar face a face com a glória de Deus. O resultado do dom do Espírito é uma renovação da glória de Deus em Jesus, sem nenhum véu, e portanto nos capacita a sermos transformados na ”mesma imagem” de Cristo de glória em glória (3:18). Isto, Paulo diz, é uma nova criação, o brilho da luz na escuridão original (4:6).

Para Paulo, Pentecostes faz toda a diferença. Por causa de Pentecostes, seu ministério “escreve” sobre tábuas de corações humanos, porque ele ministra o Espírito aos Coríntios. Por causa de Pentecostes, a nova aliança é a aliança de justiça e vida em vez de uma aliança de condenação e morte. Por causa de Pentecostes, aqueles que se voltaram para o Senhor que é Espírito podem ficar diante da glória de Deus, ver a glória de Deus na face, e ser transformados na imagem da glória.

Pentecostes faz toda a diferença. Isto soa maravilhosamente místico, mas o que quer dizer concretamente? Significa cumprir o propósito da lei, significa vidas agradecidas, contentes, e acima de tudo, obedientes. Este é o padrão em todas as cartas de Paulo. Cristo veio para morrer e ser levantado novamente; o Espírito foi dado. E qual a conclusão prática?

Pessoas vivendo vidas pacientes, produtivas e em amor. Pais amando seus filhos e filhos amando seus pais. Maridos amando suas esposas e esposas demostrando respeito amoroso por seus maridos. Servos e mestres trabalhando em respeito e interesse mútuos. Pessoas produzindo os frutos do amor, alegria, paz, paciência, gentileza, bondade, fidelidade, gentileza, e autocontrole.

O primeiro Pentecostes foi espetacular — o vento impetuoso, as línguas de fogo, o milagre das línguas, as três mil conversões que são as primícias da colheita das nações. Os efeitos de Pentecostes não são todos espetaculares e impressionantes. Mas são miraculosos. O Espírito é dado para que possamos viver vidas abundantes, alegres, obedientes; o Espírito é dado para que possamos ser inteiramente humanos.

Texto original: By the Spirit

Tradução: Leonardo Daneu Lopes

Revisão: Felipe Felix

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