Por Que Devo Me Unir a Uma Igreja?

Peter J. Leithart

Evandro Rosa
Basileia
5 min readJun 19, 2018

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A Igreja não está em bom estado. Praticamente toda semana ouvimos falar de outro proeminente líder Cristão que caiu em algum pecado escandaloso. Muitos pastores alimentam seus rebanhos com uma dieta de comida para bebês, se não com próprio veneno. Poucas igrejas celebram a Ceia do Senhor regularmente e poucos cristãos reconhecem sua importância.

Diante desses fatos, podemos fazer a pergunta do título deste artigo com máxima urgência: Deus realmente exige que eu me junte a uma Igreja local? Eu realmente preciso fazer votos formais de membresia da Igreja?

Acreditamos que a resposta para ambas as perguntas é SIM. Ser membro de uma congregação local da Igreja de Cristo não é uma opção. Os cristãos devem se unir a uma Igreja local, e sua efetividade como Cristãos é prejudicada se não o fizerem. A seguir, estão as razões bíblicas para se unir a uma congregação local.

Deus nos ordena a nos reunirmos para adorar diante dEle
No Antigo Testamento, os israelitas eram ordenados a se reunirem no santuário três vezes por ano para celebrar as festas (Êx. 23:14; Dt. 16:16). Além disso, eles se reuniam todos os sábados em uma “santa convocação” (Lv. 23:3). No Novo Testamento, o povo de Deus é novamente ordenado a se reunir para adorar seu Senhor (Hb. 10:25). Não há cristãos solitários na Bíblia; Deus sempre chama aqueles que Ele ama em um contexto de comunidade.

Deus nos ordena a nos submetermos à autoridade de Seus representantes, os presbíteros de uma Igreja local
Os apóstolos estabeleceram um governo organizado para a Igreja. A comunidade do povo de Deus é uma comunidade organizada. Paulo instruiu Tito a constituir presbíteros em cada cidade (Tito 1:5). Ao longo do livro de Atos, encontramos referências a esses governantes das Igrejas locais (Atos 11:30; 15:2; 16:4; 20:17). Hebreus 13:17 nos instrui a obedecer aos líderes que velam por nossas almas. Claramente, este verso refere-se aos presbíteros de uma igreja local. Se Deus quer que nos submetamos à autoridade de um governo local da Igreja, Ele certamente quer que nos unamos a uma Igreja local. Do contrário, quem vigia as nossas almas? Quem nos adverte quando tropeçamos?

Na Ceia do Senhor, temos parte com o corpo e o sangue de Cristo
Nós não temos vida em nós mesmos. Cristo é a nossa vida (Cl 3:4). Quem come a sua carne e bebe o seu sangue tem a vida eterna, e será ressuscitado, porque a sua carne é verdadeira comida e o seu sangue é a verdadeira bebida. Comendo a carne e o sangue de Cristo, nós permanecemos nEle e Ele permanece em nós (João 6:52–56). O pão que partimos e o cálice que bebemos na Mesa do Senhor é uma participação no corpo e no sangue de Cristo (1Co 10:16). A participação fiel na Ceia do Senhor é a fonte da nossa vida. Além disso, quando a Igreja come do único pão, ela apresenta a si mesma como um só Corpo.
Assim como a plena cidadania em Israel era marcada pela participação na Páscoa, a cidadania na Igreja Una é marcada pela participação na Ceia do Senhor.

A Igreja, através de seus líderes, tem o poder de admitir e excluir pessoas da Ceia do Senhor
Isso é demostrado no fato de que a mais séria censura da Igreja é a excomunhão, isto é, a exclusão da comunhão na Mesa do Senhor. Jesus deu aos apóstolos a administração das chaves do Reino (Mt. 16:13–20; 18:15–20). Esse poder foi concedido à Igreja e é exercido em nome de Cristo e em Seu lugar pelos tribunais de presbíteros da Igreja (1 Co 5:1–5; 6:1–4). Para comer da Mesa, é preciso ser admitido pelos presbíteros.

A Igreja é uma comunidade pactual
Quando Pedro descreveu a Igreja em sua primeira epístola, ele citou diversas frases do Antigo Testamento, todas descrevendo o relacionamento pactual entre Deus e Seu povo (1Pe 2:9–10). Assim como Israel se tornou o povo de Deus por meio do pacto no Sinai (Dt 5: 2–3), também a Igreja foi constituída povo pactual de Deus através do pacto selado com sangue no Calvário.

A admissão à comunidade do pacto é através de votos
Na Antiga Aliança, os Israelitas eram admitidos aos privilégios do pacto pela circuncisão e, na Nova Aliança, a admissão à Igreja é através do batismo. Tanto a circuncisão quanto o batismo são, entre outras coisas, votos de obediência a Deus e ao Seu povo (e.g., Atos 8:37).
Muitas pessoas hoje, no entanto, não permanecem na Igreja em que foram batizadas, e algumas passam anos sem serem membros de nenhuma Igreja. É apropriado, portanto, quando alguém se une a um novo corpo local, reafirmar publicamente os votos feitos no batismo.

Finalmente, para mostrar que essa visão a respeito da importância da membresia da Igreja é a visão Reformada, Calvinista e Presbiteriana, deixem-me terminar com duas citações:

Da Confissão de Fé de Westminster, XXV.II:

A Igreja Visível… consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação.

De João Calvino, Institutas IV.I.IV:

…uma vez que agora nosso propósito é discorrer acerca da Igreja visível, aprendamos, mesmo do mero título “mãe”, quão útil, ainda mais, quão necessário nos é seu conhecimento [da Igreja], quando não outro nos é o ingresso à vida, a não ser que ela nos conceba no ventre, a não ser que nos dê à luz, a não ser que nos nutra em seus seios, enfim, sob sua guarda e governo nos retenha, até que, despojados da carne mortal, haveremos de ser semelhantes aos anjos. Porque nossa fraqueza não permite que sejamos despedidos da escola até que tenhamos passado toda nossa vida como discípulos.

Jesus nos ensinou a orar: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”.
Devemos nos esforçar, portanto, não apenas para assegurar que nossos nomes estejam arrolados nos céus, mas também para tê-los inscritos nas portas da Sião terrena (Hb 12:23).

Fonte: Why Should I Join A Church
Tradução: Evandro Da Rosa

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