Todo Domingo é Domingo de Ramos
Peter J. Leithart
Quando Jesus entra em Jerusalém no Domingo de Ramos, tudo muda. Como Marcos conta, Jesus havia andado em segredo, ensinado em privado, evitando chamar atenção a seus milagres, e falando em parábolas codificadas. Ele cura um leproso, mas o alerta: “Olhe, não conte isso a ninguém” (Mc. 1:44). Pedro confessa que Jesus é o Cristo, mas Jesus o instrui a “não falar a ninguém a seu respeito” (Mc 8:30), e depois da transfiguração, Ele “lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos” (Mc. 9:9). É uma anti-campanha de relações públicas.
Jesus não procurou os centros de poder de Israel. Ele esteve no desprezado fim de mundo da Galiléia e nas periferias da terra. Ele não visitou Jerusalém nem o templo. Ele andou por toda a parte, sempre em movimento, mas sempre a pé.
O Domingo de Ramos, todavia, não foi um segredo. Jesus encena um advento para a cidade, aceita a aclamação da multidão, e segue direto para o templo. Até mesmo seu meio de transporte muda: Ele monta entronizado em um jumentinho, enquanto discípulos estendiam seus mantos e ramos de árvores pelo caminho. É uma cena de “teatro em praça pública” (David Garland), a realização autoconsciente da profecia de Zacarias 9, que nos fala da chegada de um rei conquistador a Sião. A hora de Jesus chegou, uma hora de confronto que ele sabe que levará a sua prisão, julgamento e morte.
Apesar de todo o espetáculo de sua entrada, o Domingo de Ramos termina em anticlímax. Ele é proclamado rei, mas não há coroação ou unção. Ele entra no templo, olha ao redor, então sai silenciosamente para passar a noite na vizinha Betânia. O anticlímax é parte do ponto. Quando Ele finalmente toma seu trono, trata-se de uma cruz.
No entanto, à medida que os eventos se desdobram no passar dos dias, se torna claro que o Domingo de Ramos não é exatamente tão anticlimático como parece à primeira vista. Apesar de não ser coroado como rei, Jesus assume o papel de sacerdote com sua análise do templo. De acordo com Levíticos 14, tanto casas como pessoas podiam contrair “lepra”. Para determinar se a casa estava contaminada, um sacerdote inspecionava a casa e então retornava depois de uma semana para ver se a infecção tinha se espalhado. Eventualmente, se a casa era leprosa, ela deveria ser demolida, “as pedras, as madeiras e todo o reboco da casa” (Lv 14:45).
A primeira visita de Jesus ao templo é uma inspeção sacerdotal, e quando Jesus retorna no dia seguinte, Ele encontra uma contaminação disseminada. O templo deveria ser uma casa de oração para todas as nações, mas Jesus acusa os Judeus de transformá-lo em uma casa segura para bandidos e ladrões. O templo deveria ser um refúgio para viúvas, mas as autoridades do templo devoravam as casas das viúvas (Mc 12:40–44).
Dessa vez Jesus age, dramaticamente, tombando as mesas dos cambistas e os expulsando. Em outra peça de teatro profético, Jesus encena a destruição da casa leprosa. Alguns dias depois, assentado no Monte das Oliveiras, Ele os alerta que em breve “não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada” (Mc. 13:1).
Como os outros escritores dos Evangelhos, Marcos entrelaça a narrativa da limpeza do templo com a história da figueira. Quando Jesus volta a Jerusalém no dia seguinte à sua entrada, ele procura frutos em uma figueira, não encontra nenhum e amaldiçoa a árvore. Na manhã seguinte, a árvore está “seca desde as raízes” (Mc. 11:20). É uma figura da destruição do templo, e Jesus imediatamente acrescenta um encorajamento sobre o poder da oração: “se alguém disser a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e não duvidar em seu coração, mas crer que acontecerá o que diz, assim lhe será feito” (Mc. 11:23). Esta montanha é o monte do templo, e o mar é o mar dos Gentios, que engolirá o templo poluído dentro de uma geração. Assim como a maldição de Jesus secou a árvore, as orações dos discípulos moverão montes de templo.
“Hosana! Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas!” Através dos séculos e hoje por todo o mundo, os Cristãos cantam a canção do Domingo de Ramos todo domingo. Por esta música, nós reconhecemos que Jesus o Rei veio entre nós. Jesus o Rei conquistador é também Jesus o Sacerdote inspetor, que veio para examinar o templo do Espírito que é Sua igreja. Se Ele descobrir que transformamos Sua casa de oração em um covil de ladrões, se Ele ver sangue de viúvas e órfãos em nossas mãos, Ele declarará nossa casa desolada e removerá nosso candelabro.
Todo domingo é Domingo de Ramos. Nós aclamamos Jesus com alegria, reverência, e temor, pois nosso Sacerdote é fogo consumidor.
Texto original: Every Sunday is Palm Sunday
Tradução: Thais Cavalar
Revisão: Bruno Pasqualotto Cavalar