A Jornada da Even3 do zero ao seu primeiro investimento

Leandro Reinaux
Bastidores Even3
Published in
9 min readMar 16, 2018

Resumo: lá vem textão, não foi fácil e nem foi rápido

Exatamente nessa semana o Linkedin recordou dos 4 anos do surgimento do que viria a ser Even3. Olhando pra trás é interessante compartilhar todos os aprendizados e etapas que passamos e retribuir ao ecossistema brasileiro tudo que pudemos aprender ao lado de pessoas fantásticas e programas de apoio.

Certamente não conseguirei recordar o nome de todos que nos apoiaram e contribuíram, mas tenho plena certeza que não chegaríamos muito longe sem esses apoiadores.

De onde partimos

Nosso primeiro “escritório”

Começamos com a demanda de um professor de educação física da UFPE, que possuía uma péssima experiência para organizar um congresso de médio porte, por ser um evento complexo e que envolve centenas de pessoas.

Começamos nos tempos extras de madrugadas e fins de semana, no escritório da foto acima, a atender essa demanda e entender mais a fundo as dores que esse professor passava. Após encerrar esse evento em 2014, analisamos melhor o mercado e percebemos, que apesar de existirem excelentes plataformas para eventos mais simples, os eventos técnicos e científicos não possuíam uma solução adequada e o Brasil possuía um mercado representativo de 280 mil eventos por ano em 2013 nesse formato.

Resolvemos então iniciar o MVP da Even3

MVP

Por trabalhar com poucos recursos financeiros, tempo limitado e resolver um problema complexo, nossa primeira versão foi ao ar em janeiro de 2015. O fato dos 3 fundadores possuirem perfil técnico agilizou o MVP e foi essencial nesse momento, mas o principal ponto foi 2 dos fundadores sairem dessa zona de conforto para estudar e trabalhar na parte de marketing, comercial e sucesso do cliente após essa primeira versão. 2015 foi sem dúvida um ano corrido pois a demanda a cada dia aumentava, o número de eventos cadastrados e realizados também.

Só tínhamos os tempos livres das noites e fim de semana para dar conta de tudo isso e uma base de usuários que ao final de 2015 já chegava a 50 mil pessoas e estavam ávidas por sugerir melhorias e manter um padrão de experiência de atendimento e relacionamento.

Ao final de 2015 chegamos a conclusão que não conseguiríamos manter esses padrões e atender a esse mercado se continuássemos trabalhando apenas nas horas extras e tivemos que decidir dar um salto de fé. Apesar dos números estarem aumentando, não estavam nem de perto de pagar as contas básicas dos fundadores para iniciar.

Salto de fé

Nos primeiros meses, após largar os empregos, ainda fazíamos alguns serviços extras para complementar as receitas e pagar as contas, mas o fato de se dedicar em tempo integral foi outro ponto essencial e de virada para a Even3. Outro ponto que aprendi de experiências anteriores é que os fundadores deveriam se organizar financeiramente para enfrentar pelo menos 1 ano de contas apertadas, caso não houvessem reservas pessoais isso poderia matar a startup facilmente.

Nesse estágio que as contas ainda não se pagam, muitos irão questionar o seu modelo e se realmente existe mercado, como realmente você se diferencia em relação aos concorrentes.

Posso dizer sem sombra de dúvidas que participar de programas de apoio, competição de pitchs e se candidatar a programas de aceleração e editais, vai ser a melhor fonte para levantar essas perguntas e dúvidas. Não espere que os jurados e bancas irão te dar essa respostas e muitas vezes a motivação irá lá pra baixo, pois mesmo dedicando tanta energia, dará a impressão que você tem algo cheio de problemas em mãos.

O melhor lugar para encontrar essas respostas é conversando com os seus clientes e prospects. Conversando com eles, você começará a entender a forma mais adequada de realizar a cobrança dos seus serviços, o que está ruim, o que está bom e o que é essencial para eles.

Comunidade de startups de Pernambuco

Ainda no final de 2015 participamos do Startup Next em Recife, programa na época apoiado pela Techstars, que rodou com o apoio de pessoas da comunidade do Manguez.al. Esse foi o primeiro contato dos fundadores com outros empreendedores mais experientes, que colocaram várias pulgas atrás da gente, sobre o modelo de negócio ser adequado, qual a estratégia de marketing e comercial que iríamos seguir?

Nessa época também participamos de várias competições em Campus Party, programas de editais de aceleração e apoio a startups, chegando a seguinte conclusão sempre:

Será que isso realmente faz sentido?

Nunca ganhávamos nenhuma competição ou éramos aprovados nos editais e concursos que fazíamos a submissão. Apesar dos números irem melhorando, sempre éramos questionados, que já existiam outras soluções para eventos e que não ficava claro, como iríamos fazer algo diferente, que o mercado acadêmico era complicado. Posso dizer sem sombra de dúvida que o início de 2016 também foi crucial, decidimos parar de fazer os serviços extras, nos dedicávamos aos editais, competições e só levamos pancada.

Quando você está num momento frágil as pancadas parecem doer mais

Decidimos seguir, pois sempre levamos em maior consideração a opinião dos clientes e sempre tivemos feedbacks positivos, deixamos esses feedbacks em primeiro plano ao invés das bancas e jurados. Os feedbacks das bancas e editais são importantes, mas posso dizer que o papel essencial está na mão do empreendedor de filtrar quais são os corretos e mais relevantes para a sua startup, opiniões e especialistas não irão faltar pela frente.

Após tanta pancada, decidimos fazer uma aplicação para o SEED MG que estava retornando na sua terceira rodada e admirávamos muito pelo ecossistema do San Pedro Valley e formato do programa que agregariam bastante a startup.

Seguimos bem nas etapas até a entrevista da última etapa e estávamos bem animados, até que chegou o dia do resultado e… não fomos selecionados mais uma vez. Realmente ficamos chateados, pois seria uma programa essencial para o momento que passávamos, de acelerar e dar visibilidade a um produto que já estava em pleno funcionamento. Até que em Maio recebemos uma ligação com um sotaque mineiro…

Aceleração

Indo de mala e cuia pra BH, Renato estava de ressaca depois do meu aniversário

11 de junho de 2016 embarcamos de ressaca após o meu aniversário para um período fantástico de 6 meses de aceleração em BH. Fiz um post bem interessante sobre essa etapa:

A experiência de ser acelerado pelo SEED

Além do texto gostaria de resumir alguns pontos que foram essenciais nessa etapa:

  • Dedicação total ao programa de aceleração: por estar longe da terra natal, nos fez concentrar e focar totalmente no negócio e programa e nos deu resultados fantástico.
  • Interação com outros empreendedores e startups: sem dúvida esse foi um ponto essencial, que fez resolver vários de nossos problemas de maneira mais rápida e nos preparar para problemas futuros que iríamos passar: contratação, investimento, ritmo e estratégias de crescimento.
  • O apoio financeiro do programa: nos permitiu fazer testes, contratações de serviços e reforçar a equipe, que até então era apenas composta dos fundadores.

Estruturando a base

Depois de muito suor, tinta e trabalho, finalmente tivemos o nosso primeiro escritório oficial

Voltamos para Recife ao final de dezembro de 2016 e por restrições de orçamento, tivemos que suar bastante até chegar nessa foto do escritório acima, mas a satisfação foi incrível. Nem mesmo acreditamos nesse resultado de ter feito por conta própria e com ajuda de pessoas próximas.

Entramos numa nova fase, que não havia mais o apoio financeiro do programa de aceleração e agora teríamos que lidar com vários custos fixos, agora começaria a história de verdade.

O programa de aceleração e a filosofia de construir algo orgânico e sustentável para um modelo de startup nos ajudou bastante, admiramos muito e seguimos como exemplo o pessoal do Basecamp com um fluxo de caixa positivo e sendo mais conservador, ao invés de sempre queimando caixa e buscando várias rodadas de investimento. Para nossa cultura de startup e mercado o primeiro cenário fez bem mais sentido e não condeno que trabalha da segunda forma, cada mercado tem suas particularidades.

2017 foi um ano de bastante aprendizado quanto a aumentar time, cultura e ser eficiente para dar conta do crescimento da demanda de mercado. Também foi interessante a volta do foco total a empresa, o programa de aceleração é muito importante para formação dos empreendedores, da startup e de abertura de mercado, mas requer muito tempo de dedicação.

Com o foco total entendemos mais a fundo o mercado acadêmico e técnico, mapeamos mais problemas no mercado e percebemos que não deveríamos ficar restritos aos eventos, mas sim abraçar outros problemas que os acadêmicos e técnicos estavam enfrentando.

Para construir essa plataforma mais ampla e ter mais abertura de mercado, mesmo estando com fluxo de caixa positivo, decidimos buscar a nossa primeira rodada de investimento.

Foi preparado um novo pitch deck e fluxo financeiro para mostrar aos possíveis investidores a visão que queríamos construir nos próximos 5 anos. Mais uma vez requisitei apoio de empreendedores mais experientes para se preparar pra uma temporada de um mês em SP, fico grato por ter sido recebido e ter ouvidos bons feedbacks de pessoas do próprio Manguez.al como Rodrigo Cunha da Neurotech e Luiz Gomes, que nos acompanham a bastante tempo, até mesmo empreendedores que admiro como o Fábio Seixas, que dedicaram tempo para nos passar sua experiência.

Me senti mais bem preparado para essa jornada, preparei minha mala e segui rumo a São Paulo, com algumas listas de investidores, fundos de VC e alguns eventos em vista.

Bati em diversas portas, conversei com várias pessoas e fundos de investimento e também coletei dezenas de feedbacks e vários nãos ou vamos conversar em breve. Parecia aquela sensação novamente que passamos antes de entrar no SEED, será que estamos realmente seguindo certo? Os números e clientes apontavam que sim e acabei retornando a Recife com algumas conversas em andamento mas nada concretizado.

Investimento

Após voltar para Recife acabamos recebendo um conexão e indicação de investidor para conversar. No primeiro contato, percebemos que ambas as partes iriam se beneficiar bastante, pois o investidor possuía vários contatos B2B estratégicos no nosso setor, portanto o investimento iria além de acelerar a construção da nossa visão, reforçar a nossa equipe no aspecto comercial.

As reuniões seguintes passaram a ser para entender o negócio mais a fundo e chegar em um acordo que fosse interessante para ambas as partes. Chegamos a um acordo para finalmente em janeiro de 2018 se concretizar e ser anunciado:

A matéria complete pode ser conferida no link: https://startupi.com.br/2018/02/plataforma-para-academicos-recebe-aporte/

Equipe + cultura + clientes = PESSOAS

Sem sombra de dúvidas eu poderia dizer que o ponto chave da construção da startup está relacionado a PESSOAS, desde os fundadores a formação de equipe, recrutamento, conversa com clientes e parceiros. Para que tudo isso aconteça de uma forma rápida e eficiente é necessário construir um ambiente que permita:

  • Aprender

Essa é uma atividade diária na startup para todos e se não estiver acontecendo algo está errado. Criamos a cultura desde o início dos fundadores e que se espalhou para as outras pessoas, de sempre buscar um novo livro, curso, notícias e eventos, para se atualizar sobre a sua área e na maioria das vezes, aprender coisas que nunca foram feitas antes na empresa.

  • Colaborar

Parte essencial para a resolução dos problemas é a colaboração e engajamento de todos, desde a participação na estratégia (OKRs) a execução e acompanhamento do dia a dia. Esse é um ponto crítico e nada simples de organizar, principalmente a medida que aumenta a quantidade de pessoas. Algo que facilita é ser sempre transparente com os dados, informações e problemas que estão sendo enfrentados, para que todos possam colaborar. Realizamos reuniões rápidas de acompanhamento diário e sempre canais de comunicação e ferramentas de colaboração disponíveis para todos.

  • Ter responsabilidade e motivação para trabalhar

Com todos colaborando de forma ativa, a responsabilidade e motivação virão naturalmente. A equipe percebendo que faz parte ativa de um todo e que está resolvendo e ajudando centenas de milhares de pessoas (em breve milhões), certamente estará motivada pra enfrentar esses desafios diariamente.

Carnaval 2018, ainda não conseguimos juntar com as novas pessoas para um nova foto

Olhando pra trás, apesar de todo o trabalho, fins de semana, madrugas e todo esforço para vencer as adversidades, em especial em Recife/Brasil, bate um grande orgulho de construir esse ambiente e impactar milhares de pessoas. Desde os clientes satisfeitos ao ambiente que permite ter uma equipe incrível e engajada, que visivelmente a cada dia cresce em todos os aspectos.

Abaixo, spoiler dos próximos capítulos ;)

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Leandro Reinaux
Bastidores Even3

Empreendedor na Even3 e entusiasta de inovação, tecnologia e startups.