Angelo Knorr, o primeiro presidente homossexual do Bayern de Munique

Rainer Pompermayer
bayernmunchenbr
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3 min readMar 31, 2021

Em 27 de janeiro deste ano, no “Dia da Lembrança” do futebol alemão, o Bayern de Munique se utilizou da Campanha “Nie Wieder! (“Nunca Mais) para uma causa diferente dos anos anteriores. Focando principalmente na luta contra a homofobia e a favor da diversidade.

A ação contra a homofobia contou as cores da bandeira do arco íris nas bandeiras de escanteio, luzes da Allianz Arena e na braçadeira de Manuel Neuer na partida contra o Hoffenheim.

Uma figura lembrada durante essa campanha foi Angelo Knorr, o presidente do clube no período de 1906–07, 1908–09 e 1910–13. Um dirigente extremamente importante para o clube e, infelizmente, muitas vezes esquecido.

Knorr era um químico localmente renomado desde sua formação e foi importantíssimo para o clube na época, sendo um dirigente extremamente à frente do seu tempo. Foi o primeiro diretor alemão a contratar um técnico inglês, também organizou amistosos contra times da terra da rainha e ainda foi um mentor de Kurt Landauer, que viria a se tornar um presidente do Bayern. Era admirado por todos no clube e em 1911 foi condecorado como membro horário.

Retrato de Angelo Knorr

Porém, em 1913, o então presidente foi preso pelas autoridades devido a “Um ato não natural entre pessoas do gênero masculino”. Angelo Knorr era homossexual e, na época, isso era considerado um crime dentro das terras do império alemão.

Nas semanas seguintes, diversos membros do clube, incluindo jogadores e diretores, foram interrogados pela policia. Mas, todos os questionados protegeram Knorr e, ao contrário do esperado pelas autoridades, falaram muito bem do homem, de suas conquistas e de suas modernizações dentro do Bayern.

O presidente atual, Hebert Hainer, declarou ainda mais sobre Knorr: “Ele desempenhou um papel importante no desenvolvimento do nosso clube. Somos gratos a ele até hoje. ”

Knorr e outros dirigentes na sede do clube em 1912

Infelizmente, apesar de tudo, Knorr foi preso, internado e testado psicologicamente. Também foi forçado a deixar tanto o comando do clube, quanto a cidade de Munique. Mesmo sendo solto em 1914 e com seu processo criminal sendo interrompido devido a um relatório psiquiátrico, nunca foi ressarcido de qualquer maneira pela perseguição ou pela prisão pelas autoridades.

Knorr foi humilhado e arruinado socialmente, nunca reconquistando seu status, seja como químico ou como dirigente de futebol. Chegou a ter um o casamento de conveniência com uma mulher pouco tempo depois, mas morreu aos 50 anos com depressão.

Assim como Kurt Landauer foi perseguido pelos nazistas, Angelo Knorr foi perseguido por “ser diferente” do que era considerado padrão na época pela sua orientação sexual. E, assim como Landauer, foi importantíssimo para o desenvolvimento esportivo do Bayern, especialmente em um momento que o clube era tão jovem.

Por isso, seja para honrá-lo como dirigente ou, muito mais importante, lutar contra a homofobia que perdura ainda hoje no meio do futebol, devemos sempre relembrar suas conquistas e sua luta em vida, assim jamais o esquecendo.

Fontes para o texto: FCBayern e MiaSanRot

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Rainer Pompermayer
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Bávaro fanático, baixista, mestre de piadas ruins e nerd inveterado.