Bayern, Dortmund e o chamado “mercado predatório”

Rainer Pompermayer
bayernmunchenbr
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4 min readFeb 16, 2021

Na última semana, com a confirmação da transferência de Dayot Upamecano para o Bayern de Munique, novas conversas sobre um “predador da Bundesliga” voltaram a circular. Depois, também tivemos o anúncio que Marco Rose, atual técnico do Borussia Mönchengladbach, irá para o Borussia Dortmund na próxima temporada, o que também provocou diversos apontamentos e críticas.

Em 2018 cheguei a fazer um post tentando desmitificar o mito do Bayern predatório na Bundesliga. Acredito que agora chegou a hora de analisarmos mais uma vez a situação do mercado na Alemanha, e também na Europa, para atualizarmos números e novamente deixar claro que nem Bayern, nem Dortmund, nem ninguém, são clubes hostis e maléficos com práticas desleais.

Upamecano é a mais nova contratação bávara dentro da Alemanha

Sabemos que toda vez que o Bayern anuncia algum jogador de destaque dentro da Bundesliga, escutaremos a velha conversa de que os bávaros buscam enfraquecer os rivais e a liga para se fortalecer. Porém, todos esquecem que isso é uma prática extremamente comum em qualquer país no mundo — inclusive na Alemanha — como podemos ver na tabela abaixo:

Na tabela, o número de contratações e, em parenteses, o valor gasto em milhões de euros

Apenas pelos números dos cinco principais clubes alemães nos últimos anos, podemos ver que em números de contratações, o Bayern fica acima apenas do RB Leipzig, que tem uma estratégia bem diferente que os outros quatro clubes — devido aos seus vínculos a Red Bull e a ter subido a primeira divisão alemã apenas em 2017.

Olhando para valores finais — um ponto às vezes defendido por algumas pessoas para a vilanização bávara — o Bayern ainda fica em terceiro, gastando quase a metade que o Borussia Dortmund gastou dentro da Alemanha.

E, até dentro a narrativa de que o Bayern sempre busca “enfraquecer rivais diretos”, cai por terra. Olhando para as últimas janelas de transferência, os maiores investimentos vieram de fora da Alemanha: em 17/18 foram Tolisso e Coman, em 18/19 tivemos Davies, em 19/20 Hernandéz e Coutinho e em 20/21, Sané e Roca.

Enquanto isso em Dortmund, o rival direto nos últimos anos e constantemente apontado como “vítima” no mercado: em 17/18 tiveram Toprak (Leverkusen), Phillip (Freiburg) e Dahoud (Gladbach), 18/19 foram Diallo (Mainz), Delaney (Bremen) e Wolf (Frankfurt), e em 19/20 tiveram o combo de Hummels (Bayern) , Schulz (Hoffenheim), Hazard (Gladbach) e Brandt (Leverkusen), todos jogadores titulares e importantes de concorrentes diretos dentro da Bundesliga. Isso, sem esquecermos de Marco Rose, técnico do Gladbach, confirmado essa semana.

No verão de 2019 o Borussia Dortmund contratou peças importantes de quatro concorrentes diretos, nem por isso foi demonizado ou criticado duramente

Isso quer dizer então que durante esse tempo todo seria o Borussia Dortmund o grande vilão da Bundesliga? Claro que não. Buscar jogadores dentro do próprio mercado é algo completamente normal e acontece em todos países. Costumando ser mais barato e com maior certeza de retorno. Ainda mais se considerarmos que, na Alemanha, cultura, idioma e clima são fatores que não são rápidos para se adaptar.

Dentro do próprio Bayern podemos traçar paralelos rápidos: a maioria dos jogadores que apresentaram resultados mais rapidamente foram contratações dentro da própria Alemanha, podemos comparar diretamente jogadores como Goretzka e Tolisso, Gnabry e Coman e, até mesmo, Pavard e Hernandéz.

Mesmo olhando fora da Alemanha, essa pratica também é extremamente comum. Só analisarmos casos como Barcelona, Liverpool, Manchester City, Juventus, etc:

Na tabela, o número de contratações dentro do país e, em parênteses, o valor gasto em milhões de euros

Dentro dos nove clubes acima, Bayern é o terceiro que menos gastou e em número de contratações e é só terceiro que mais contratou jogadores dentro do próprio país. Isso demonstra ainda mais como é normal essa prática no mundo do futebol. Isso ocorre não apenas na Europa, no Brasil temos o Flamengo de 2019 como exemplo, guardadas as devidas proporções é claro.

De 2014 até 2018 o Liverpool contratou seis jogadores diretamente do Southampton

Além disso, é obvio que os melhores jogadores querem jogar nos melhores times e conquistar salários maiores, mas isso não significa que todos jogadores que se destacam dentro da Alemanha vão para o Bayern. Na última década temos diversos exemplos de jogadores destaque que saíram de seus times e foram para fora da Alemanha: Aubameyang, Gündogan, Xhaka, Werner, Havertz, De Bruyne, Özil, Thiago, ter Stegen, etc.

Como podemos ver, a prática de um clube buscar jogadores que se destacam dentro de sua liga é completamente comum e acontece em todos países no mercado atual. E já vai um aviso para aqueles que acham esse mercado desleal, com o Brexit no Reino Unido e a crise financeira pela pandemia, muito provavelmente a aquisição de atletas dentro do próprio pais irá aumentar ainda mais. Então, já é bom se informar mais para parar de espalhar besteiras pela internet e aceitar que é assim que o mundo do futebol funciona.

Dados e números tirados do site Transfermarkt.de

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Rainer Pompermayer
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Bávaro fanático, baixista, mestre de piadas ruins e nerd inveterado.