A Organização

Renata Kotscho
Bebendo a morta
Published in
3 min readJan 15, 2021

O brinde da semana vai para a leitura do ano de 2020 e para sua autora, a incrível Malu Gaspar.

O livro que me fez ótima companhia durante as férias, conta a história de como a política de satisfação do cliente (no caso, os políticos) era a principal tecnologia de gestão da maior empreiteira e maior petroquímica do país.

Uma história que foi alavancada pelo encontro de duas almas gêmeas, os bon-vivants Emílio Alves Odebrecht e Luiz Inácio Lula da Silva e depois destruída no reinado dos sucessores por eles entronizados, os anti-sociais Marcelo Bahia Odebrecht e Dilma Vana Rousseff.

A Organização é o personagem central do livro da Malu. A firma que, para sobreviver, volta-se contra os seus criadores e destrói as famílias que lhe deram vida. No drama, um dos laços mais fortes que o ser humano, entre um pai e seu filho, é despedaçado.

E a Malu conta essa história enroladíssima de um jeito ágil e sem nenhuma afetação. Ela vai narrando o desenrolar dos fatos, sem julgar, quase como se fosse uma história de ficção em um planeta inventado.

Enquanto isso, a gente vai lendo e se descabelando, porque sabemos que todos aqueles absurdos aconteceram de verdade na Terra Brasilis.

Bolsonaro diria que o livro tem muitas letrinhas. São 640 páginas que o Lula levaria 13 (ui*) dias para ler na prisão.

Malu é, perdão do trocadilho, organizada. Não sei como um ser humano pode ser capaz de conseguir montar esse quebra cabeça com tantas peças de bandidos e tramóias.

Se a gente fica meio zonza só de ler, imagina o trabalho que não foi apurar e depois amarrar toda essa balbúrdia.

A Malu faz parte das amigas de infância que eu ganhei de presente no ano passado. Além de gata, é a garota mais descolada da turma. E mesmo assim você nem fica querendo que ela tenha chulé, de tão gente boa que é.

Grande jogadora do time das meninas, não se aperta com a marcação dos rapazes pela esquerda ou pela direita. Dribla todos com ousadia e alegria. No relatório encomendado por Paulo Guedes, um dos seus perfilados, jogava na posição de Isentona Informativa. Craque demais.

Se escrever um livro já é um trabalho insano, imagina fazer isso em 2020, com filhos tendo aula em casa, outras reportagens, podcasts e ainda estar sempre em cima do lance, super bem informada sobre tudo e sobre todos. (na parte do sobre todos, me-ni-na, é que cada babado que ela conta).

Pensa que é só? A Malu ainda tem a melhor playlist de samba no Spotify e a melhor coleção de figurinhas do Whatsapp.

E a moça ainda tem outro super poder herdado da família: é capaz de diferenciar as cachaças bacanas das chinfrins em um teste cego. Que talento pra se invejar!

Para homenagear a nossa musa e voltar com tudo nas crônicas e drinks da semana, resolvi preparar um Old Fashioned de Cachaça. O Old Fashioned é um drink normalmente feito com uísque, açúcar, bitter de angostura e gelo. Para esta receita, troquei o uísque por cachaça, o açúcar por mel e enfeitei com açúcar mascavo na borda e casca de laranja. Doce, forte, sofisticado e brasileiríssimo.

Hoje eu queria mesmo sentar num boteco com a Malu para tomar cerveja estupidamente gelada, rir, chorar, abraçar e falar mal de homem. Mas enquanto isso não é possível, Cheers!

--

--

Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine