Appletini

Renata Kotscho
Bebendo a morta
Published in
3 min readMar 9, 2020

Três mulheres e um drink

A história do drink de hoje se passa na Nova Iorque da virada do século retrasado 1899–1900 (é amigos, o tempo passa). Katherine, uma jovem aspirante a jornalista, filha do Pulitzer, queria ganhar a vida escrevendo numa época que não era nem legal (no sentido jurídico da palavra) mulheres trabalharem nesta profissão.

Com este pano de fundo, a espevitada Katherine resolveu fazer uma reportagem sobre a greve geral que estava rolando na cidade. Sim, tinha um boy magia envolvido na intentona comunista da moça, quem nunca? Mas além dele, havia também uma ânsia de ser escritora profissional. Algo impensável especialmente para mocinhas ricas-cidadãs-de-bem da época.

Katherine entrou na minha vida no final do ano passado. Vou contar a história:

Em 2018, a caçula resolveu que queria porque queria fazer parte do musical da escola, uma montagem de Aladim. Ela, que de modesta não tem nada, se inscreveu para audição da protagonista da peça. Não levou. Tentou o coral. Não conseguiu também. Eu ainda sugeri que ela participasse da parte técnica, mas ela não quis. Queria palco.

O que fazer numa hora dessas? Quando um filho é rejeitado, mas continua sonhando? Nós resolvemos insistir. Sabe como é brasileiro, não desiste nunca. Então matriculamos a pequena em uma escola de canto que ensaiava também uma banda de rock. Assim ela ganharia técnica de voz e experiência.

O show de rock já foi um desbunde. Chorei ouvindo minha pequenina afinadíssima cantando “Sinner’s Prayer” da Lady Gaga dentro de uma escola particular católica (hahahaha). Glória a Deux. Que coisa linda! Mamãe desafinada não cabia em si de orgulho.

Fechando o parênteses, veio o musical desse ano, e a montagem era Newsies, a peça que tem como protagonista Katherine Pulitzer (a mocinha do começo deste post).

Katherine é um personagem ficcional, inspirado em Nellie Bly, o pseudônimo da incrível e cheia de surpresas, Elizabeth Cochran Seaman, que além de pioneira no jornalismo investigativo, também foi escritora, administradora e inventora. Péra que não acabou…também ficou conhecida por ter feito uma viagem de circunavegação em 72 dias, como no livro de Júlio Verne. Tudo isso lá pelos idos de 1880!

Bem, caçula se inscreveu novamente na audição.

“Qual papel você está tentando?” (perguntei, na esperança que ela estivesse menos metida a besta este ano, concorrendo para um papel coadjuvante qualquer). Doce ilusão.

“Vou tentar para Katherine, mãe”.
“Tem certeza, filha?” perguntei meio receosa, evitando lembrar que no ano anterior ela não tinha pegado nem o coral.
“Tenho mãe, esse papel é perfeito para mim!”

Adivinhem? Ela conseguiu!!

E desde então eu estou ouvindo essa menina cantar as mesmas músicas, dúzias de vezes por dia.

E dá-lhe:

🎶 Write what you know
So they say, all I know is I don’t know what to write
Or the right way to write it
This is big, lady, don’t screw it up 🎶

Como não amar?

A estréia é amanhã!!! Acho que vou explodir ❤

(não esquecerei de levar flores desta vez, fiquem tranquilos).

Em homenagem a Katherine e Elizabeth, o drink “preferido” da minha caçula: Appletini. Toda vez que eu faço, tenho considerar que terei uns “golinhos” roubados . É a base de vodka e licor de maçã verde, na proporção duas doses para uma, mais uma fatia da fruta para enfeitar.

Cheers!

Receita

Vodka e licor de maçã verde, na proporção duas doses para uma, mais uma fatia da fruta para enfeitar.

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Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine