SBellissima, Sophia

Renata Kotscho
Bebendo a morta
Published in
7 min readFeb 21, 2021

Que a musa da semana é estrondosamente linda todo mundo sabe. Mas que mulherão, signore e signori!

Sofia Villani Scicolone nasceu em 1934. Filha de Romilda, uma linda e ingênua adolescente que lecionava piano e sonhava ser atriz de cinema e Ricardo, um engenheiro trambiqueiro e galinha que enganou a moçoila fazendo-se passar por cineasta.

Assim que soube que Romilda estava de barriga, Ricardo abandonou a mocinha e não cumpriu suas promessas de levá-la ao altar e ao estrelato.

Filha de mãe solteira, Sophia teve uma infância bem pobre no Sul da Itália, situação que não melhorou quando Romilda teve uma recaída com Ricardo e engravidou de sua irmã, Maria.

Mas nada disso preparou a menina feinha e magrinha que era apelidada pelos colegas de palito de dente para os horrores que ela iria passar durante a Segunda Guerra Mundial.

Na Itália de Mussolini, a vila onde a menina morava foi bombardeada e ficou completamente destruída e sem comida. Sophia, a irmã e a mãe, passaram 5 anos tendo que enfrentar situações extremas para conseguir sobreviver.

A mãe e as meninas viviam em túneis como refugiadas sem um pai que pudesse protegê-las.

Finalmente a guerra acabou e a menina Sophia, agora uma pré adolescente de 11 anos, tinha como principal distração passar horas e horas nas salas de cinema vendo e revendo os filmes americanos em cartaz. Era apaixonada pelo galã Cary Grant.

Aos 15 anos, como acontece em qualquer conto de fadas, o patinho feio virou cisne e a menina desabrochou de uma hora para outra.

Percebendo o potencial da filha, Romilda inscreveu Sophia em um concurso de beleza. Sem dinheiro para o vestido de gala do desfile, a avó de Sophia pegou as cortinas da casa e costurou um modelito para a neta. Uma coisa bem Scarlet O’Hara na fase da penúria.

Sophia venceu o concurso e ganhou 35 dólares de prêmio e o mais importante: uma passagem para Roma.

Aos 16 anos, a menina bonita pegou o dinheiro e o bilhete e se mandou para a capital atrás de trabalho. A indústria cinematográfica estava renascendo no pós guerra e a mocinha esperava encontrar trabalho como atriz.

Começou fazendo pequenas pontas e figurações que mal davam para ela se sustentar.

Aos 18 anos sua vida mudou quando conheceu o cineasta Carlo Ponti. Embasbacado pela beleza de Sophia, Ponti decidiu que iria transformar a musa em estrela.

Foram vários testes, mas Sophia tinha uma presença tão absurda, que os diretores tinham dificuldade de encaixá-la na cena. Tudo era excessivo nela, alta, lindíssima, poderosa, sexy.

Bom, Carlo Ponti e Sophia engataram um romance, que seria perfeito não fosse um probleminha. O bofe era casado. (Como diz uma amiga minha, homem é igual a impressora. Se ainda não deu problema, um dia vai dar).

Pior para os pombinhos. As restritivas leis italianas, influenciadas pela igreja católica, proibiam o divórcio naquela época.

O medo de Sophia era repetir o destino de Romilda e não se casar. A esta altura, Sophia já era arrimo de família e conseguia alugar um apartamento de quarto e sala em Roma para onde trouxe também a mãe e a irmã para morar.

Com o tempo, a mocinha começou a fazer cada vez mais sucesso nas telas e a receber convites para encenar o papel de protagonista. Atingiu o estrelato na comédia L’oro di Napoli, interpretando uma pizzaiola pra lá de sexy.

A ano seguinte, 1955, foi considerado o Ano de Sophia pela imprensa italiana, ela tinha 21 anos.

Foi então que a Itália ficou pequena para Sophia e ela e seu amado Ponti resolveram que era hora dela expandir sua carreira para Hollywood.

Sophia começou a fazer aulas de inglês enquanto Carlo fazia contatos para apresentar sua estrela italiana aos produtores americanos.

Deu certo! O casal se mudou para a Califórnia e logo Sophia estava atuando em badaladas produções da Paramount.

Como num conto de fadas, Sophia teve a chance de contracenar com Cary Grant, seu crush de elevador desde a época em que ela era uma menina feia do vilarejo.

E mais do que isso, Cary Grant não só se apaixonou perdidamente e imediatamente por Sophia, como pediu a mão da moçoila em casamento ao final das filmagens.

Aí o coração da nossa musa balançou. (Imagina se o George Clooney himself te pede em casamento? Foi mais ou menos isso o que aconteceu com ela)

Carlo Ponti viu que a coisa estava ficando feia pro lado dele e resolveu mexer seus pauzinhos. Deu um jeito de arrumar um subterfúgio numa lei mexicana (aquele jeitinho latino que a gente conhece bem) e conseguiu finalmente contra-atacar as investidas do galã americano e levou a musa italiana para o altar.

Enquanto isso, a carreira de Sophia decolava na América. Uma cena no filme Boy on a Dolphin, em que ela levanta do mar usando apenas uma camiseta laranja molhada colada no corpo, virou icônica e tornou-se uma sensação no país.

Nessa época o moralismo ainda dominava as produções americanas que eram bem caretas se comparadas aos filmes europeus que já exibiam cenas bem mais calientes com as musas Anita Ekberg e Brigitte Bardot

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Tudo ia bem para Sophia e Carlo na América, até que o Vaticano decidiu condenar o casamento mexicano dos nossos heróis e eles foram acusados de bigamia por toda a mídia italiana.

Ao voltar para a Itália, como o casamento no México não era reconhecido no país, eles eram obrigados a morar em casas separadas.

Foi nessa época, em 1960, que aos 26 anos Sophia atuou em La ciociara. O filme conta a história de uma mãe e sua filha tentando escapar dos horrores da Segunda Guerra Mundial.

Carlo Ponti comprou os direitos do filme e começou a produção na Europa. Inicialmente o elenco contaria com a famosa atriz Italiana Anna Magnani que faria o papel da mãe, enquanto Sophia representaria a filha.

Mas a atriz veterana supostamente não quis aparecer na telona no papel de mãe da Sophia Loren, que acabou então fazendo o papel da mãe, com apenas 26 anos.

Pelo papel, Sophia foi indicada ao Oscar de melhor atriz. Certa de que não teria chances de ganhar, afinal era a primeira vez que a academia indicava uma atuação fora da língua inglesa para o prêmio, ela nem foi na cerimônia de premiação.

Foi acordada às 6:00 da manhã em Roma por um telefonema do amigo Cary Grant avisando que ela tinha ganhado o Oscar!

Continuou filmando na Itália onde engatou uma parceria de sucesso com Marcello Mastroianni e passou a ser considerada a atriz mais importante do mundo. A cena em que ela faz um strip tease para Marcello é de assistir de joelhos.

Mas pessoalmente a musa ainda não estava realizada. Sophia queria muito ser mãe e quando finalmente conseguiu engravidar, sofreu um aborto e perdeu o bebê.

Para tentar alegrar a musa, Ponti tentou novamente legalizar seu estado civil. Levou Sophia e a ex Juliana (não estou inventando) a tiracolo e foram os três para a França conseguir cidadania no país. Os neo-franceses então finalmente puderam divorciar-se segundo as leis da França e Sophia casou-se novamente com Ponti, dessa vez em Paris aos 31 anos.

Finalmente a ilicitude passou a ser reconhecida na Itália.

No ano seguinte Sophia sofre mais um aborto e é aconselhada pelos médicos italianos e não engravidar mais, pois teria risco de morte com uma nova gestação. Mas a moça não desistiu do seu sonho de ser mãe e foi atrás de um médico especialista suiço para ajudá-la a engravidar.

Deu certo! Quando soube da notícia, Carlo Ponti desmaiou de susto com medo de perder a mulher durante a gravidez. Mas ela fez repouso absoluto por nove meses e finalmente conseguiu dar à luz ao seu primeiro filho, Carlo Jr. Com o mesmo médico e mais nove meses de repouso, a danada ainda teve mais um filho, Edoardo, 5 anos depois.

Realizada como mãe e mulher de família tradicional italiana, Sophia diminuiu o ritmo da carreira e começou a fazer também trabalhos sociais. Junto ao ex-presidente dos EUA Jimmy Carter atuou para combater o abuso de crianças. Mais tarde foi nomeada embaixadora das Nações Unidas e atuou em missões na defesa das crianças da Somália e do Quênia.

Ela e Carlo Ponti ficaram juntos até a morte do cineasta em 2007, aos 95 anos.

Sophia continua atuando. Tem um mini documentário dela que acabou de sair na Netflix “O que Sophia Loren faria?” que é bem bonito.

Eu não consegui pensar em nenhum drink melhor do que vinho tinto para brindar a musa que costuma dizer “tudo o que você está vendo aqui eu devo ao espaguete” ainda mais depois que eu achei esse Chianti com o nome de outra musa, nossa

Cássia D’Aquino Filocre

aque fez aniversário esses dias mesmo

Saluti!

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Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine