Caipirinha de Pitaya

Renata Kotscho
Bebendo a morta
Published in
2 min readMar 9, 2020

Tô certa, ou tô errada?

Normalmente eu começo a pensar no drink da live durante o final de semana. Estava progamando para hoje um cocktail inspirado nas grandes espiãs que desafiaram o comando do Führer na segunda guerra mundial (quem sabe não fica para semana que vem?) quando fui atropelada pela Viúva Porcina.

Aliás, a minha cena preferida da novela Roque Santeiro é uma que ela aparece tresloucada dirigindo um jipe e passando por cima de tudo (são sempre bonitas, e imprevisíveis, as cenas em que as mocinhas assumem o volante).

Porcina era uma viúva fake ou “aquela que foi sem nunca ter sido” (rs) de Roque, um suposto herói da pequena e pacata cidade de Asa Branca, no Nordeste brasileiro. Roque teria tornado um bandido bom, um bandido morto, matando e morrendo no conflito com o meliante e salvando a igrejinha. Um cidadão de bem. Devido a sua abnegação, virou santo milagreiro (não riam porque no CV da Irmã Dulce alegaram até cura de unha encravada).

Pois bem, voltando ao Roque (Spoiler Alert, para os millennials mimizentos): o herói estava vivo e depois de 17 anos (demorô até que foi pouco) resolveu voltar para a cidade de onde havia fugido. E aí é aquela confusão na sessão da tarde, mas lembro bem que a viúva fogosa passa o rodo geral: no sinhozinho da cidade (ui*), no santo (óbvio), e no ator que fazia o santo (numa espécie de Bacurau que estava sendo rodado na localidade)

A diva lançou moda com seus turbantes, numa época que isso ainda não era considerado apropriação cultural e ainda ganhou um final a la Casablanca (quer mais chique do que isso?). Porcina foi a personagem mais poderosa da novela mais assistida da história de televisão brasileira.

A esperança é que Regina Duarte, mesmo tendo feito depois a insuportável da Raquel Acioli de Vale Tudo (#teamMariadeFatima), a chatíssima Maria do Carmo de Rainha da Sucata (credo), ter chegado ao que pensávamos ser o fundo do poço com a Helena de por amor (a louca que troca os bebês) e por fim ter atuado como ela mesma na campanha “eu tenho medo” do Serra….ainda tenha sobrado alguma força e alegria da Porcina que possa ser útil na secretaria da cultura.

Globolixo…please, reprise essa novela que foi censurada pela ditadura e mostre aos xóvens o que é bom e heróico na cultura brasileira. Nunca te pedi nada.

O drink que criei para homenagear Porcina é uma caipirinha de pitaya, fruta vistosa típica do nordeste mas que chega aqui na Califórnia através da Ásia, adoçada com mel de Tieta (eita, eita).

--

--

Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine