Gin Rickey

Renata Kotscho
Bebendo a morta
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2 min readMar 9, 2020

O drink preferido do meu escritor preferido: F. Scott Fitzgerald, que uma vez falou “primeiro você toma um drink, então esse drink toma outro drink, e por fim o drink toma você”. Quem nunca? A bebida é citada inclusive na obra prima do autor, O Grande Gatsby, na minha opinião o melhor livro da literatura dos EUA. Mas sou suspeita.

Tudo se passa nos anos 20, uma das décadas mais interessantes da história. O mundo vivia aquela empolgação entre o final da primeira guerra e a grande depressão. Foi nessa época que o movimento sufragista deu frutos e as mulheres finalmente conquistaram direito ao voto. As mocinhas rebeldes eram chamadas de melindrosas, flappers em inglês, vestiam saias bem curtas, jogavam fora o espartilho, cortavam o cabelo acima dos ombros e, claro, ouviam e dançavam provocativamente jazz, que começava a fazer sucesso com o grande público naquela época, que ficou conhecida como a Era do Jazz.

Ironicamente, foi também o período da prohibition, no qual a venda e o consumo de bebidas alcoólicas não eram permitidos nos EUA. Mas como sabemos, apesar de nunca aprendermos, tem coisa que não adianta proibir né minha gente?

O Gin era a bebida mais consumida na época, mas não era esse destilado chique de cereais e especiarias que a gente conhece hoje e sim uma versão muito mais tosca chamada bathtub gin, ou gin da banheira. Uma mistura de álcool de cereais, água (da banheira), glicerina e especiarias. Muitos coquetéis foram inventados exatamente nessa época para disfarçar o gosto ruim desses destilados de baixa qualidade vendidos no mercado negro.

Só gente ryca, que tinha acesso a “gin do bom”, conseguia consumir a bebida mais pura, in natura. É por isso que o Gin Rickey, o cocktail servido na casa de Daisy Buchanan, a musa patricinha de Gatsby, é bem simples: leva apenas gin, club soda e limão.

Mesmo quem não acha esse o melhor livros de todos os tempo irá concordar que até hoje não escreveram um parágrafo final melhor do que esse aqui: “Gatsby acreditou na luz verde, no orgiástico futuro que, ano após ano, se afastava de nós. Esse futuro nos iludira, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços… E, uma bela manhã… E assim prosseguimos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado.”

Cheers!

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Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine