Para ser feliz é preciso ter coragem

Renata Kotscho
Bebendo a morta
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2 min readMar 5, 2021

Claudionor Viana Teles Velloso (sim, com dois “Ls”, o nome do seu filho mais ilustre é que foi um erro do escrivão), o brinde de hoje vai para ela, Dona Canô. A mãe de dois dos melhores frutos do Brasil só poderia ser uma mulher muito especial.

Nascida em Santo Amaro, na Bahia, em 1907, Claudionor desde muito pequena mostrava-se uma menina esperta e curiosa. Logo foi apadrinhada pela dona de um Engenho que educou a menina na Casa Grande mostrando a ela os grandes clássicos da música, das artes e da literatura.

Mocinha culta, casou-se com José Teles Velloso, seu Zeca, funcionário concursado dos Correios, com quem teve além de Caetano (que foi vacinado hoje, amém!) e Bethânia outros 6 filhos, sendo duas filhas de criação.

Festeira, as comemorações do seu aniversário eram um acontecimento na Bahia, quando ela fazia questão de reunir toda a família e muitos amigos. E cozinhava bem a danada.

Suas receitas foram organizadas pela filha escritora, Mabel Velloso, no delicioso livro “O sal é um dom”, onde a gente encontra o melhor da culinária baiana: moqueca de peixe, frigideira de siri, bolo de aipim (estou aguando aqui de longe, só de pensar).

Sempre tranquila e acolhedora, jamais levantava a voz nem mesmo para a penca filhos, a matriarca mantinha a casa da família sempre aberta.

Políticos de tudo quanto é seita ou facção, celebridades e até turistas eram recebidos para um café para ouvir as histórias da Dona Canô.

Tornou-se também uma espécie de embaixatriz da sua terra, Santo Amaro da Purificação, e liderava campanhas para trazer melhorias para a cidade.

Muito liberal e tolerante, bem antes de virar modinha, Dona Canô costumava dizer que não esperava ter filhos famosos, mas sempre deu liberdade para eles se expressarem e experimentarem enquanto cresciam. “Para ser feliz é preciso coragem, costumava dizer”.

Frase parecida com o que escreveu outra musa, Clarice Lispector em Um Sopro de Vida, seu último Romance, publicado apenas após a sua morte:

“Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. Tenho coragem mas com um pouco de medo. Pessoa feliz é quem aceitou a morte. Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me.”

Para brindar Dona Canô eu fiz uma batida de coco com branco que Dona Canô sempre usava. Em uma coqueteleira, junte 100 ml de cachaça, 100 ml de leite de coco, 1 colher de sopa de leite condensado, cubos de gelo feitos com água de coco, chacoalhe bem e sirva, por cima uma pitada de pó de canela.

Saúde!

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Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine