Quando eu sou boa, eu sou muito boa. Mas quando eu sou má, eu sou melhor ainda.

Renata Kotscho
Bebendo a morta
Published in
4 min readApr 9, 2021

Depois da tragédia que foi a vida da musa da semana passada, Edith Piá, coitada, continuou sofrendo até depois de morta e enterrada e deve ter se revirado no túmulo com a interpretação do marreco Serjomoro, essa semana eu resolvi fazer um contraponto e homenagear uma diva que se divertiu nesta vida. Como vocês: Mary Jane West.

Atriz, cantora, roteirista, comediante e sex symbol, tudo isso sem ser especialmente bonita, Mae West era um arraso.

Novaiorquina do Brooklin, a menina Mary nasceu para os palcos e incentivada pela mãe, uma modelo de catálogo, começou a se apresentar cedo na igreja aos 7 anos.

O restante da família, imigrantes da região da Bavária e especialmente o pai, um policial alemão durão, torciam o nariz para as pretensões artísticas da menina.

Mas ela era um furacão indomável e depois de ter vencido vários concursos locais do tipo “show de talentos” foi descoberta aos 18 anos pelo The New York Times.

O ano era 1911 e a jovem estava estreiando sua primeira peça na Broadway, escrita e estrelada por ela, que fazia imitações de homens com sua voz contralto. (Ui* aquela rouquidão irresistível).

Foi no mesmo ano que casou-se com Frank Wallace, um dançarino da sua peça. Nunca moraram juntos e apesar de na prática o romance ter durado apenas alguns poucos dias, o estado civil da moçoila permaneceu como casada por 33 anos, quando oficialmente se divorciou

Depois da estreia retumbante, Mae continuou fazendo sucesso na Big Apple com suas falas risqué.

Mas estourou mesmo em 1926, aos 33 anos, quando escreveu, produziu e dirigiu a peça SEX. Para começo de conversa teve dificuldade de convencer o dono do teatro a exibir o letreiro com o nome da peça. (Que escândalo, o horror, o horror diriam os cidadãos de bem da época).

Os ingressos, claro, esgotaram rapidinho. Mas logo na primeira noite a polícia baixou no teatro para acabar com a balbúrdia e Mae saiu presa do palco acusada de “imoralidade e corrupção da juventude”

Ela poderia ter pago a fiança e saído de cana, mas resolveu aproveitar o acontecimento para se promover, até porque era tratada como rainha na delegacia. Quando foi liberada, 10 dias depois, estava ainda mais famosa.

“Se eu acredito na censura? É claro que eu acredito. Fiz fortuna com ela”, costumava dizer.

Com seu estilo menina má que escala o sucesso de erro em erro, Mae era um tipo não convencional de feminista. “Vivemos num mundo masculino e eu sou feliz por saber jogar esse jogo”.

Com tanto sucesso, o teatro ficou pequeno para Mae e a mudança para Hollywood foi natural.

O ano era 1932 e mesmo quase quarentona, chegou arrasando quarteirão aproveitando que agora o cinema era falado.

Escalou pessoalmente o quase estreante Cary Grant como seu parceiro de cena (nada boba ela) e com o sucesso estrondoso do filme “She done him wrong” (rs) ela literalmente salvou a Paramount da falência.

Mas a mina de ouro sabia muito bem seu valor e negociava seu salário igual macho. Chegou a ser a segunda pessoa (não mulher) mais bem paga dos Estados Unidos em qualquer área, atrás apenas do chefão do San Francisco Chronicle, William Randolph Hearst.

Sem precisar de nudez, palavrões e usando bem pouca violência, Mae transformou-se em superstar e grande musa inspiradora.

Controlava cada aspecto da sua imagem, só usava roupas que valorizavam suas curvas, vestia saltos e fazia topetes altíssimos para compensar sua baixa estatura.

Quando a câmara era ligada, só dava ela em cena. O golpe de sedução final vinha com o olhar. Mae encarava seu homem como se ele fosse o mais perfeito do mundo.

Cole Porter compôs para ela, Diego Rivera pintou, e F. Scott Fitzgerald escreveu. Enfim, a muié fartou-se nessa vida.

E no final da carreira ainda foi para Vegas fazer shows com strippers no melhor estilo clube das mulheres. Foi onde conheceu o dançarino Chester Rybinski.

Ela aos 61 anos, ele com 31 começaram a namorar e o moçoilo adotou o nome artístico de Paul Novak. Mesmo sem oficializar a união, continuaram juntos até a morte de Mae, aos 87 anos.

Para homenagear essa maravilhosa, eu resolvi preparar um drink risqué, à base de vodka, mel, gengibre e cannabis (a receita eu peguei na internet então vou deixar o link nos comentários). Dei o apelido de Maryjane

Cheers!

--

--

Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine