Spicy Moscow Mule
Pussy Riot!
O brinde de hoje vai para Nadya Tolokno, a líder do grupo de punk performático russo.
Formado logo após a terceira eleição do Putin (quando ficou claro que ele não deixaria a cadeira nem que a vaca tussa), a primeira performance do Pussy Riot já foi arrasadora: Invadiram a Catedral do Cristo Salvador de Moscou e, portando vestidinhos curtos, meias calças e máscara coloridas, tocaram uma música que dizia algo como “Virgem Maria por favor livrai-nos do Putin, Amém” (Glória a Deux!).
Por essa obra de arte, doravante considerada crime pela ditadura russa, Nadya foi condenada por “hooliganismo e ódio religioso” e enviada lá para os gulags.
Mas esta não foi a primeira performance da bela russa de aparência frágil que nos faz lembrar outra forte Nadya que encantou o mundo, a romena Comaneci, da ginástica olímpica.
Nascida na cidade industrial de Norilsk, a boa aluna Nadya mudou-se para Moscou para cursar artes e literatura moderna. Rapidamente engajou-se em movimentos de punk performático que faziam irreverentes e provocadoras apresentações surpresa pela cidade.
O seu primeiro grupo, o Voina art, ficou conhecido por uma performance no Museu Biológico de Moscou. Com o título “Fuck for the heir Puppy Bear!” os artistas fizeram sexo nus em um hall do museu denominado “metabolismo e energia dos organismos”. A ideia era protestar contra as novas políticas do presidente Medvedev que visavam estimular o aumento das taxas de natalidade. Nadya, estava em fase avançada de gravidez da sua filha Gera durante a performance, acabou chocando ainda mais os cidadãos de bem.
Mas voltando ao Pussy Riot, depois da icônica apresentação na Catedral, como já contei, Putin mandou Nadya para o xilindró. Na prisão ela trocava cartas com o filósofo esloveno Slavoj Žižek. Discutiam subversão artística, ativismo político e o futuro da democracia. Nas cartas, Nadya também denunciava os maus tratos nas prisões femininas do seu país, os trabalhos forçados que consumiam mais de 16 horas diárias e o sono reduzido de 3–4 horas por noite. Contava também as torturas, como a preferência dos agressores por bater na região dos rins e deixar as prisioneiras com pouca roupa expostas ao frio do inverno russo.
Ao sair da prisão, por pressão da anistia internacional antes dos jogos olímpicos de inverno de Sochi em 2014, Nadya passou a viajar denunciando o que viveu.
Em entrevistas ela revelou que sempre buscou a irreverência porquê na Rússia ou você tem humor ou você enlouquece rapidamente (parece outro país que nos obriga a beber). Ela contou também que a propaganda governamental russa quer fazer a população acreditar que as pessoas no ocidente estão perdidas e só pensam em fazer sexo oral e anal (um obsessão comum também entre os nossos governantes).
Triste coincidência, a primeira música em inglês do Pussy Riot tem como título “I can’t breathe”, a frase que define nosso 2020.
Inspirada pela arte, o sexo e a desobediência, Nadya encontrou sua forma pessoal de demonstrar insatisfação e combater babaquice autoritária dos machos men que nos perseguem.
Mas nem todo mundo é de se manifestar desse jeito e está tudo bem também. Cada um que use o seu talento para puxar o mundo para o lado da razão. Pode ser com ativismo de sofá, dando exemplo, denunciando injustiças, educando, cuidando, criando políticas públicas decentes ou até mesmo tirando os papéis de cima da mesa do Trump antes que ele comece uma terceira guerra mundial.
Eu não estou escolhendo quem vai nos ajudar a derrubar esses pulhas.
Citando Nadya : “Quando nos faltam forças para agir, é preciso encontrar palavras que nos inspirem. Por isso, lembre-se de um ponto fundamental: nada de deixar sua confiança arrefecer. O poder está nas suas mãos. Juntos, como comunidade ou como movimento, podemos fazer milagres. E faremos.”
Para brindar a moça fodástica um Moscow Mule apimentado. Esse eu fiz assim, 1 dose caprichada de vodka, suco de 1 limão, duas colheres de açúcar e 5 gotas de bitter de pimenta. Sem ginger beer, mas com gelo de pimenta malagueta pra enfeitar.
Cheers!