Steinhäger Tônica

Renata Kotscho
Bebendo a morta
Published in
2 min readMar 9, 2020

Martha Dodd takes Berlin

Berlim não é a cidade mais bonita, nem a maior ou a mais famosa, mas nenhum outro lugar tem uma história recente tão interessante. Afinal de contas, que outra cidade foi dividida ao meio por incríveis 28 anos?

Martha Dodd também não era linda, nem ficou muito conhecida, mas é uma das personagens mais interessantes que eu já tive notícia. Jovem jornalista aspirante a escritora, ela se mudou para Berlim junto com seu pai, nomeado embaixador americano na Alemanha por F.D. Roosevelt, durante o início do III Reich. A história dela e do pai é narrada em um baita livro chamado In the Garden of Beasts, de Erik Larson.

Quando chegou na Alemanha, Martha achou tudo lindo e não entendia a fama de mau que os germânicos tinham no seu país natal. Enquanto o pibão estava crescendo, ela confraternizava com os Nazis, namorou vários altos generais e vivia a sua rotina de intelectualzinha cool, totalmente alheia aos perigos crescentes do estado totalitário. Por pouco não teve um affair com Hitler. Enfim, vivia no país das maravilhas, como várias Alices que vemos hoje por aí.

Até que começaram a rolar umas coisas meio estranhas, como por exemplo, a família dela ter que esconder uma família judia no sótão da embaixada americana em Berlim. Nesse meio tempo, enquanto seus amiguinhos viravam monstros, Martha se apaixonou por um comunista russo (obviamente/merecidamente se fudeu) e acabou tornando-se espiã da União Soviética primeiro contra a Alemanha, depois contra seu país, os Estados Unidos. Morreu em 1990, aos 81 anos.

A Wikipédia diz que Martha é conhecida por ser “escritora, membra da resistência e espiã”. É ou não é um currículo admirável? Ela nasceu para ter uma vidinha tranquila e pacata de classe média americana e, involuntariamente, acabou tendo que enfrentar a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, in loco.

Tem uma frase do psicanalista Contardo Calligaris que meio que desgraçou minha cabeça mas mesmo assim eu vou compartilhar com vocês: “Não quero ser feliz. Quero é ter uma vida interessante”. Acho que é por isso que eu secretamente invejo Martha.

Para homenagear as nuances dessa personagem incrível, eu criei um drink com Steinhäger, que é uma variedade de Gin alemão, água tônica, limão espremido e amoras.

Prost!

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Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine