Whiskey Side Car

Renata Kotscho
Bebendo a morta
Published in
2 min readMay 22, 2020

La Dolce Vita

O ser humano já foi melhor, não é? Durante a quarentena, quando sobra um tempo, tenho me dedicado a desfrutar daquilo que nossa espécie fez de mais bonito. A estratégia é me cercar de beleza pra tentar compensar o horror.

Estou apreciando o que eu já conheço e tentando aprender mais do que não conheço sobre temas gostosos e divertidos: de música a culinária.

Um deles é o cinema, e por isso resolvi rever La Dolce VIta, que há décadas eu não assistia.

A musa protagonista do filme é a deslumbrante Anita Ekberg, no papel de Sylvia, uma estrela americana que está visitando Roma. No filme, a musa é perseguida pelo paparazzi Marcelo pelas ruas da cidade, interpretado pelo não menos deslumbrante, Marcello Mastroianni. Pensa num par perfeito na dimensão estética? Esse é um deles.

Anita Ekberg é na verdade uma personagem meio sem graça vista de longe. Foi modelo, miss Suécia e virou modelo-e-atriz em Hollywood. Faltava às aulas de atuação para ir andar `a cavalo. Não fez nada de muito relevante na vida além de ser linda.

Mas tinha personalidade. Quando perguntada, em uma entrevista, qual era o seu maior ativo, as peitcholas ou o cabelón, ela respondeu “a honestidade”. Uma honestidade principalmente consigo mesma.

Quando diziam que Fellini a tinha criado ela rebatia “Pelo contrário, eu que criei Fellini. A minha cena na Fontana di Trevi, que o tornou um cineasta conhecido.”

Já quando diziam que não era boa atriz, a bela argumentava “filmamos a cena da fonte no meio de janeiro, um frio pra sueca nenhuma botar defeito, e eu entrei lá gloriosa, como se estivesse me refrescando no meio do verão”. Irrefutável.

Curioso é que o filme de Fellini procurava ser exatamente uma crítica à burguesia romana no pós guerra: superficial, hedonista e incomunicável. A cara de Anita, que se mudou para Roma e adquiriu cidadania italiana depois do filme.

Essas atitudes fizeram com que a musa ganhasse o apelido de Ekberg, Iceberg, que ela repetia com certo orgulho.”Dizem isso só porque eu faço as minhas escolhas”. (uma coisa meio Renata, Ingrata, guardada as devidas proporções)

Para homenagear Ekberg decidi fazer um Whiskey Side Car (para tomar passeando de conversível bem acompanhada pelas ruas da cidade eterna, quando ela voltar a se abrir para os nossos sonhos de verão)

Faz assim
3 colheres de acúcar
Suco de 1 limão
2 doses de whiskey
1 dose de cointreau
Casca de limão para enfeitar.
Chacoalha com gelo, coa, e enfeita com o limão.

Salute!

PS: Vistam uma roupitcha “de sair” de vez em quando, mesmo sem necessidade. Faz bem. Brincar de faz de conta, é legal também.

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Renata Kotscho
Bebendo a morta

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine