sumindo

eu mesmo vi, os momentos de fragilidade, o irmão meu que ela carregava e que se foi, e as esperanças que se foram junto, já estávamos falando em tom alegre os possíveis nomes, como sería a família com a chegada de um pequeno. Falávamos de sobriedade, falávamos de novos caminhos. eu mesmo vi, as lágrimas não desceram com a notícia mas ela voltou a se jogar, não demonstrou sua dor através de sentimentos, ela resolveu se jogar onde sempre afundou. eu mesmo vi. eu mesmo escolhi estar ali, vi às vezes que ela não queria mais afundar, tentei jogar um pau que estava mais próximo para ela se agarrar. eu também vi às vezes que o estômago dela embrulhava e colocava o não tão farto banquete para fora, que com sacrifício ele conseguia arranjar, tudo para poder se afundar mais um pouco, eu vi, eu mesmo vi, mas nunca havia visto areia movediça como essa, que te faz querer ficar e que afundar junto a você os seus sonhos, os seus amores, que te faz delirar, se afogar nos próprios medos, nas mágoas e decepções, eu vi em seus olhos a ingenuidade de quem nunca foi ingênuo. às vezes eu não queria ver, mas vi. estive ali. o pau que havia jogado se partiu e eu quase caí, naquele momento ela era ou eu, mas eu saí. pedi licença, eu percebi que ela mesma se prendeu ali, e se eu continuasse, vendo e a ajudando ia ser eu quem ia cair e me afundar por inteiro antes mesmo dela

sumir.