O poder da transformação com a cultura Vale do Silício

Bela Pagamentos
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6 min readNov 20, 2017

Participei de uma imersão no Vale do Silício no mês passado. Organizado pela StartSe, o objetivo da Learning Experience é desvendar o que faz do Vale o Vale e porque todas as últimas grandes inovações mundiais estão vindo de lá.

Conhecer o Vale é uma experiência fantástica, que te faz perceber e questionar vários paradigmas e vícios que temos e que nos prejudicam no caminho rumo ao sucesso — mesmo (e principalmente) aqueles que praticamos inconscientemente.

Em meio a tantas experiências e aprendizados, compartilho aqui 6 coisas que aprendi no Vale e apliquei na gestão e no dia a dia da minha Fintech.

Cultura.

Durante os cinco dias de programação intensa, uma das coisas que mais me chamou a atenção e que, no meu ponto de vista, é a resposta de o que torna o Vale um lugar especial é a cultura de lá.

Da cidade, dos visitantes, dos empreendedores e de quem trabalha por lá — sem entrar ainda no quesito formação técnica e acadêmica. A cidade inteira transpira inovação e a cultura local é muito forte em formar early adopters para qualquer novidade que venha surgir.

No mundo do empreendedorismo é muito comum a preocupação com a cultura do time e da empresa, mas cultura não é como a missão e visão do business plan das empresas, que antigamente serviam somente para preencher quadrinhos bonitos na parede.

A cultura é o comportamento irracional, é o que o seu time faz quando tá tudo indo bem ou quando estoura uma bomba às 18h de sexta-feira. São as pequenas atitudes, na forma de comunicação e nos valores inquestionáveis.

E a cultura do Vale é muito forte neste sentido, de não aceitar trabalho (ou produto) medíocre, fazer sempre o seu melhor com o que tiver disponível e de realmente resolver os problemas que se propõem.

Get shit done.

Sem blá-blá-blá ou mimimi. É baixar a cabeça, arregaçar as mangas e produzir. Sem pausa a cada 5 minutos pro café ou ver as horas passando na timeline do Facebook.

No Vale, a cultura de trabalhar 18h por dia é uma cultura negativa — lá eles trabalham das 9h às 17h, e olhe lá! — pois se você está tendo que trabalhar tantas horas deve ser porque está fazendo alguma coisa errada ou não está focado. Eles entendem a importância do ócio pro negócio ir bem e não abrem mão de aproveitar a vida e a família — é muito raro almoços ou jantares de negócios.

Não faça nada para ninguém. Faça COM as pessoas.

Essa eu aprendi com o Ricardo Stanford-Geromel. O conceito parece simples. Simplicidade tão grande que chega a esconder a grandiosidade por trás. A ideia de engajamento e empoderamento é maior.

Em uma sociedade conectada, cada vez mais as pessoas gostam (e querem) participar das coisas. Hoje em dia não é mais um programa de televisão ou uma revista que dita o local do momento e o melhor destino pra viajar e sim a própria população que ganha força na internet (seja em redes sociais ou sites de avaliações).

E esse é novo modus operandi de tudo. Contra o conceito de que ordem desce (na ideia de hierarquia), a ideia é convidar todo o time a pensar junto em como resolver o problema do mercado e qual produto irá gerar maior impacto nos clientes.

É surpreendente e revelador o que acontece quando você convida todo mundo a mudar o mundo com você. #SuperIndico

MVP: Minimum Viable Product.

Embora toda inovação comece com um “e se pudesse ser diferente?”, mais importante do que a ideia é a sua capacidade de transformá-la em realidade. E o MVP é segundo fator fundamental de sucesso no Vale: você precisa tirar a sua ideia do papel e montar um mockup (prova de conceito) para validar ela.

E por validar não digo ver se o mockup precisa ser em outra plataforma ou coisa do gênero e sim falar com pessoas. A Dani da Babel Ventures compartilhou conosco uma coisa que faz muito sentido: embora no Vale tenha o que existe de mais inovador no mundo da tecnologia, a forma de fazer negócio e validar ideias ainda é no mundo off-line — é no networking.

Você precisa sair do prédio e falar com o maior número de pessoas possível, levar o seu mockup e vender a sua ideia. Só assim você conseguirá validar ela.

Falhar faz parte.

Um dos pontos que me faz acreditar que ainda temos muito feijão com arroz pra comer para transformar o Brasil com a cultura do Vale é neste ponto sobre a cultura da falha. É óbvio que ninguém gosta e ninguém comemora quando algo não sai como o planejado, mas lá no Vale eles entendem que falhar faz parte.

Fail fast, fail often é o conselho. Ou seja, quanto antes você validar o seu MVP, poderá fracassar e corrigir o erro de forma mais rápida. Do contrário, já pensou se você investe todo o seu tempo e esforço em um projeto que não tem aceitação por deixar para validar com o mercado já com o produto final?

Como ninguém gosta de errar, eles entendem que ninguém repete os mesmos erros e, desta forma, a cultura da falha te transforma em uma pessoa com experiência e não em um perdedor que deve ir se esconder dentro de casa até que todo mundo esqueça do erro que você cometeu.

Seu maior inimigo é a sua zona de conforto.

Tá na moda agora falar sobre sair da zona de conforto e o quão importante isso é. Mas, falo por mim mesma, falar é fácil… Mas vai tomar coragem de sair do sofá de casa e saltar de um precipício pra ver como é a sensação.

Seja empreendendo, trabalhando em uma startup ou não, sair do cotidiano está nas nossas pequenas ações. A missão pro Vale levou 100 brasileiros para a imersão e, como se pode imaginar, várias pessoas conhecidas foram juntas na viagem. Sabe qual foi a primeira ação do time da StartSe?

Separar todo mundo. Já na chegada, eles distribuíam números aleatórios para cada participante e durante o dia você sentava em algum lugar com outras pessoas que você ainda não havia conhecido e durante os 2 primeiros minutos da programação você tinha que conhecer todo mundo que estava a sua volta. E assim foi em cada dia. Parece simples, não é?

Na Bela, as estações de trabalho são todas juntas, sem salas ou mesas individuais ou divididas por setores, mas em cada ilha o time da mesma área fica junto — financeiro com financeiro, tecnologia com tecnologia, comercial com comercial e assim por diante.

De volta da viagem e decidida a aplicar tudo o que tínhamos visto no Vale, em uma quarta-feira à noite, depois de todo mundo ir pra casa, numerei cada uma das mesas do Campus. No outro dia, logo no início da manhã, reuni todo o time e expliquei o conceito de sair da zona de conforto e propus um desafio para cada um: durante toda a semana, todos os dias de manhã, iríamos fazer um sorteio de lugares e misturar todo o time.

Mesmo com só 40 pessoas na equipe, percebi que os times só interagiam entre si e o quão confortável cada um estava dentro do seu ambiente controlado. Esse processo de simplesmente misturar todo mundo foi fantástico e revelador, melhorou muito o engajamento de todo o time e a troca de informações e ideias entre as áreas — pelo simples fato de em uma única ilha ter pelo menos uma pessoa de cada área da empresa.

Como você pode se imaginar nessa situação, os primeiros feedbacks sobre o desafio não foram nada positivos, mas fui persistente. Insisti no conceito e não abri mão do desafio, convidei o pessoal a experimentar durante toda a semana o desafio e, hoje, 100% do time aprovou a ideia e percebeu o quão transformador o simples fato de trocar de cadeira pode ser.

Essas são só algumas das coisas que aprendi nessa imersão no Vale. Acredito muito que com o propósito de dar poder às pessoas podemos transformar o mundo através do empreendedorismo e da educação, com essa nova forma de fazer negócios e conexões, mostrando pra todo mundo que podemos fazer diferente e construir o impossível.

Rochelle Silveira,

CTO e cocriadora da Bela.

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