Dona Ondina, do Ribeirão da Ilha, é famosa pelos benzimentos na localidade.

Pedro
benzedeiras
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3 min readJan 21, 2019

O primeiro aconteceu por volta dos seus nove anos de idade, quando brincava com uma vizinha em sua casa: “Nossa vizinha ia muito dentro de casa. Nós brincando de esconder e ela coçando a perna, a minha irmã conta isso pra todo mundo. Eu disse assim: “Que é Cecília que tu tens?” Ela continuou: “Eu não durmo, tô com uma coisa na minha perna”. Eu repeti perguntando: “Coisa na perna?”. “É”. Olhei pra ela e disse: “Isso é cobreiro!”. Então peguei um galhinho de vassoura e benzi. No mato. Benzi. Isso foi de tarde. Quando chegou de manhã, a Cecília lá em casa: “Ondina?”. Eu assim: “Que é?” “Me benze? Tô tão melhor”. “Tais melhor?”. “Tá que eu dormi, diminuiu a coceira.” Benzi. Com três benzeduras ficou boa. Meus avós contavam que quem nasce quinta-feira santa depois do meio dia ou sexta-feira santa traz um dom. Eu nasci na quinta-feira santa, às 8:30 da noite.

Dona Ondina benze, como ela mesmo diz, “para muitas coisas”, e a benzedura
é um dom recebido. Além dela, uma tia também tinha esse dom. Várias pessoas (até médicos) já procuraram sua ajuda para benzer.

Ela relatou: “Eu benzo de cobreiro, eu benzo de mau jeito, eu benzo de zipela,
eu benzo de afogado, eu benzo de mau olhado, eu benzo de arca caída, eu benzo de campainha caída”.

Pessoas de todas as idades costumam aparecer em sua casa para serem
bentas, principalmente os pais e mães com crianças, que estão com a ‘arca caída’: “É o aguentar. A gente aguentar a criança, botar a mão, debaixo das costinhas, pegou aqui, pega suspende da cama. Quer ver esse bebê conforto! Esse é danado pra cair de arca! Eu benzi criança já quase morta. E graças a Deus, até filha de médico eu cheguei a benzer. Fica de arca caída”. (Em outras palavras, significa que o ideal é pegar, retirar o bebê do berço, colocando-se a mão por debaixo das nádegas e não só pelos bracinhos).

A benzedeira nos contou que, para saber se uma criança está com arca caída,
é necessário colocá-la de bruços e tentar juntar o pé esquerdo com a mão direita e depois a mão esquerda com o pé direito, em formato de cruz. Se a criança não conseguir tocar, ‘a arca está caída’.

Com o tempo, muitas pessoas passaram a procurar dona Ondina para benzer
e, como forma de ter um tempo para descansar, cuidar da saúde e da sua perna doente e da família, estipulou horários para receber as pessoas na sua casa. Atende todos os dias das 9h às 11h e das 5h às 18h. “Porque era muito cansativo. Tinha noite que eu não podia dormir que o meu braço desse lado não dava de deitar de tanto benzer. Pra tudo quanto é coisa, o médico tem horário, o centro espírita tem, outro benzedor tem, botamos horário”.
Durante a visita, recebemos o benzimento de dona Ondina, que antes de iniciar as orações, colocou sua proteção no pescoço. Abaixo, oração feita pela benzedeira Ondina:

“Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Cristo abençoa, Cristo abençoa,
São João assim como tu, de verdade, tira do corpo de … (fala o nome da pessoa), que quem fez a maldade será afastado do vosso agrado, do nó sagrado do batizado. Teu corpo, tuas pernas, teus braços, tua cabeça será renovada por Cristo não pode vestir, te vestir, não pode [inaudível] que te criemos. O mal que tu tens eu curarei. Em nome das três pessoas da Santíssima Trindade, eu te curo e Deus te salva (repete duas vezes). Se não comes, comerás, se não bebes, beberás, se não dormes, dormirás”. Dona Ondina nos explicou que não se agradece por receber um benzimento.
Agradecemos, então, pelos saberes compartilhados!

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