Sapiens: Uma Breve História da Humanidade (2º Parte)

Renan Honorato
Besouros Verdes Gigantes
5 min readJul 30, 2020

Uma análise do futuro da humanidade através do seu passado revolucionário

No texto anterior, vimos que após os Homo sapiens revolucionarem a linguagem através da imaginação coletiva, criação de narrativas sem fundamentos materiais, escancaramos as portas do Céu — ou do Inferno — encarando um horizonte de possibilidades. Foi nesse intervalo de centenas de anos, onde pequenas mudanças de hábitos — extermínio de alguns — deram a força necessária a grande marcha evolutiva que rumava à um futuro sedentário & agrícola.

Horizonte de Possibilidades: todo um espectro de crenças, práticas & experiências que apresentam-se a uma determinada sociedade, considerando suas limitações geográficas & tecno-culturais.

A Revolução Agrícola

Há cerca de 45 mil anos, haviam algumas dezenas de aldeias de pescadores nos litorais do arquipélago Indonésio. Entretanto, a maioria dos sapiens organizavam-se em comunas móveis & anucleares, ou seja, as pessoas viviam em grupos de caçadores & coletores sem um núcleo fixo .

Apesar de alguns teóricos defenderem que os sapiens constituíam famílias “fixas”, seu modo de organização não era baseado nessa relação familiar, mas na relação comunitária. Mas é bem improvável que tenhamos uma resposta final sobre isso, já que os utensílios & imagens rupestres que restaram nos contam pouco sobre suas relações afetivas.

De qualquer maneira, inconscientemente, os sapiens passaram a se assentar & permanecer por mais tempo em lugares que determinados grãos & raízes cresciam com maior facilidade & abundância. Foi por comodidade ou por motivos religiosos? Qual a razão de terem parado? Não sabemos.

A Revolução Agrícola aumentou o número de alimento disponível, mas não melhorou a diversidade dos alimentos. Ao compararmos os sapiens coletores com os agrícolas, percebemos que os primeiros eram mais altos, saudáveis & tinham um cérebro maior — devido a quantidade de técnicas de sobrevivência que deveria saber, sua memória era melhor.

Não foram unicamente os animais domesticados que sofreram com a Agricultura, os Homo Sapiens passaram a viver em função do trabalho que os esgotava a força física, psíquica & espiritual (Reprodução/Visual Corbis)

Com essa grande quantidade de alimento, pudemos proliferar. Tendo mais filhos, precisávamos de mais alimentos. Portanto, tivemos que nos focar ainda mais no cultivo, preservação & preparo das sementes. Como resultado, entramos em um ciclo vicioso, um impasse mexicano ou mesmo um paradoxo comportamental. Tal mudança foi tão avassaladora que já não podíamos voltar, restando-nos apenas lamentar.

As plantas domesticaram o Homo sapiens, e não o contrário” — Yuval Noah Harari, autor de Sapiens.

A Criação de Impérios & A Unificação dos Povos

Durante, e logo após, a Revolução Agrícola, os sapiens começaram a aumentar seu número vertiginosamente a medida que os ciclos de cultivo terminavam & recomeçavam. Nesse período, uma variedade infinita de pequenas culturas surgiram nos cantos mais remotos do planeta; manifestações culturais tão singulares que se quer podemos conceber sua diversidade: Eram sociedades monoteístas, dualistas ou animalistas? Patriarcais, matriarcais ou gerontocráticas? Monarquias, ditaduras ou democracias?

Tais culturas entravam em conflito a medida que mais “bocas” surgiam para se alimentar & diminuíam as áreas de plantação, portanto, mesmo as culturas helênicas, babilônicas & egípcias são frutos dessa aglutinação constante. Mas como fazer velhos inimigos cooperarem, ou mesmo, tornarem-se um único povo?

O Poder do Cobre

O dinheiro surgiu em todos os hemisférios em vários momentos da História como mediador de trocas, mas sua principal função é ser o mediador da confiança entre estranhos. A moeda, a cédula e, agora, os dados bancários revolucionaram nossas relações interpessoais, tornando-se o alvo do desejo de todos a qualquer momento.

Antigamente, um produtor de laranjas deveria negociar com um criador de cabras quantas sacas da fruta uma cabra valia a cada ano, levando em conta fatores de disponibilidade, saúde & trabalho. Isso, se o criador de cabras quisesse as frutas — e se ele fosse alérgico a elas? Com atribuição de valor nesses pedaços de minério & papel, todos tornam-se prováveis compradores & vendedores, assim aumentando os laços interpessoais e gerando confiança.

Quando duas regiões culturalmente diferentes são conectadas pelo comércio, elas tendem a igualar seus preço & assim igualar sua moeda.

Em relevo do sarcófago de Marco Aurélio, representação da guerra dos romanos com os marcomanos / Crédito: Getty Images
Em relevo do sarcófago de Marco Aurélio, representação da guerra dos romanos com os marcomanos / Crédito: Getty Images

“Um Império incapaz de receber um golpe e continuar de pé não é um Império” — Yuval Harari

O Poder da Fé

A primeira consequência fundamental da Revolução Agrícola foi elevar a importância dos Homo sapiens em relação aos animais, plantas & outros elementos naturais. A Humanidade rompeu com seu elo natural, com suas religiões animistas & seus espíritos da floresta em troca de entidades domésticas, preocupadas com o lar, o solo & a família.

As religiões são cruciais para sustentar as ordens sociais criadas pelo comércio ou pela espada, elas postulam ordens sobre-humanas universais. Leis & costumes morais que correspondem aos desejos de entidades super poderosas, os Senhores da Humanidade.

Mas para tal, as religiões que almejam salvar seus fiéis, espalhar A Palavra ou mesmo adquirir maiores poderes terrenos, como dinheiro, precisam se atentar as novas mudanças, já que os impérios tendem a cair & novos costumam levantar.

O Monoteísmo-Moderno é um conjunto de características de religiões animistas, politeístas, dualistas & monoteístas (Sincretismo Religioso — Óleo sobre Tela, 53cm x 103cm, José Luiz Soares)

O Poder do Aço

Se o comércio & a religião não funcionassem, a opressão era última alternativa para a conquista dos povos, mesmo que eles resistissem, suas manifestações culturais, crenças & língua seriam inevitavelmente subjugadas pela força implacável dos Impérios.

O que é um Império? Um sistema político que conquistou um variado número de povos & civilizações, e que constantemente, tenta aumentar suas fronteiras & áreas de influência. Impérios Persa, Britânico, Soviético…

Não importa o tamanho da sua área de influência ou nem mesmo o sistema político em que se organiza, um Império é definido pela sua sede de conquista. O Império Ateniense foi muito menor que a Grécia atual, com uma população ainda menor, e muito menos teve sua origem em um regime autoritário, mas numa liga voluntário entre Cidades-Estados.

De qualquer maneira, os Impérios foram os modelos políticos mais comuns em quase 2,5 mil anos de História, podendo essa ser muito bem definida como A História de Ascensão & Queda dos Impérios. Por causa dessa relação íntima, nós, sapiens modernos, somos filhos & filhas das glórias & do sangue desses impérios.

A língua que usamos para criticar injúrias sociais ou sistemas econômicos, os pensamento que fundamentam a própria crítica & o sistema, as roupas que vestimos para irmos debater; tudo o que nos cerca & define são tradições diretas desse ciclo revitalizante de Nascimento, Vida & Morte dos Impérios.

Portanto, condenar os Impérios como sendo maus, rejeitar seus legados — bons & ruins — é rejeitar a maior parte da Cultura Humana.

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Renan Honorato
Besouros Verdes Gigantes

Como diria Trevisan: tira essa câmera de mim e vai ler um livro! Crônicas, análises e resenhas. Às vezes, um conto. Às vezes, um tonto.