Sapiens: Uma Breve História da Humanidade (2º Parte)
Uma análise do futuro da humanidade através do seu passado revolucionário
No texto anterior, vimos que após os Homo sapiens revolucionarem a linguagem através da imaginação coletiva, criação de narrativas sem fundamentos materiais, escancaramos as portas do Céu — ou do Inferno — encarando um horizonte de possibilidades. Foi nesse intervalo de centenas de anos, onde pequenas mudanças de hábitos — extermínio de alguns — deram a força necessária a grande marcha evolutiva que rumava à um futuro sedentário & agrícola.
Horizonte de Possibilidades: todo um espectro de crenças, práticas & experiências que apresentam-se a uma determinada sociedade, considerando suas limitações geográficas & tecno-culturais.
A Revolução Agrícola
Há cerca de 45 mil anos, haviam algumas dezenas de aldeias de pescadores nos litorais do arquipélago Indonésio. Entretanto, a maioria dos sapiens organizavam-se em comunas móveis & anucleares, ou seja, as pessoas viviam em grupos de caçadores & coletores sem um núcleo fixo .
Apesar de alguns teóricos defenderem que os sapiens constituíam famílias “fixas”, seu modo de organização não era baseado nessa relação familiar, mas na relação comunitária. Mas é bem improvável que tenhamos uma resposta final sobre isso, já que os utensílios & imagens rupestres que restaram nos contam pouco sobre suas relações afetivas.
De qualquer maneira, inconscientemente, os sapiens passaram a se assentar & permanecer por mais tempo em lugares que determinados grãos & raízes cresciam com maior facilidade & abundância. Foi por comodidade ou por motivos religiosos? Qual a razão de terem parado? Não sabemos.
A Revolução Agrícola aumentou o número de alimento disponível, mas não melhorou a diversidade dos alimentos. Ao compararmos os sapiens coletores com os agrícolas, percebemos que os primeiros eram mais altos, saudáveis & tinham um cérebro maior — devido a quantidade de técnicas de sobrevivência que deveria saber, sua memória era melhor.
Com essa grande quantidade de alimento, pudemos proliferar. Tendo mais filhos, precisávamos de mais alimentos. Portanto, tivemos que nos focar ainda mais no cultivo, preservação & preparo das sementes. Como resultado, entramos em um ciclo vicioso, um impasse mexicano ou mesmo um paradoxo comportamental. Tal mudança foi tão avassaladora que já não podíamos voltar, restando-nos apenas lamentar.
“As plantas domesticaram o Homo sapiens, e não o contrário” — Yuval Noah Harari, autor de Sapiens.
A Criação de Impérios & A Unificação dos Povos
Durante, e logo após, a Revolução Agrícola, os sapiens começaram a aumentar seu número vertiginosamente a medida que os ciclos de cultivo terminavam & recomeçavam. Nesse período, uma variedade infinita de pequenas culturas surgiram nos cantos mais remotos do planeta; manifestações culturais tão singulares que se quer podemos conceber sua diversidade: Eram sociedades monoteístas, dualistas ou animalistas? Patriarcais, matriarcais ou gerontocráticas? Monarquias, ditaduras ou democracias?
Tais culturas entravam em conflito a medida que mais “bocas” surgiam para se alimentar & diminuíam as áreas de plantação, portanto, mesmo as culturas helênicas, babilônicas & egípcias são frutos dessa aglutinação constante. Mas como fazer velhos inimigos cooperarem, ou mesmo, tornarem-se um único povo?
O Poder do Cobre
O dinheiro surgiu em todos os hemisférios em vários momentos da História como mediador de trocas, mas sua principal função é ser o mediador da confiança entre estranhos. A moeda, a cédula e, agora, os dados bancários revolucionaram nossas relações interpessoais, tornando-se o alvo do desejo de todos a qualquer momento.
Antigamente, um produtor de laranjas deveria negociar com um criador de cabras quantas sacas da fruta uma cabra valia a cada ano, levando em conta fatores de disponibilidade, saúde & trabalho. Isso, se o criador de cabras quisesse as frutas — e se ele fosse alérgico a elas? Com atribuição de valor nesses pedaços de minério & papel, todos tornam-se prováveis compradores & vendedores, assim aumentando os laços interpessoais e gerando confiança.
Quando duas regiões culturalmente diferentes são conectadas pelo comércio, elas tendem a igualar seus preço & assim igualar sua moeda.
“Um Império incapaz de receber um golpe e continuar de pé não é um Império” — Yuval Harari
O Poder da Fé
A primeira consequência fundamental da Revolução Agrícola foi elevar a importância dos Homo sapiens em relação aos animais, plantas & outros elementos naturais. A Humanidade rompeu com seu elo natural, com suas religiões animistas & seus espíritos da floresta em troca de entidades domésticas, preocupadas com o lar, o solo & a família.
As religiões são cruciais para sustentar as ordens sociais criadas pelo comércio ou pela espada, elas postulam ordens sobre-humanas universais. Leis & costumes morais que correspondem aos desejos de entidades super poderosas, os Senhores da Humanidade.
Mas para tal, as religiões que almejam salvar seus fiéis, espalhar A Palavra ou mesmo adquirir maiores poderes terrenos, como dinheiro, precisam se atentar as novas mudanças, já que os impérios tendem a cair & novos costumam levantar.
O Poder do Aço
Se o comércio & a religião não funcionassem, a opressão era última alternativa para a conquista dos povos, mesmo que eles resistissem, suas manifestações culturais, crenças & língua seriam inevitavelmente subjugadas pela força implacável dos Impérios.
O que é um Império? Um sistema político que conquistou um variado número de povos & civilizações, e que constantemente, tenta aumentar suas fronteiras & áreas de influência. Impérios Persa, Britânico, Soviético…
Não importa o tamanho da sua área de influência ou nem mesmo o sistema político em que se organiza, um Império é definido pela sua sede de conquista. O Império Ateniense foi muito menor que a Grécia atual, com uma população ainda menor, e muito menos teve sua origem em um regime autoritário, mas numa liga voluntário entre Cidades-Estados.
De qualquer maneira, os Impérios foram os modelos políticos mais comuns em quase 2,5 mil anos de História, podendo essa ser muito bem definida como A História de Ascensão & Queda dos Impérios. Por causa dessa relação íntima, nós, sapiens modernos, somos filhos & filhas das glórias & do sangue desses impérios.
A língua que usamos para criticar injúrias sociais ou sistemas econômicos, os pensamento que fundamentam a própria crítica & o sistema, as roupas que vestimos para irmos debater; tudo o que nos cerca & define são tradições diretas desse ciclo revitalizante de Nascimento, Vida & Morte dos Impérios.