Sapiens: Uma Breve História da Humanidade (1º Parte)

Renan Honorato
Besouros Verdes Gigantes
6 min readJul 16, 2020

Uma análise do futuro da humanidade através do seu passado revolucionário

Caro leitor, esse texto não será uma simples crítica ou resenha literária, pois acredito que assim como a Bíblia e o Alcorão são sagrados para milhões de cristãos e muçulmanos, Sapiens: Uma Breve História da Humanidade deveria ter tal sacralidade não só para os já citados, mas também para ateus, candomblecistas, budistas e, principalmente, sapiens.

Yuval Noah Harari, 44, é israelense por nascimento e curioso por profissão; especializado em História Medieval e História Militar, nos últimos anos dedicou suas obras a uma temática universal, conhecida como “Macro-História”, ou seja, a História da Raça Humana. Nesse área, Harari tenta relacionar episódios históricos com fatores biológicos, geográficos e culturais afim de promover (e quem sabe responder) uma série de questionamentos, como: Por quê nós chegamos onde chegamos? O que nos torna diferente? A História segue alguma direção? Existe Justiça nela? etc, etc, etc…

De modo geral, Harari separa a evolução humana em três grandes revoluções: a Revolução Cognitiva, a Revolução Agrícola e a Revolução Científica. Nesse texto, buscarei expressar seus significado e as consequências bombásticas — e muitas vezes contraditórias — que nos metemos ao longo dos milhões de anos que aqui jazemo-nos.

Caverna de Denisova, na Sibéria, foi onde encontraram a primeira evidência de um filho entre duas espécies diferentes de humanos! (Reprodução/ROBERT CLARK, NATIONAL GEOGRAPHIC)

Homo Sapiens? Quem? Eu?

A primeira coisa que é apresentada na obra é que nós, Homo sapiens, não éramos os únicos humanos a vagar pelo planeta. Os Homo neanderthalis, adaptados a Era do Gelo, governavam os vales gelados na região da Europa e Ásia Ocidental. Já na Ilha das Flores, na Ásia, viviam humanos tão pequenos que mediam por volta de 1m de altura e pesavam no máximo 25kg, conhecidos como Homo florencis. E, mais recentemente descoberto, o Homo denisovano, encontrado nas geladas cavernas da Sibéria. Ou seja, há milhões de anos existiam não apenas uma, mas no mínimo 6 diferentes espécimes do gênero Homo. Esse convívio não só existiu como gerou descendestes. Em 2018, foi descoberto ossos de uma menina nascida há 90 mil anos cujo os pais nada mais eram que um Neandertal e um Denisovano.

E dentre esses, os sapiens estavam longe de ser os mais velozes, mais fortes ou mais resistentes aos inóspitos habitats. O gênero sapiens tem sua origem na África Oriental, e de seus primos, diferencem em poucos detalhes, como: a relativa pouca quantidade de pelo, a postura bípede — não restrita a esse espécime — que nos permitia ver o perigo de longe e nos gerou fortes dores nas costas e um pescoço rígido; e, por fim, um cérebro que equivalia a 3% do nosso peso e gastava 25% da energia dos alimentos para se manter em repouso.

Esse grande cérebro exigia demasiado preço para ser mantido, resultando na relativa atrofiação dos músculos e numa “fome insaciável”, sem falar que os filhos desse valoroso espécime passaram a nascer com cabeças cada vez maiores, algo que evolução não havia preparado nas mulheres de outrora, o que acarretou — e acarreta — numa gigantesca taxa de morte na hora do parto.

Prematuros, esses pequenos exigiam demais de uma única mãe na savana africana, que deveria não só proteger sua cria, como também buscar alimento, fugir de predadores e buscar refúgio. Por conta de tamanha dependência da mãe e do filho, os grupos de Homo sapiens começaram a se organizar de maneira mais sofisticada, aumentando drasticamente a socialização entre si. E você sabe qual o melhor jeito de puxar papo, não é?

Fofoca!

Há duas principais teorias que explicam o desaparecimento das outras espécies humanas:

A Teoria da Miscigenação: as diferentes espécies foram sumindo naturalmente a partir que os filhos híbridos nasciam (como a menina de 90 mil anos da Sibéria), ou seja, a cada nova geração, as características misturavam-se até o surgimento do Homo sapiens.

A Teoria da Substituição: por conta de diferenças genéticas & sociais, o acasalamento & a perpetuação das várias espécies era estritamente improvável. Por tanto, por conta da demanda crescente de alimento, algumas espécies foram perdendo a “luta”, seja ela Inconsciente — disputa indireta pelos habitats — ou Consciente — através do massacre violento & constante.

A Revolução Cognitiva

Em algum momento entre os 70 mil & os 30 mil anos a.C., ocorreu a primeira grande revolução humana, a Revolução Cognitiva, ainda não há evidências concretas dos motivos que levaram ela a acontecer, muito menos uma explicação a cerca do porquê dela ter ocorrido justamente no gênero Sapiens. Porém, o mais importante não são seus motivos, mas suas consequências.

O Homem-Leão da Caverna de Standel: um símbolo da imaginação de uma espécie! (Reprodução/Graeme Robertson)

A linguagem é algo comum na maioria das espécies de animais, seja através de feromônios, grunhidos ou zumbidos. Tais linguagens são usadas em quase sua totalidade para comunicar sobre perigos próximos, quais são as árvores que possuem as melhores frutas ou qual antílope é o mais frágil, ou seja, a linguagem animal é usada estritamente sobre as coisas do mundo exterior.

apenas uma espécie que adquiriu a habilidade de falar sobre coisas que iam além do mundo material: os Homo Sapiens. Uma das teorias mais aceitas é de que nós evoluímos a linguagem para não só tratar das árvores ou dos antílopes, mas dos sentimentos & das relações com seus companheiros.

Imagine que, depois de muito esforço dos seus pais & companheiros, você tenha conseguido chegar aos 16 anos e, por conta disso, tenha que não só aprender na prática como caçar um mamute, mas também como elaborar estratégias de como você e seu bando vão conseguir matar aquele criatura 10 vezes mais forte que você. Mas como você poderia elaborar estratégias de caça sendo que você não conhece aqueles que empunham lanças ao teu lado? É aí que entra a fofoca.

Os sapiens primitivos não só tinham que saber quais as habilidades de cada membro do seu bando para assim otimizar a sua caçada, mas também, quais eram os sentimentos deles para com seu companheiros. Digamos que João, um cara charmoso sem muito dentes faltando, tenha conquistado o coração de Juliana, uma adorável sapiens de ancas largas, mas que José, um cara miúdo com poucos dentes, também fosse apaixonado por Juliana. Seria sensato colocar ambos, João e José, lado a lado durante uma caçada a um animal muito mais forte, com grandes chances de “acidentes”?

Portanto, de uma maneira claramente tendenciosa, pode-se dizer que os Homo sapiens evoluíram sua linguagem para fofocar sobre a vida alheia. E, se pensarmos bem, a fofoca ainda hoje é fundamental para a vida em sociedade. Como saber se devemos votar em um político ou em outro? Como saber que podemos confiar no outro? Jornalistas que informam a sociedade sobre corruptos & trapaceiros, também as protegem, sendo a fofoca o 4º Poder original.

“O Homem é por natureza um animal social” — Karl Marx

Apesar disso, de certa forma, os Homo Sapiens continuavam a conversar sobre coisas relacionadas ao mundo físico, seja antílopes ou amores. Mas foi a partir do momento que começamos a criar histórias, ficções, através de nossa própria imaginação que demos o grande passo que nos colocou a cima da Natureza.

Pintura rupestre no Parque Nacional da Serra da Capivara fica em São Raimundo Nonato, a cerca de 500 km de Teresina, Piauí (Reprodução/Wikimedia Commons)

Se, com a fofoca, os grupos se organizavam até no 150 indivíduos, com a habilidade de criar ficções, os agrupamentos sociais não tiveram limites. Pois, o mais importante nessa habilidade é seu uso na coletividade, o que chamamos de imaginação coletiva, ou seja, algo criado em que muitos acreditam.

Tu, leitor, logo deve ter pensado no Cristianismo ou o Islamismo — o que não está errado — porém, tal imaginação coletiva não se restringe a religiosidade. Sistemas jurídicos, instituições bancárias, estados independentes, moeda corrente, Democracia, Direitos Humanos, entre outros; fazem todos parte de uma imaginação coletiva, pois tais elementos não existem no plano físico. Portanto, sistemas democráticos, monárquicos e autoritários possuem as mesmas garantias materiais, ou seja, nenhuma.

Por dezenas de milhões de anos os Homo sapiens não passavam de mais uma espécie de primatas na região oriental do continente africano, vivendo de coleta de frutas & raízes & de carcaça de animais. Não muito diferentes em

corpo do que seus primos ao redor do mundo primitivo — talvez até inferiores à eles em algum momento. Porém, em um piscar de olhos, nos tornamos os senhores do Mundo Imaginado e da nossa realidade. Se tais garantias não existem, nem para o bem ou para o mal, por quê devemos criar um mundo injusto, violento e ecologicamente prejudicado?

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Yuval Noah Harari, professor de História na Universidade Hebraica de Jerusalém (Reprodução/Richard Stanton)

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Renan Honorato
Besouros Verdes Gigantes

Como diria Trevisan: tira essa câmera de mim e vai ler um livro! Crônicas, análises e resenhas. Às vezes, um conto. Às vezes, um tonto.