Análise: Dead Cells (PS4)

Victor Barreto
BetaQuest
Published in
4 min readJan 17, 2020

Lançado em agosto de 2018, Dead Cells é um dos jogos indies mais bem sucedidos dos últimos anos. Tanto que, em maio deste ano, a desenvolvedora Motion Twin revelou que o game chegou à marca de 2 milhões de cópias vendidas. O jogo está disponível para Playstation 4, Xbox One, Nintendo Switch, PC e em breve chegará aos dispositivos mobile.

A história de Dead Cells se passa numa ilha que abriga um reino outrora imponente, mas agora em estado de calamidade devido a uma doença chamada de “o Malefício”. O Malefício atingiu boa parte da população, transformando os infectados em monstros. A doença faz com que o rei se acovarde em seus aposentos enquanto o povo se rebela contra ele, instaurando o caos no reino.

O enredo, no entanto, não é peça chave neste caso. O ponto forte do jogo é a sua jogabilidade, que combina elementos de roguelike e metroidvania. Dessa maneira, o personagem deve atravessar diversos cenários em 2D — chamados de biomas — enquanto enfrenta vários tipos de inimigos infectados pelo Malefício, incluindo chefes.

Visuais do game carregam estilo retrô. Foto: Divulgação/Playstation

É válido destacar a beleza dos visuais do game. Os gráficos são baseados em pixel art, remetendo a jogos retrô. Somando isso a um toque moderno, com cenários que apresentam um plano de fundo muito bem feito, a experiência visual acaba sendo agradável.

Além dos visuais, a trilha sonora também é muito competente e o trabalho do compositor francês Yoan “Valmont” Laulan merece ser citado. Cada fase conta com sua própria música, e, de maneira geral, as trilhas conseguem harmonizar bem com os ambientes.

O combate Dead Cells conta com uma boa variedade de armas, que podem ser tanto encontradas ao longo dos biomas quanto compradas no mercador. O jogador tem a sua disposição 4 slots de armas: uma primária, uma secundária e mais dois espaços que podem ser ocupados por granadas, armadilhas e habilidades especiais.

As armas se enquadram em três atributos diferentes, sendo eles Violência, Sobrevivência e Estratégia. Esses atributos podem ter sua taxa de dano aumentada pelos pergaminhos, que, assim como as armas, ficam espalhados pelos mapas. Assim, cabe ao jogador escolher quais atributos priorizar de acordo com seu equipamento.

Armas podem ser adquiridas no mercador. Ele oferece 3 opções distintas. Foto: MobyGames

Ao sair de um bioma para entrar em outro, o personagem passa por uma espécie de antessala, onde se depara com alguns NPCs: um deles é o ferreiro, que melhora suas armas, e o outro, chamado Guillain, te permite escolher uma mutação. As mutações nada mais são que habilidades que podem também combinar com os atributos já mencionados e ser potencializadas por eles. O jogador pode carregar até três mutações.

Por fim, o último NPC da antessala é o Colecionador. Através dele, é possível desbloquear novas armas, mutações e melhorias gerais, como maior capacidade do frasco de vida — que funciona aos moldes do frasco de Estus de Dark Souls.

No Colecionador, é possível trocar as células coletadas por armas novas e melhorias. Foto: MobyGames

Aliás, a franquia da From Software é uma grande fonte de inspiração para Dead Cells. Além da história ser contada de forma vaga, a maneira como o game possibilita a montagem de builds (a soma das armas escolhidas com os atributos priorizados) é um tanto semelhante a da série.

Outro aspecto em comum com Dark Souls é o nível de desafio. Os cenários levam muito perigo ao personagem, e isso se deve tanto aos inimigos quanto a armadilhas que podem se fazer presentes. As batalhas de chefe também requerem muita atenção, e, principalmente, uma boa estratégia de combate.

Em caso de morte do personagem — e, acredite, isso vai acontecer muitas vezes-, como em todo roguelike, o jogo volta do seu ponto de partida. Pode parecer que isso torne a experiência de Dead Cells maçante, mas isso está longe de ser verdade. Isso porque, em primeiro lugar, as fases são geradas proceduralmente — mais uma característica dos roguelikes — , ou seja, elas dificilmente têm sua arquitetura repetida.

Prepare-se para ver este cenário muitas vezes, pois este é o ponto de partida do jogo. Foto: Polygon

Em segundo lugar, a cada nova tentativa o jogador vai acumulando novas armas e mutações. Com isso, vão surgindo novas possibilidades de builds, o que aumenta o número de maneiras de jogar.

Além disso, os biomas, apesar de conectados, não são lineares, de modo com que seja possível escolher por qual caminho seguir. Todos esses aspectos trazem dinamicidade ao game e afastam qualquer sensação de monotonia.

Com a união dessas qualidades ao desafio proporcionado, Dead Cells acaba se tornando uma experiência verdadeiramente viciante. A cada nova investida, o jogador vai se sentindo mais preparado e com mais recursos para enfrentar a dificuldade do jogo até, finalmente, derrotar o chefão final.

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Victor Barreto
BetaQuest

Graduado em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)