É hora de aderir ao Low/No Poo

A técnica tem mudado não só a forma de cuidar do cabelo, mas tem se transformado em um estilo de vida mais sustentável

Thayná Bandasz
Redação Beta
6 min readSep 27, 2017

--

Foto da youtuber Mari Morena em uma de suas redes sociais (Mari Morena/Instagram)

Popularizada pela americana e cacheada Lorraine Massey, criadora da marca Deva Curl, o “Low/No Poo” chegou aos ouvidos e, principalmente, aos cabelos das brasileiras através de blogueiras e youtubers. São essas duas formas de cuidar dos fios que foram criadas pensando em melhorar a qualidade do cabelo crespo/cacheado, que naturalmente é mais ressecado que os outros.

Conforme explica a professora de cosmetologia do curso de Farmácia da Unisinos, Ana Luiza Maurer da Silva, a técnica capilar consiste em usar pouco shampoo (“Low Poo”) no processo de higiene capilar, ou mesmo nenhum shampoo (“No Poo”).

“Por exemplo, não usar o shampoo convencional e usar produtos da linha infantil, produtos veganos, orgânicos e quando possível produtos naturais livres de sulfatos, parabenos, petrolatos entre outros componentes que podem vir a danificar o fio com o passar do tempo. Logo após o enxague é usado um condicionador que irá auxiliar no processo de condicionamento do fio, facilitando o processo de penteabilidade, maciez, entre outros aspectos”.

Resumo de cada uma das técnicas, famosas entre os crespos(as) e cacheados(as) (Imagem: Thayná Bandasz/Beta Redação)

A Rayza Nicácio foi uma das primeiras youtubers a falarem sobre Low/No Poo, mas por se tratar de algo novo e de origem norte-americana, a tradução do que se tratava e, consequentemente, a dificuldade do entendimento, não deixava fácil para as crespas/cacheadas que estavam querendo aderir à técnica.

O blog Cacheia!, que é muito popular entre as crespas/cacheadas, percebeu que as rotinas “Low Poo” e “No Poo” estavam chegando de mansinho no Brasil e conquistando as mulheres, que resolveram abordar o assunto: “Já que um dos objetivos do blog é facilitar o acesso à informação sobre os cuidados com o cabelo natural, passamos a produzir novos conteúdos sobre as rotinas Low Poo e No Poo”, explica a estudante de antropologia Maressa de Souza, que também é uma das colaboradoras do blog.

Além de produzirem dois guias — um sobre cada rotina — com o passo a passo para entender o que são e como funcionam na prática, as meninas sempre atualizam uma lista nova com produtos específicos, resenhas e similares. Na prática, os conteúdos do Cacheia! surgem a partir da demanda das leitoras e também das experiências e interesses das próprias criadoras do blog.

“Os posts sobre Low e No Poo que se encontram no blog, por exemplo, foram feitos porque eu havia começado a técnica Low Poo e notei que muitos textos sobre o assunto não eram tão fáceis de entender. Então fiz algo na tentativa de dialogar com as leitoras do blog: ilustração própria, texto completinho e leve. Hoje esse conteúdo é um dos mais visitados do Cacheia!”, afirma Maressa.

Pesquisando no Facebook, é possível encontrar diversos grupos e páginas explicando a técnica. O mais popular deles é o No e Low Poo Iniciante, com mais de 300 mil membros. Mas apesar de um crescimento significativo no número de adeptas, Maressa explica que muita gente ainda não tem ideia do que são essas rotinas.

“Como esses termos foram importados de outra língua e a leitura do rótulo com tantas letrinhas miúdas não é fácil, tem sempre alguém pedindo uma ajudinha para entender como funciona e saber quais produtos entram na lista dos “liberados”. As pessoas também procuram por resenhas de produtos específicos porque diante de tanta novidade, fica até difícil identificar quais produtos são mais adequados”, conclui.

Ana Luiza ainda ressalta a importância que se deve ter antes de aderir a uma nova técnica capilar. A pessoa deve sempre se informar e conhecer muito bem seu fio (couro cabeludo, raiz, tipo de fio — fino, grosso, crespo, ondulado, ressecado, quimicamente tratado) para daí sim escolher a melhor forma de cuidado diário.

Composições “proibidas” aos que aderem à técnica (Imagem: Thayná Bandasz/Beta Redação)

Uma melhora positiva

A estudante de jornalismo Karine Dalla Valle aderiu à técnica faz uma ano. Sua irmã, que tem o cabelo mais cacheado, falou a respeito, mas ela não deu muita bola. “Acabou que um dia passou em algum momento pela minha timeline do Facebook e fiquei curiosa”.

Pesquisando mais ela acabou descobrindo que várias mulheres de cabelo cacheado/crespo faziam uso desse procedimento e resolveu aderir. “Meu cabelo ficou muito mais bonito. Até porque eu não só estava fazendo a técnica como também estava me dedicando mais para ele”, afirma.

Karine passou a usar o cabelo solto mais vezes, o que, segundo ela, pode até ser um “efeito placebo”, mas as melhoras ficaram muito aparentes. Procura sempre usar os produtos liberados, mas eventualmente passa um shampoo “normal”, que é para fazer uma limpeza maior nos fios. “Também passei a procurar e usar coisas que não são testadas em animais”, frisa.

Mercado que cresce incentivando a sustentabilidade

A técnica não tem se mostrado eficiente apenas em relação a qualidade do cabelo, mas também em se preocupar com a matéria-prima do mesmo, prezando sempre pelo mais natural possível. A youtuber Mari Morena, que hoje possui mais de 200 mil inscritos no seu canal, incentiva o consumo de produtos veganos para essa técnica.

No vídeo, Mari explica como funciona a técnica (Vídeo: Mari Morena/YouTube)

Segundo Maressa, tanto a rotina Low Poo quanto a rotina No Poo exigem que as pessoas fiquem de olho no rótulo dos produtos. Esse hábito, ainda pouco cultivado, ajuda a escolher com mais consciência o que se está levando para casa.

“A cobrança por produtos que não são testados em animais (cruelty free) e nem possuem componentes de origem animal (veganos) é uma discussão de longa data que vem ganhando força. No Facebook, por exemplo, muitas mulheres que seguem as rotinas Low/No Poo e são veganas trocam informações através dos grupos sobre o tema, onde reúnem álbuns com produtos e marcas que respeitam os animais”.

Ana Luiza também conta que participou, em setembro desse ano, da Feira de Matérias-Primas IN-COSMETICS LATIN AMERICA em São Paulo. Esta é a maior feira de matérias-primas para produtos cosméticos e higiene que ocorre no Brasil. Lá o que ficou claro, em relação aos produtos para cabelo, higiene, maquiagem, é que a inovação é importantíssima para este mercado, mas que junto dela está o cuidado com o meio ambiente e com a saúde do consumidor.

Os produtos da Salon Line passaram a conter estes selos indicando suas características nas embalagens (Foto: Thayná Bandasz/Beta Redação)

“Para atender várias expectativas de mercado, e consequentemente do consumidor, as empresas estão preocupadas em comercializar matérias-primas “greentech”, que são tecnologias verdes — ativos naturais, para linha de produtos cosméticos veganos, cosméticos orgânicos, cosméticos naturais”, explica.

A marca de produtos para cabelo Salon Line abraçou de vez a técnica Low/No Poo e também os produtos não testados em animais. Recentemente, lançou sua linha vegana e vem, cada vez mais, investindo nesse mercado que só tende a crescer.

IMPORTANTE

Ana Luiza alerta que todas as matérias-primas devem ser usadas em produtos cosméticos com muito cuidado, sempre obedecendo às legislações e resoluções do país onde se pretende produzir e comercializar os cosméticos em questão.

“Além de conhecer os aspectos legais, é importante conhecer a procedência e a qualidade das matérias-primas utilizadas. Outro aspecto importante é a pessoa que vai produzir shampoo e condicionador ser apta para esta atividade (conhecer na teoria e na prática o processo de desenvolvimento do produto). Existem matérias primas que podem vir a causar processos de alergia, irritações e que deverão ter o seu uso descontinuado.”

Mas ela também lembra que cada pessoa é única, e que assim como elas têm suas particularidades em relação às escolhas de cosméticos, elas também diferem entre si em relação às características corporais e principalmente em aspectos de saúde.

Guia rápido para quem gostaria de tentar a técnica Low ou No Poo (Imagem: Thayná Bandasz/Beta Redação)

--

--