É não-teste para cardíaco, amigos

Rádio uruguaia transmite a final entre Boca e River de forma inusitada

Thiago Greco
Redação Beta
3 min readNov 19, 2018

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Boca Juniors e River Plates perfilados antes da partida de ida da final da Libertadores 2018 (Foto: Martin Zabala/Xinhua)

Caro leitor, espero que esteja tudo bem com você. Que você tenha se alimentado bem, que tenha descansado e que esteja em uma posição muito confortável. Este magnífico texto que você está lendo vai tratar a respeito de uma rádio uruguaia que optou por narrar a final da Libertadores da América 2019 entre os dois maiores times da Argentina, Boca Juniors e River Plate, do mesmo jeito que vos escrevo: calmo, espaçado, preocupado com seu bem-estar e de uma forma neutra e suave. “Narração apta para cardíacos”, como intitulou a Rádio Colonia AM 500 do Uruguai.

Confira a narração de Eduardo Caimi, comentários de Leonardo Uranga e dicas do cardiologista Gonzalo Díaz Babio para os quatro gols da partida que terminou 2 a 2 na Bombonera:

Para a elaboração da matéria, entramos em contato com um médico cardiologista que atua na área há 33 anos, o Dr. Gilberto Hiwatashi. “Em uma partida tão importante de futebol, que envolve emoção, stress e paixão, há liberação de substâncias importantes ao coração, como adrenalina e noradrenalina, elevando a pressão arterial e a frequência cardíaca, podendo levar, consequentemente, ao infarto do miocárdio”, explica Hiwatashi. Ele compartilha da seguinte opinião sobre a iniciativa da rádio uruguaia. “Realmente uma narração nesse estilo mais calmo, sem mexer tanto com nossas emoções, tende a causar menos danos a uma pessoa com problemas cardiovasculares”, opina.

Contatamos, também, o ex-árbitro de futebol Luiz Ricardo Gomes, 59. Ele que já sofreu três infartos, sacramenta: “achei a coisa mais sem graça. Futebol é emoção. Pessoas cardíacas devem saber seus limites, conhecer seu corpo, para evitar problemas. Agora uma rádio fazer uma transmissão ‘apta para cardíacos’ é a coisa mais sem graça que já vi”.

Voltamos a dar a palavra para o Dr. Hiwatashi. Ele concorda com Gomes, mas com uma ressalva. “As narrações tradicionais são feitas exatamente para estimular estes sentimentos, que, em uma pessoa saudável, não trazem nenhum problema. Porém, para um cardiopata, achei uma ótima forma de prevenção e uma ideia extremamente válida. Como cardiologista, eu recomendaria aos meus pacientes ouvir estas narrações mais calmas. Mas como torcedor, prefiro aquelas que nos provocam emoções e adrenalina!”, confessa.

Para o narrador da Rádio Grenal, Angelo Afonso, 23, a iniciativa da rádio uruguaia é digna de saudação. “Primeiro, pela preocupação com a saúde das pessoas que possuem problemas cardíacos. Mas valorizo também a coragem de propor algo novo justamente na transmissão de um dos jogos mais importantes da história do futebol. O esporte é capaz de mexer com a emoção de milhões de torcedores e é isso que faz dele algo tão relevante e popular”, comenta.

O advogado e torcedor Thiago Martins Agosti, 23, entende o propósito da transmissão, mas diz não aderir. “Entendo a motivação da causa. Muito importante, por sinal. No entanto, por não ter problemas cardíacos, passaria longe de ouvir o jogo nessa rádio, independentemente se meu time estiver envolvido ou não na final”, afirma o torcedor do Grêmio.

A transmissão para cardíacos contou com o apoio da Sociedade Argentina de Cardiologia. Os números de audiência não foram divulgados pela Rádio Colonia.

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