“É preciso uma nova esquerda”, diz pré-candidato do PSOL no RS

Vereador de Porto Alegre, Roberto Robaina acredita em alianças com movimentos sociais para mudar os rumos do Estado

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Redação Beta
6 min readApr 20, 2018

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Por Carolina Zeni, Júlia Ramona Michel, Khael Santos, Milene Magnus e Vitor Brandão

“Nós vamos enfrentar justamente a elite”, pontua Robaina (Foto: Vitor Brandão/Beta Redação)

O pré-candidato ao governo do Estado pelo PSOL, Roberto Robaina é o segundo entrevistado da série Futuro do Rio Grande. Militante desde os 15 anos, Robaina, 50 anos, foi um dos dez parlamentares mais votados do Legislativo gaúcho nas últimas eleições, sendo eleito com mais de oito mil votos.

Formado em História pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Roberto Robaina é presidente do Partido Socialismo e Liberdade no Estado. Participa, ainda, da direção nacional do partido desde 2003, quando deixou de ser filiado ao PT.

Primeiro candidato do PSOL a disputar o comando do Palácio Piratini em 2006, Robaina tentou a eleição a deputado estadual em 2010 e disputou a eleição de 2012 para prefeito de Porto Alegre. Em 2014 tentou novamente o pleito ao Executivo estadual. Sem sucesso. Passados quatro anos, o vereador volta à corrida eleitoral e aposta na força das mobilizações populares como uma nova forma de fazer política.

Robaina não descarta alianças com partidos de esquerda, vistas como uma necessidade para a concepção de uma nova esquerda. Crítico em relação aos privilégios, o pré-candidato acredita que as concessões são as principais adversidades do Estado. Se chegar ao Piratini, pretende combater todo e qualquer tipo de vantagem ou isenção que existam no sistema atual.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, que também pode ser assistida no vídeo abaixo.

Quais os caminhos que o PSOL buscará para criar uma nova política?

Roberto Robaina — Nós queremos fazer com que as pessoas decepcionadas com a política tradicional percebam que precisam se mobilizar e fazer política. Quando estudantes estão protestando ou quando moradores de um bairro pobre da nossa cidade se organizam para lutar pelos seus direitos, eles estão fazendo política. Nós queremos apostar nessa política. Não na política do chamar as pessoas a votar de 4 em 4 anos.

Você foi o primeiro candidato do PSOL a concorrer ao Governo do Estado em 2006 e participou da disputa eleitoral também em 2014. Quais as lições tiradas dessas duas candidaturas para a eleição deste ano?

Robaina — Uma das lições mais importantes é que há pautas que a gente colocou na campanha eleitoral em 2006 e que só agora são realmente reconhecidas. Nessa campanha nós temos um desafio novo, que é lutar contra os privilégios. O sistema de privilégios, assim como o sistema da dívida, inviabiliza o Rio Grande do Sul. Só em isenção fiscal, nos próximos oito anos, nós temos isenções que estão prometidas de cinco bilhões de reais para empresas que não geram empregos. As maiores empresas são aquelas que ganham o maior volume de recursos públicos e isso não pode continuar.

Em uma entrevista para o jornalista Felipe Vieira, você falou que “o sistema é muito poderoso”. Como fazer para quebrar esse modelo de sistema da política brasileira?

Robaina — A chegada do PSOL ao poder justamente é a quebra desse sistema. Isso é uma importante conclusão que nós tiramos da experiência do PT, porque eles aceitaram chegar no poder fazendo um acordo com esse sistema de poder. E o PSOL não tem interesse em fazer esse acordo com as elites e privilegiados. Nós sabemos que para ganhar uma eleição é preciso ter consciência e força. Nós chamamos o povo justamente para discutir quais são as tarefas que estão postas para mudar as situações do Estado e País.

O PSOL sempre traz números expressivos nas eleições para deputados e vereadores. Por que não emplaca nas eleições majoritárias?

Robaina — Eu acho que nas eleições majoritárias é onde as grandes empresas atuam mais. Isso porque os bancos e os privilegiados necessitam ter partidos no poder que respondam a sua lógica. O PT conseguiu crescer muito nos anos 80 e nos anos 90 e só conseguiu chegar no poder depois que fez um acordo com a classe dominante. Isso mostra que, para chegar ao poder pela via eleitoral, é necessário grande poder de mobilização. Então, a maior dificuldade do PSOL é ainda a dificuldade do próprio povo, porque nós queremos apostar no processo de organização dele.

As últimas eleições mostraram um enfraquecimento da esquerda no Brasil. Onde ela errou e o que é preciso fazer para que retome o poder?

Robaina — Primeiro que retomar o poder não é o caso para nós, pois resolvemos sair do PT justamente porque o partido aceitou ser parte do poder reproduzindo a lógica da classe dominante. Na verdade, o PSOL tem crescido. Na última eleição, nós tivemos com a Luciana Genro, candidata a prefeita, 12% dos votos. Se nós somarmos, inclusive, com os votos do Raul Pont, os votos de esquerda, digamos assim, tivemos 30% de eleitorado aqui em Porto Alegre. Nós queremos fortalecer essa ideia de esquerda, mas deixando claro que esquerda para nós é diferente do que foi feito até agora pela esquerda tradicional.

Apesar de ser um partido de esquerda, o PSOL, partido o qual você é fundador, hoje é oposição ao PT?

Robaina — O PSOL tem uma posição distinta da posição do PT porque com o tipo de política que eles desenvolveram acabou fazendo com que houvesse uma grande confusão na população. A ideia de esquerda foi diluída. Esse também é um dos objetivos do PSOL: mostrar que existe a possibilidade de criar uma nova política e uma nova política, do nosso ponto de vista, é onde os trabalhadores e a juventude se apropriem. Não somos oposição ao PT, mas temos uma política diferente.

Qual sua opinião sua sobre a escolha de Guilherme Boulos como pré-candidato à presidência pelo PSOL?

Robaina — Ele é uma boa escolha, porque expressa uma possibilidade do partido de fazer uma aliança com movimentos sociais organizados. Ele é a liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que se fortaleceu nas jornadas de junho de 2013. O grande ponto, e aí são as discussões que tenho com o Boulos, é como vamos nos relacionar com a herança do Lulismo na construção de uma nova esquerda. Tanto o PSOL, quanto o Boulos, como o MTST e vários movimentos de juventude viram a necessidade do País construir uma esquerda que supere a experiência que tivemos com a esquerda tradicional que reproduziu as mesmas lógicas de sempre.

O PSOL tem interesse em fazer coligação com algum partido? E caso não avance para o segundo turno, já tem uma diretriz de qual candidato, qual partido irá apoiar?

Robaina — Não, nós vamos lutar para estar no segundo turno. Sobre alianças, nosso maior interesse é fazer alianças com movimento sociais. Por isso teve aliança com esse movimento que tem força em São Paulo, mas é nacional: O MTST. Do ponto de vista partidário, as relações mais fortes que nós temos é com o PCB, PSTU e PPR. Mas, estamos ainda discutindo. Com o PCB provavelmente a gente feche a aliança.

Pré-candidato, as eleições terminaram. Início do ano que vem, o senhor se muda para o Palácio Piratini. Quando chegar lá, terá ciência da situação em que se encontra o Estado, principalmente, em relação à crise financeira?

Robaina — Nós achamos que temos condições sim de fazer mudanças, mas as mudanças vão exigir combates aos privilégios. Vamos fazer com que os de cima façam sacrifícios e isso vai ter implicações até no salário de secretários e nos salários de governantes. Mas, sobretudo, vai ter impacto na estrutura econômica do Estado. Nós vamos comprar briga com os privilegiados e com os grandes empresários. Agora, a população vai ter que estar consciente dessa necessidade.

A gente vê que as principais dificuldades de um governo para não aprovar os seus projetos está na base governamental. Se você vencer as eleições, como você irá fazer para governar sem essa base?

Robaina — Se tivermos força para ganhar o governo do Estado, pode ter certeza que vai haver muito mais deputados comprometidos com o interesse do povo. Em geral, os deputados resistem em aprovar os projetos do governo, porque são antipopulares. Queremos fazer um governo popular. Na lógica deles, eles atendem os interesses econômicos da classe social que eles pertencem. São todos grandes empresários, políticos tradicionais, ligados a partidos tradicionais. E nós não. Nós vamos enfrentar justamente a elite.

Assista ao vídeo:

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A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.