70 anos de Fernando Baril

Exposição do artista gaúcho traz retrospectiva de sua trajetória

Érika Ferraz
Redação Beta
3 min readJun 30, 2018

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Fernando Baril, o “astro” tão aguardado da noite, entra no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) com um babeiro de bebê em mãos. Ao notarem sua presença, logo as pessoas vinham em sua direção para cumprimentá-lo e parabenizá-lo pela exposição.

“Para quê serve este babeiro?”, perguntou a senhora.

“Para vocês não babarem em minhas obras”, respondeu Baril, brincando sobre as 200 telas presentes na mostra comemorativa aos seus 70 anos.

Baril atendendo ao carinho do público. (Foto: Érika Ferraz/Beta Redação)

Irreverente, irônico, crítico e com uma dose equilibrada de bom humor e sarcasmo. Este é Fernando Baril, que esbanja vitalidade e lucidez. Desde a infância se interessou por desenho. Ingressou na faculdade de Arquitetura na Unisinos em 1971, por medo de não conseguir “viver” da arte. Mas ao ingressar na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, em Madri (Espanha), em 1978, descobriu que realmente preferia os pincéis aos tijolos.

Durante a inauguração, entre uma conversa e outra, Baril atendia as pessoas que estavam no museu para prestigiar suas obras. Muitas eram fãs da terceira idade, que acompanharam sua ascensão como artista, desde a década de 1980, quando passou a ser um nome respeitado na arte do RS.

Me aproximei com minha câmera e perguntei: “Parabéns pela exposição e pelo evento, Fernando... Posso tirar uma foto sua junto a um de seus quadros?”

“Quem foi o pau no c* que inventou a câmera fotográfica, hein?”, respondeu em tom irônico.

O repúdio à câmeras fotográficas, celulares e demais tecnologias do mundo moderno está presente em suas telas, que deixam uma reflexão para o espectador sobre o uso dessas novas tecnologias e o efeito desse uso sobre nós.

“As pessoas estão ficando muito imbecis, tu não vê mais as pessoas olhando um passarinho, elas fotografam o passarinho, e acham que aquilo é dela, a pertence. Cada vez mais estamos nos individualizando: eu tenho a minha música, eu tenho o meu contato. E mais: o que tanto procuram dentro desses celulares?”, indaga.

Diante de uma obra abstrata, uma jovem aproximou-se e perguntou para amiga ao lado: “O que será ele quis dizer com essa pintura?”. As duas ficam em silêncio deixando a dúvida no ar, enquanto observavam as cores.

Baril, após especializar-se em cursos no exterior, como no Ottis College of Art and Design, em Los Angeles (Estados Unidos) e no Emily Carr University of Art Design, em Vancouver (Canadá), abandonou a arte abstrata (essa que as pessoas procuram significados) e passou a trazer obras com uma análise crítica do mundo moderno carregado de bom humor e ironia.

“Só pinto o que todo mundo pensa e não admite”, explica ele.

Uma de suas obras mais polêmicas é o “Cruzando Jesus Cristo com Deus Shiva”, que não estava presente na exposição. Na mostra “Queermuseu”, censurada em setembro de 2017, no Santander Cultural, sua pintura foi fortemente criticada, por reproduzir uma imagem considerada “sagrada” pelos cristãos.

Obra “Cruzando Jesus Cristo com Deus Shiva”, de Fernando Baril (1996). (Foto: Reprodução)

Baril consegue causar no mínimo umas três sensações ao nos depararmos diante de suas telas: pertubação, diversão e reflexão. Naquela noite, as pessoas que o cumprimentavam também traziam consigo a expectativa de “qual será a sua próxima obra”, elogiaram os quadros como “realistas” e “deslumbrantes”.

Baril abraça, agradece e complementa: “O segredo não está na feitura, e sim, na história”.

SERVIÇO

Baril ‘70

Visitação até 4 de setembro, de terças a domingos das 10h às 19h

Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli

Localização: Praça da Alfândega, Centro Histórico, Porto Alegre

ENTRADA FRANCA

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