Faça arte e envelheça bem

A prática de atividades artísticas na terceira idade contribui para manter a saúde mental e física

Iara Baldissera
Redação Beta
4 min readNov 20, 2018

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Desempenhar algum tipo de arte é fundamental para combater a progressão de doenças do envelhecimento (Foto: Pixabay)

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), três em cada quatro idosos têm alguma patologia crônica que necessita de um tratamento longo que pode durar até o fim da vida. Diversos estudos defendem a importância de praticar atividades na terceira idade para combater a progressão de doenças crônicas, neurológicas, respiratórias e cardíacas. Se por um lado realizar exercícios físicos na maturidade diminui o processo de envelhecimento, as atividades artísticas prometem isso e mais: melhoram a saúde mental e proporcionam socialização entre os idosos.

Arte é uma aliada da saúde

A gerontologia é a ciência que estuda o processo de envelhecimento em suas dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Para a educadora, psicóloga e presidente da Associação Nacional de Gerontologia do Estado do Rio Grande do Sul (ANG RS), Zhélide Quevedo Hunter, idosos que fazem algum tipo de tratamento médico podem buscar alternativas de atividades artísticas que, somadas às medicações, influenciam em um melhor resultado no processo.

No mês de setembro, a Associação promoveu um show de talentos voltado à terceira idade. O objetivo da ação foi estimular a diversão e a autoestima dos idosos. Os participantes poderiam apresentar uma música, declamar uma poesia ou outra forma de expressão artística. “A arte, desde a escrita, dança, teatro e pintura são meios que proporcionam energias renovadoras que amenizam as dores, a ansiedade, os sentimentos depressivos e autodestrutivos”, coloca a presidente.

Para Zhélide, o ser humano não é apenas um aglomerado de células e tecidos físicos mas, mais do que isso, é a composição de um “eu” psicológico, social e espiritual. “Pouco a pouco, a natural resiliência do ser humano brota fortalecendo a vontade de viver. A consequência é a melhora da qualidade de vida”, defende.

Daiana Manfroi é assistente social e faz parte da comissão do Fórum Social Mundial da População Idosa. Além disso, ela é responsável pelo Grupo de Convivência do Idoso do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). O grupo tem o objetivo de promover o encontro de idosos com a arte. “Quando assumi esse ofício, os participantes realizavam muitos trabalhos manuais. Agora, o foco é que eles tenham gosto pelo teatro”, relata.

Segundo Daiana, a relação da maturidade com a arte é importante porque o contato proporciona diversos benefícios físicos e mentais. Através do teatro e da dança, os idosos aprendem técnicas de expressão corporal que ajudam na circulação. “A interpretação de textos teatrais é um ótimo aliado à memória. Já no aspecto psicológico, eles começam a se empoderar, a terem a noção de que é possível serem autônomos e independentes. Assim, eles percebem que podem voltar a contribuir com a sociedade de alguma forma”, destaca.

Projeto oferece aulas de teatro para a maturidade

Grupo de artistas da terceira idade apresenta a peça “Doente Imaginário”, de Molière (Foto: Iara Baldissera/Beta Redação)

Com o mesmo propósito da ANG, de incluir idosos em atividades artísticas, o grupo Teatro na Maturidade proporciona, desde 2005, a oportunidade de que pessoas com mais de 50 anos subam aos palcos. As aulas de teatro são gratuitas e acontecem todas as terças no Santander Cultural, em Porto Alegre. O grupo de artistas conta, atualmente, com 15 integrantes. Além das oficinas, a equipe realiza apresentações teatrais em diversos espaços da Capital.

A advogada aposentada Elisa Maria Pastro Paulina, 64, entrou para o grupo de teatro para se realizar pessoalmente. “Quando nos aposentamos, somos excluídos da sociedade. Aqui me sinto plena e feliz. Fui diagnosticada com osteopenia, que é um desarranjo na microarquitetura do osso, uma doença que causa fragilidade e muitas dores. Mas depois da dança eu não sinto mais nada”, garante.

Outra participante do projeto, Eliane Maria Borba Menezes, 60, encontrou no teatro a tranquilidade que procurava. Quando se aposentou, após 30 anos de dedicação ao magistério, foi diagnosticada com Hepatite C. Depois de três anos de tratamento, desenvolveu depressão. Foi quando entrou para o grupo que ela percebeu uma mudança de vida. “Descobri o projeto do teatro e a depressão foi embora. Hoje, não tomo mais remédio”, ressalta.

A coordenadora do projeto, Carmem Soares, 59, é graduada em Artes Cênicas com Especialização em Pedagogia da Arte e Mestrado em Educação e Envelhecimento. O Teatro na Maturidade é uma extensão do Colégio de Aplicação da UFRGS. Para Carmem, o grupo se tornou uma grande família. “Eles se sentem atores e atrizes, realizando um sonho antigo que foi adiado. Eles, com certeza, fazem arte”,conclui.

Teatro na Maturidade proporciona aos alunos a experiência de atuar e subir aos palcos (Fotos: Iara Baldissera/Beta Redação)

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