Mais de 70% dos brasileiros têm o hábito da automedicação

Pesquisa aponta que analgésicos e antibióticos são os principais medicamentos utilizados e profissionais alertam para riscos à saúde

Matheus Vargas
Redação Beta
3 min readMay 14, 2019

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(Foto: Michal Jarmoluk/Pixabay)

Por Vitor Brandão

Pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, constatou que a automedicação foi um hábito comum para 77% dos brasileiros nos últimos seis meses. Desse total, 47% se automedicam pelo menos uma vez por mês e 25% fazem uso de medicamentos todo dia ou, pelo menos, uma vez por semana.

A cuidadora de idosos, Marcia Menezes, 40, pertence ao grupo que se automedica. Ela conta que sofre de enxaquecas frequentemente e que usa medicamentos por conta própria. Na última vez que teve dores de cabeça ela tomou dipirona em gotas e misturou a outros remédios. "Não lembro quais, mas minha pressão caiu e precisei ser internada”, recorda.

O farmacêutico Matheus Lopes acredita que muitas pessoas se automedicam porque os remédios não são produzidos por demanda. “No Brasil, o medicamento não é fracionado apenas para o tratamento, mas vendido em uma caixa fechada, fazendo com que sobrem medicamentos”, declara o funcionário do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP).

Segundo a técnica em Enfermagem, Helen Bohn, o uso incorreto de medicamentos pode agravar doenças ao esconder determinados sintomas. A profissional exemplifica que o uso abusivo de antibióticos pode gerar o aumento da resistência de micro-organismos, comprometendo a eficácia do tratamento.

Mascarar sintomas é um dos efeitos mais perigosos da automedicação. Segundo Lopes, tomar um remédio para aliviar uma dor de cabeça não é errado, mas se essa dor persistir por mais de sete dias, é necessário procurar um médico e realizar exames. “Às vezes, pode se tratar de uma doença muito agressiva, o diagnóstico precoce aumenta a chance de cura”, alertou.

Além disso, nem todo o medicamento age especificamente para sanar determinada doença, podendo levar a interações medicamentosas. Apontado pelo farmacêutico Matheus Lopes como mais um dos perigos da automedicação, as interações medicamentosas são caracterizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como uma resposta à administração de uma combinação de remédios, diferente do uso de duas substâncias administradas individualmente.

Lopes ainda explica que as interações medicamentosas podem ocasionar processos de intoxicação e, até mesmo, a anulação dos efeitos de determinados remédios.

“Se você toma um medicamento para náusea, você tem receptores para esse medicamento em diversas partes do corpo, e não apenas no estômago. Embora no estômago ocorra a maior reação, a substância também agirá no cérebro, causando sono”, alerta.

O expressivo número de brasileiros que se automedica tem preocupado os profissionais da saúde, principalmente quando a questão envolve o uso de antibióticos. Conforme a pesquisa do Conselho Federal de Farmácia (CFF), esse é o segundo tipo de medicamento mais utilizado por conta própria, ficando atrás apenas dos analgésicos e antitérmicos.

O cardiologista Bruno Matte ressalta que mesmo os médicos mais capacitados têm dúvidas ao prescrever uma receita, pois se trata de uma tarefa que exige conhecimento aprofundado. Para ele, a utilização indevida de antibióticos pode acarretar graves alterações na fisiologia do usuário e gerar problemas para a população de forma geral.

“Quando uma população utiliza de forma errada um antibiótico é provável que logo deixe de fazer efeito, uma vez que as bactérias resistentes ao remédio vão permanecendo nas pessoas”, pondera.

Dados apontados na pesquisa realizada pelo do Conselho Federal de Farmácia, em 2019 (Arte: Vitor Brandão/Beta Redação)

O alto número de pessoas que se automedica também causa impactos na indústria farmacêutica. Os números não chamam a atenção apenas do Ministério da Saúde, mas também da Organização das Nações Unidas (ONU), que formulou um ato regulatório sobre propagandas de medicamentos, somente permitindo comerciais de remédios isentos de prescrição médica.

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