A produtora geral do FAR, além de artista circense e professora de circo e educação física, em uma parada de mãos na primeira edição do FAR | (Foto: Ariana Prestes/Divulgação)

A cada esquina, uma intervenção artística

Terceira edição do Festival de Artistas de Rua ocorre em três cidades da Região Metropolitana em outubro

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7 min readSep 23, 2017

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As ruas de Porto Alegre, São Leopoldo e Novo Hamburgo serão ocupadas, a partir do primeiro domingo de outubro, por artistas das mais diversas vertentes. Em sua terceira edição, o Festival de Artistas de Rua (FAR) oferece uma intensa programação, que inclui oficinas, debates, competições circenses e espetáculos em espaços públicos das três cidades metropolitanas. Iniciativa totalmente independente, o evento tem como proposta aprimorar a qualidade da arte de rua no Estado e, principalmente, criar um público admirador do trabalho de artistas de rua.

Outro objetivo é de reforçar a cultura do chapéu, uma característica da rua, a qual inviabiliza a cobrança de ingresso dos espectadores. É o que aponta a produtora geral, a artista Dominique Martins, 32 anos. “Desde o início, há três anos, a proposta do festival é ser independente e valorizar o chapéu. Esta atitude é muito importante, uma vez que trata de ressignificar o ingresso, além de incluir o público de todos os bolsos.”

Filipe Farinha, artista do grupo de teatro e circo Corpos & Sombras, de São Leopoldo, e produtor do FAR desde a primeira edição | (Foto: Divulgação)

A partir da união de artistas, entre eles Filipe Farinha, 38, o Festival de Artistas de Rua nasceu no ano de 2015 em Porto Alegre. Desde a primeira edição atuando na produção do FAR, Farinha afirma que, ao perceber a necessidade de um evento voltado para o artista de rua na capital gaúcha, se idealizou a formação de uma classe artística coesa para a defesa da arte nas ruas. “O evento surgiu com a ideia de despertar um novo olhar para a arte de rua, para a cultura do chapéu e para oportunizar a qualificação do nosso trabalho”, explica Farinha.

Estreia nas ruas de Novo Hamburgo

Neste ano, a programação do Festival de Artista de Rua se estende à Capital Nacional do Calçado. O evento chega ao município hamburguense em uma parceria da produção do festival com artistas de coletivos artísticos locais. Na cidade, o FAR tem como um dos produtores Ben-Hur Pereira, 44, artista do Circo Petit Poa. “A ocupação cultural Casa da Praça se mobilizou junto aos produtores e demonstrou interesse de coprodução para viabilizar a vinda do Festival à Novo Hamburgo”, aponta o artista, que integra a ocupação cultural com mais nove coletivos de diversas vertentes da arte.

Serão diversas apresentações circenses, de música, teatro e dança, além da presença dos integrantes da Casa da Praça, que irão recepcionar o público no Parque Henrique Luis Roessler, o Parcão. Entre as atrações presentes no evento, está a Caravana Bellessa, espetáculo circense do grupo Circo de Bolso, de Novo Hamburgo.

Segundo Pereira, produtor e artista do elenco e também malabarista e palhaço, a presença do público é imprescindível para que esta edição do evento seja um grande sucesso. “O público oferece ao artista de rua o que poderia haver de mais valioso: o seu olhar. Então, sugiro que o público não espere, mas perceba que a sua presença é o que tornará o FAR forte e surpreendente”, confirma o artista.

O palhaço, malabarista e produtor do FAR integra o elenco do espetáculo circense Caravana Bellessa na programação de Novo Hamburgo (Foto: Daniel Fontana/Divulgação)

Atrações de domingo a domingo

A programação do Festival de Artistas de Rua segue até 8 de outubro. Ao todo, são mais de 40 atrações confirmadas para os três municípios em uma semana de evento. As atividades ocorrem nos principais locais das cidades, como o Parque da Redenção, em Porto Alegre, a Praça Amadeu Rossi em São Leopoldo, além do Parcão, em Novo Hamburgo. Já a maioria das oficinas sobre técnicas artísticas será realizada na sala Marcos Barreto, na Casa de Cultura Mario Quintana. Para participar é necessário realizar inscrições pelo site do FAR, pois há limite para o número de participantes.

Esta edição do FAR também promoverá a grande festa Serenata Iluminada. Realizada no Parque da Redenção, se trata de uma manifestação artística que visa unir a comunidade e revitalizar os espaços públicos. Há ainda o Semáforo FreeStyle, que consiste em um verdadeiro espetáculo no semáforo, com direito a som, cartazes, apresentador e premiações aos competidores. Esta é outra atividade que é preciso fazer inscrição devido à limitação de tempo de apresentação.

As ruas de Porto Alegre, durante o FAR de 2016, foram ocupadas pela atração Semáforo Freestyle | (Foto: Ragi Sh/Divulgação)

Além disso, o interesse em formar público contribui para que a produção do Festival de Artistas de Rua reúna atrações das mais variadas linguagens e procedências, despertando a curiosidade daqueles que normalmente consomem a arte de rua ou estão dispostos a consumir. Participante de todas as edições do festival, na Martins, que também é artista circense e professora de circo e educação física, diz que a iniciativa almeja melhorar a visão do público em relação à arte de rua.

“Como a rua é muito livre, está sujeita a profissionais com diferentes níveis de aprendizado. Isso influencia a construção de uma cultura mais avessa do que acolhedora à arte de rua, pois a tendência de generalização é muito grande”, reflete Dominique.

Intercâmbio artístico no Estado

Com inscrições abertas para artistas de todas as regiões do Brasil e, ainda, de fora do país, o FAR conta principalmente com a presença de profissionais de rua, além daqueles que estão interessados em iniciar a carreira artística. Neste ano, participam profissionais de vários países, como Argentina, Chile, Uruguai, Peru, México e França. De outros estados brasileiros, há representantes de Minas gerais, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo.

Uma das participantes vinda de outra região do Brasil é a artista de rua Louisse Aldrigues, 26. Residente, atualmente, de São Paulo, Louisse ainda não conhecia Porto Alegre, motivo que contribuiu ainda mais para ela realizar sua inscrição para a edição de 2016. A artista não se esqueceu da sua primeira apresentação nas ruas da capital gaúcha. “Participei do FAR apresentando meu espetáculo solo O Incrível Mundo da Lua que envolvia malabares, comicidade, mágica, música e equilíbrio. Além disso, estive presente em oficinas e debates da segunda edição do festival”, relembra Louisse.

Espetáculo solo da artista brasiliense Louisse Aldrigues na segunda edição do FAR em Porto Alegre | (Foto: arquivo pessoal)

A artista de rua, natural de Brasília, conta que as despesas com transporte até o Rio Grande do Sul saíram do próprio bolso. Mas, que a produção do evento prestou apoio, à época, para alimentação e hospedagem. “O festival conseguiu apoio de restaurantes, onde os artistas podiam comer todos os dias. Ofereceu, ainda, suporte em relação à hospedagem. Assim, fiquei na casa de um amigo e apoiador da produção do evento”, comenta.

De fato, a maioria dos artistas não recebe ajuda financeira para se deslocar até o Estado. O evento incentiva a hospedagem solidária que funciona como um couch surfing — serviço de hospitalidade com base na internet — excluindo os gastos de estadia. Já os artistas convidados para cada edição do evento são custeados pela Casa de Cultura Mario Quintana.

Democratização do acesso à arte

Todas as atrações do Festival de Artista de Rua são ao chapéu, inclusive a organização e realização do próprio evento. A antiga tradição retrata a realidade do artista de rua, permitindo cobrir, ao menos, os custos de logística e divulgação com a contribuição espontânea do público. Tanto os produtores, como os artistas, não recebem nenhum valor pela organização da iniciativa. Mas, há o desejo de torná-la autossustentável, para trazer retorno financeiro aos artistas e à produção.

A artista e produtora geral do FAR ainda afirma que o público é o principal incentivador por ter ou não o artista na rua. “A arte não tem preço. Nenhum valor monetário paga a dedicação de uma vida inteira de um profissional que não mede esforços para compartilhar com a plateia a sua arte”, declara Dominique. Da mesma forma pensa Filipe Farinha, que se orgulha ao dizer que o evento visa um circuito gaúcho de artes. Para o próximo ano, além das três cidades desta edição, há a articulação para a inclusão de mais duas. “Esta terceira edição é uma construção que merece nosso carinho, atenção e dedicação para receber esses artistas e produtores que vêm de várias partes do mundo e não de graça”, retrata Farinha, reproduzindo um pensamento de que o evento tem a missão de oportunizar novas reflexões no que diz respeito ao desenvolvimento da sociedade, como a ocupação dos espaços públicos com intervenções artísticas.

Confira abaixo as datas e horários das atrações em Porto Alegre, São Leopoldo e Novo Hamburgo deste terceiro ano do Festival de Artistas de Rua.

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