Uma promessa do esporte, Leonardo Oliveira, 25 anos, treina chutes a gol. (Foto: Artur Colombo/Beta Redação)

A conquista do penta e os desafios do futebol 5

Mesmo após o título mundial, conheça as barreiras que ainda afetam a modalidade e entenda um pouco mais sobre o esporte que realizou o sonho dos brasileiros de levantar mais uma taça

Artur Colombo
Redação Beta
Published in
5 min readJun 25, 2018

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No último domingo (17/6), enfrentando um de seus maiores rivais, a seleção brasileira de futebol 5, modalidade destinada a atletas com deficiência visual, conquistou o penta no Mundial ao marcar 2 a 0 na Argentina. Mesmo com a vitória, atletas de futebol 5 continuam buscando mais reconhecimento e torcem por cada nova conquista que possa colocar o esporte no foco das lentes.

Um desses atletas é Leonardo Oliveira, de 25 anos, que pratica o esporte pela Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs) há cinco anos. Leonardo conta que ficou muito feliz ao ver o narrador Galvão Bueno falar do pentacampeonato, conquistado pela seleção de futebol 5, em rede nacional. Alegria semelhante ele teve alguns anos atrás, quando ouviu Galvão narrar um gol de um de seus ídolos: o atleta paraolímpico Ricardo Steinmetz Alves. Ricardinho, como é conhecido, é um dos atletas mais famosos que já passaram pela Acergs e que hoje jogam na seleção.

Apesar da satisfação com a conquista, Leonardo desabafa ao dizer que é muito comum ver o esporte na mídia somente quando há uma grande vitória da seleção, mas as origens dos atletas, os locais onde cada um começou e os campeonatos de base ficam de lado. “A transmissão está onde a seleção está”, diz ele. Mesmo assim, o atleta acredita num futuro cada vez melhor para o esporte. E ele se inclui nesse futuro: quer jogar em campeonatos por no mínimo mais seis anos. Depois, pretende ter o esporte apenas como hobby. “Comparado a cinco anos atrás, hoje está bem melhor, mas ainda acho que pode melhorar. Principalmente em relação à divulgação do esporte, ao financiamento, por exemplo, nos campeonatos”, explica. Ele ainda fala da falta de estrutura que os atletas enfrentam: “Conversando com atletas de outros estados, é muito comum tu encontrar times que lutam para conseguir um ginásio para treinar ou que treinam sem o equipamento necessário”.

Atletas da Acergs passam por treinos intensos, em sua maioria visando situações de jogo, orientados pelo técnico André Leal. (Foto: Artur Colombo/Beta Redação)

Essas questões com relação ao esporte também permeiam a vida de Paulo Welter, só que há mais tempo. Paulo é veterano no esporte, tem 53 anos e joga pela Acergs desde 1988. Ele viu muitas pessoas começarem no esporte, inclusive Ricardinho, que, segundo Paulo, chegou a treinar com ele em uma determinada época. Assim como Leonardo, Paulo admite que há um problema sério no esporte que é a pouca divulgação. “Não temos o espaço (na mídia) que deveríamos ter, mas isso está melhorando. Na última Paraolimpíada que tivemos, por exemplo, teve uma boa repercussão nas TVs fechadas. Mas é aquela repercussão que acontece de dois em dois anos, ou de quatro em quatro anos”, avalia. Ele explica que esses espaços são importantes não apenas para divulgar o esporte, mas para atrair atletas. E dá um exemplo: “Imagina um jogador de futebol que por algum motivo fica cego. Ele precisa saber que há formas de continuar jogando, que ainda há um espaço para ele no futebol profissional”.

Bola no pé e a vitória em mente

O técnico do time, André Leal, conhecido entre os atletas como Caxias, explica que o time da Acergs nesse momento treina para dois campeonatos: o Regional Sul, que acontece no dia 2 de julho em São Paulo, e a Série A, que ocorre em novembro. “No ano retrasado ficamos em terceiro nos dois campeonatos, e no ano passado, em segundo. Sempre brinco com eles que eu quero é trocar a cor da medalha, e agora só temos o primeiro pra conquistar, mas acredito que vai ser um campeonato bem difícil. De qualquer forma, nosso objetivo é chegar na final”, conta.

Da esquerda para a direita: o auxiliar Jesun Roleto; os atletas Luciano Barbosa, Paulo Welter, Leonardo Oliveira, Christian Welter e Edson Claudiano da Silva; e o técnico André Leal. (Foto: Artur Colombo/Beta Redação)

Paulo também está confiante para as competições. Ele lembra que as semifinais e a final da Série A do ano passado foram transmitidas pelo SportTV e espera que, neste ano, a transmissão seja de uma conquista da Acergs. “Cada vitória dessas é um espacinho novo na grande mídia que a gente ganha”, explica.

Leonardo acrescenta que, desta vez, o SportTV vai ampliar a cobertura da Série A, transmitindo não só as semifinais e final, mas sim um jogo por dia. Apesar de ainda não ser o campeonato por completo, Leonardo se mostra satisfeito: “Já está ótimo, imagina se a gente é um desses jogos”.

O que é futebol 5

Segundo a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), o futebol 5 é praticado por atletas cegos que utilizam vendas nos olhos. As vendas servem para evitar qualquer possível vantagem de algum jogador — por exemplo, se algum atleta possuir uma percepção luminosa. Já o goleiro não utiliza a venda e não é deficiente visual.

Confira outras informações abaixo, em uma cartilha divulgada pelo Ministério do Esporte brasileiro para os jogos Paraolímpicos de 2016:

Segundo a CBDV, o futebol 5 entrou para o programa dos Jogos Paraolímpicos em Atenas/2004. Desde a estreia, todas as edições foram vencidas pelo Brasil. (Foto: Divulgação/Ministério do Esporte/2016)

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