Tramandaí recorre a WhatsApp e atendimento domiciliar para enfrentar coronavírus

Sem casos confirmados até terça-feira (31), a segunda maior cidade do litoral norte gaúcho busca alternativas para evitar sobrecarga e barrar contaminação na rede de saúde

Henrique Bergmann
Redação Beta
4 min readApr 1, 2020

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Seguindo a orientação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Capital das Praias fechou o comércio, as escolas, cancelou eventos e aumentou o trabalho dos funcionários do sistema de saúde. Tramandaí é mais uma das cidades do Brasil que tiveram que mudar totalmente sua rotina por conta do novo coronavírus.

O secretário municipal de Saúde, Luciano Saltiel, afirma que o município já tomou as medidas para evitar o crescimento da contaminação. “O isolamento social é a arma mais eficaz para conter o vírus econômica e cientificamente, já que ainda não temos vacina ou remédio contra a doença”, diz Saltiel.

Além da preparação de estrutura física e de materiais para os prováveis casos a serem confirmados, outra medida eficaz adotada pela cidade na batalha contra o vírus é a do atendimento domiciliar. “Criamos um canal de contato via WhatsApp com a comunidade, quase como uma regulação dos pacientes sintomáticos respiratórios (que são os casos prioritários para a realização dos testes para covid-19). Nós recebemos o aviso, analisamos e mandamos médicos e enfermeiras atenderem os cidadãos em casa, recomendando que eles permaneçam em isolamento”, relata o secretário.

Na análise da prefeitura, esse foi um grande acerto da gestão da crise. A medida, segundo Saltiel, mantém pessoas com sintomas claros da nova doença longe do convívio social e principalmente do sistema de saúde local (se não houver necessidade de internação), evitando um possível contágio por parte dos profissionais da saúde, que já são poucos na cidade. O atendimento domiciliar está sendo utilizado também para a vacinação da gripe suína (influenza H1N1) na cidade.

Para Martha Viveiros, enfermeira há um ano e meio do posto de saúde de Tramandaí, o atendimento domiciliar traz benefícios a todos no município. “Conseguimos evitar, principalmente, aglomeração nos postos e hospitais. Não podemos deixar que um grande número de médicos e enfermeiros sejam contaminados porque, senão, quem irá cuidar de nós, profissionais da saúde?”, questiona a enfermeira.

Martha relata que vive dias difíceis, com muito trabalho e preocupações, mas que entende que esse esforço a mais “vai valer a pena” se conseguirem evitar que uma grande parte de Tramandaí seja contaminada e sofra com a doença.

Secretário Luciano Saltiel diz que Tramandaí já preparou espaço com respiradores nas UPAs da cidade. (Foto: Câmara de Vereadores de Tramandaí)

Volta das atividades comerciais

Mas a recomendação da prefeitura para manter os moradores em isolamento social vem se mostrando muito difícil. A partir de pressão popular, principalmente dos comerciantes locais, a prefeitura decidiu liberar a reabertura do comércio a partir do dia 1º de abril, exigindo normas e regras para evitar grandes aglomerações em seus estabelecimentos. No fim da noite desta terça-feira (31), entretanto, o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou decreto proibindo o funcionamento do comércio em todo o estado até 15 de abril.

Para o secretário de saúde Luciano Saltiel, as últimas afirmações do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) contra o isolamento são o principal fator que incentiva a pressão popular. “Foi um desserviço à comunidade brasileira. E falo como um eleitor que votou nele. Com esse posicionamento dele, eu não votaria. O discurso tirou potência de uma ferramenta importante que é o isolamento social. O presidente nega uma questão que é evidente, com comprovação científica”, opina Saltiel.

Os moradores dividem opiniões sobre o isolamento ser ou não necessário. Cristiani dos Santos, dona de um salão de beleza em Tramandaí, diz que compreende os autônomos que decidem trabalhar mesmo com a pandemia. “Creio que existem muitas pessoas que não podem deixar de trabalhar. Eu ainda estou com o salão fechado porque meu marido tem renda fixa. Mas se eu fosse sozinha, com contas a pagar, precisando comprar comida para os filhos, eu já teria voltado a trabalhar. Não teria nem parado”, confessa a cabeleireira.

Carlos Eduardo Pereira, recepcionista da Caixa Econômica Federal, concorda que o isolamento ainda é a melhor maneira de evitar o aumento da pandemia. Contudo, Pereira é sensível à situação de quem não pode seguir a medida por motivos econômicos. “Não acho que precise ser obrigatório (o fechamento do comércio). Quem realmente necessita trabalhar ou deseja manter aberto seu estabelecimento, deve ter o direito de fazer”, aponta.

O recepcionista também relata quais medidas que a Caixa, que não parou suas atividades nesse período de isolamento social, vem tomando para evitar aglomeração na agência da cidade. Algumas delas poderão ser replicadas e adaptadas para outros estabelecimentos na cidade. “O horário do banco mudou. O que antes era das 10h às 15h, passou a ser das 10h às 14h e somente para atendimento social, como fundo de garantia, INSS etc. E das 9h às 10h fazemos o atendimento social exclusivo para o grupo de risco. Também precisamos tomar certos cuidados. Colocamos óculos de proteção, máscara, luva, álcool em gel e não temos contato direto com o cliente, mantendo a distância de 1,5 metro”, conta Pereira.

Ele ainda relata que o fluxo de pessoas já diminuiu bastante com essas medidas. Antes da pandemia, cerca de 23 funcionários atendiam 300 clientes por dia. Agora, são apenas 6 funcionários para 50 a 60 clientes diários.

Até terça (31), Tramandaí ainda não possuía casos confirmados de covid-19. Foram 24 casos descartados e 4 ainda sob análise antes da data. Segundo a Secretaria de Saúde, os testes são disponibilizados pelo governo do Estado. Depois de realizados, são mandados para laboratórios em Porto Alegre e levam 4 dias para voltar com o resultado.

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