(Foto: Júlia Ramona/Beta Redação)

A rainha do crime nunca sai de cena

Nova adaptação para o cinema do livro “Assassinato no Expresso Oriente” reforça o legado de Agatha Christie no gênero policial

Júlia Ramona Michel
Redação Beta
Published in
7 min readNov 10, 2017

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Um homicídio. Doze suspeitos. A desconfiança recai sobre todos a bordo do Expresso Oriente — o mais luxuoso trem que liga a Ásia à Europa. No comboio também está o famoso detetive Hercule Poirot, que tem a responsabilidade de desvendar todo o mistério que envolve o assassinato brutal de um dos passageiros. Este é o início da trama de Assassinato no Expresso Oriente, livro escrito por Agatha Christie, publicado em 1934.

Arrisque um palpite sobre quem é o responsável pelo assassinato do gângster Ratchett (Johnny Depp).

A história, repleta de suspense, ganhará uma nova adaptação cinematográfica, com estreia marcada no Brasil para 30 de novembro. Com direção de Kenneth Branagh, que também interpreta o detetive belga Hercule Poirot, o filme tem roteiro adaptado por Michael Green, incluindo no elenco nomes consagrados como Penélope Cruz, Johnny Depp, Daisy Ridley, Michelle Pfeiffer e Willem Dafoe. O romance policial que inspirou a produção para o cinema resgata, na memória dos fãs, uma das maiores obras da escritora inglesa e perpetua o sucesso da autora considerada a “rainha do crime”.

Veja o trailer abaixo:

Três gerações de fãs

Reconhecida por sua produtiva e exitosa carreira, Agatha Christie (1890–1976) começou a criar histórias voltadas aos romances de detetives durante a Primeira Guerra Mundial. Suas obras, escritas há quase um século, são admiradas por leitores das mais diversas idades, como ocorre na família de Daysi Fischer Mosmann, de 60 anos. A artista plástica e comerciante conta que se tornou uma admiradora dos livros da autora inglesa graças ao acervo pessoal de sua família. “Minha mãe sempre leu muito e, por isso, tínhamos diversos livros em casa. Dentre os títulos estavam os livros de Agatha Christie”, conta.

Obras como Uma Dose Mortal e Assassinato no Expresso Oriente são alguns dos livros que Hedviges Erkens Fischer, 83, mãe de Daysi, ainda guarda em sua casa. A aposentada recorda que começou a ler as histórias policiais de Agatha Christie no início da vida adulta. “Eu sempre gostei muito de ler e sempre busquei bons autores e boas histórias. No caso de Agatha Christie, como ela sempre foi muito famosa, seus livros eram de fácil acesso nas bibliotecas”, explica.

Agatha Christie trabalhou em um hospital e em uma farmácia durante a Primeira Guerra Mundial e, em seu tempo livre, dedicava-se à escrita de histórias de suspense. (Foto: Júlia Ramona/Beta Redação)

Consagrada como uma das autoras que mais venderam livros no mundo, Agatha Christie, em seus 56 anos de carreira, ficou conhecida por seus 66 romances de detetive e 14 coleções de contos. A escritora, além das histórias de suspense, publicou seis romances sob o pseudônimo de Mary Westmacott. E é em decorrência dessa grande capacidade de criar tramas envolventes e repletas de mistérios que a escritora, ainda hoje, é revisitada por novos leitores.

(Foto: Reprodução de www.agathachristie.com)

A escritora inglesa também está no Guinness Book of World Records, como a autora mais vendida no mundo, com mais de 4 bilhões de cópias em 103 idiomas.

Não foi diferente no caso da economista Gabriela Mosmann, 26. A filha de Daysi e neta de Hedvige relata que sempre teve interesse por histórias de suspense e, logo, tornou-se uma fã da autora. “Eu comecei a ler Agatha Christie na adolescência, por volta dos meus 15 anos. Mas, ao mesmo tempo, eu sempre conheci as obras devido à fama dela.” A jovem ainda revela que está curiosa para assistir à nova adaptação que traz o detetive Hercule Poirot em ação.

“Gosto muito do suspense que ocorre dentro do trem e de como os investigadores são envolvidos na trama, não apenas o Poirot, mas também o seu ajudante. E, como eu sempre adorei os livros do detetive, tenho muito interesse em assistir a esse novo filme”, comenta a leitora Gabriela.

Fonte de inspiração

Agatha Christie não foi apenas capaz de despertar o gosto pela leitura em milhares de pessoas. A inglesa também é referência para outros autores. Por volta dos 12 anos, a escritora e jornalista Maristela Scheuer Deves, 42, debruçava-se sobre as páginas de O Mistério do Trem Azul. O exemplar de capa dura, publicado em 1928, pertencia à mãe e chamou a atenção de Maristela pelo título. Foi então que a admiração pelas obras de Agatha Christie não parou de crescer, servindo, também, como fonte de inspiração.

“Quando pequena eu já queria ser escritora, mas o contato com a obra de Agatha Christie me fez enveredar pelo gênero policial”, diz a escritora Maristela.

Versão de O Mistério do Trem Azul, com tradução de Carlos André Moreira, da Coleção L&PM Pocket. Na história, Ruth Kettering, uma jovem atraente e riquíssima, é assassinada com um pesado golpe na cabeça. (Foto: Júlia Ramona/Beta Redação)

O primeiro livro da escritora gaúcha, publicado em 2010, é justamente um romance policial, intitulado A Culpa é dos Teus Pais. Outros gêneros literários, como mistério infanto-juvenil e literatura infantil, também integram as obras da escritora e jornalista.

Escritora Maristela Scheuer Deves em sessão de autógrafos na Feira do Livro de Farroupilha de 2016. (Foto: Arquivo pessoal/Facebook)

Uma grande fã de histórias de suspense, Agatha Christie escreveu, em 1920, o seu primeiro romance, O Misterioso Caso de Styles, que foi rejeitado por seis editoras antes de ser publicado. O sucesso da escritora inglesa veio apenas seis anos depois, com a obra O Assassinato de Roger Ackroyd.

Em seus romances, a autora inglesa criou os detetives Hercule Poirot e Miss Jane Marple, dois personagens emblemáticos para o gênero policial. (Foto: Júlia Ramona/Beta Redação)

Entretanto, a consagração na literatura policial foi a partir da criação de dois personagens: Hercule Poirot e Miss Marple. De acordo com a escritora Maristela Scheuer Deves, é impossível pensar no gênero policial sem remeter a Agatha Christie. “Ainda hoje ela é a maior representante dessa literatura e teve a habilidade de criar um estilo que é referência para quem escreve policial. Não é à toa que é conhecida como ‘rainha do crime’”, observa.

Sucesso incontestável

Na história da literatura popular mundial, Agatha Christie é a romancista mais bem-sucedida. Segundo o Index Translationum, banco de dados de traduções de livros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a inglesa é também a autora mais traduzida em todo o mundo, com 7.236 traduções de seus contos, romances e peças teatrais.

No Brasil, uma das editoras responsáveis pela tradução de obras da escritora é a L&PM Editores. Localizada em Porto Alegre, a editora oferece diversas versões — e-book, pocket e com ilustrações — do livro Assassinato no Expresso Oriente, por exemplo. E a jornalista Petrucia Finkler é a tradutora da edição mais recente da L&PM.

Com inúmeras edições desde a primeira publicação, em 1934, livro coleciona diversas capas. (Foto: Júlia Ramona/Beta Redação)

Após um longo período morando nos Estados Unidos, a jornalista fez um teste como tradutora na editora e, em seguida, passou a trabalhar com as obras de Agatha Christie. Conforme ela, um dos desafios no processo de tradução é manter a fidelidade das palavras da autora inglesa.

“O mais difícil é encontrar a tradução adequada para certas expressões e fazer rimas quando há alguma. É preciso ter a compreensão plena dos duplos sentidos e das brincadeiras da autora para conseguir leveza e passar essas sensações para o português”, explica Petrucia.

Além disso, com o lançamento da segunda adaptação para o cinema de Assassinato no Expresso Oriente, uma das versões da obra editada pela L&PM Editores, e traduzida pela jornalista, ganhou uma nova apresentação. O volume tem impresso em sua capa imagens do luxuoso trem e do personagem protagonizado por Kenneth Branagh.

O luxuoso trem Expresso Oriente e o famoso detetive Hercule Poirot, da nova adaptação para o cinema, ilustram a capa de uma das novas versões, editada pela L&PM Editores. (Foto: Júlia Ramona/Beta Redação)

A partir desse contato intenso com os romances policiais, a jornalista gaúcha se tornou mais uma grande fã da autora inglesa. Petrucia afirma que adorou saber que uma nova produção para o cinema estava sendo filmada e acredita que a nova adaptação cinematográfica contribui para disseminar, ainda mais, o trabalho fantástico e prolífico da escritora. Mas, ao mesmo tempo, reflete: “Não sei se a obra da Agatha Christie precisa de um resgate, ou se isso seria um resgate, já que ela nunca saiu de moda e nem caiu no esquecimento.”

Estreia no cinema

Em 1974, chegava às salas de cinema a primeira adaptação da obra de Agatha Christie, Assassinato no Expresso Oriente. O filme britânico teve a direção do cineasta norte-americano Sidney Lumet. Com o premiado ator inglês Albert Finney interpretando o detetive belga Hercule Poirot, a produção se destacou nas premiações da indústria cinematográfica, uma vez que recebeu seis indicações ao Oscar. A consagração veio com a categoria de melhor atriz coadjuvante pela atuação de Ingrid Bergman. Assista ao trailer:

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