A toca do coelho que esconde um turbilhão de possibilidades

Exposição sobre “Alice no País das Maravilhas”, clássico de Lewis Carroll, fica no Iguatemi Porto Alegre até dia 8 de abril

Milena Riboli
Redação Beta
10 min readMar 24, 2018

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Uma fila grande de crianças e adultos ao lado do shopping Iguatemi chama atenção de quem passa pelo local. Mais uma sessão da mostra, que comemora os 35 anos do centro comercial, está para começar. A exposição “Alice — A Wonderland Adventure”, pela primeira vez na América Latina, foi inaugurada há dois anos em Roma, na Itália. Exibida em inúmeras cidades europeias e estadunidenses, é uma das oito atividades itinerantes da Grande Exhibitions, produtora de sede australiana.

Fachada da exposição, espaço que todos podem esperar até o horário certo para entrar no local. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

Revolucionando o gênero literário nonsense, Charles Lutwidge Dodgson, sob o pseudônimo pelo qual ficaria mais conhecido futuramente, Lewis Carroll, publicou As Aventuras de Alice no País das Maravilhas. Mais tarde, a obra, ficou conhecida como pelo público apenas como Alice no País das Maravilhas.

Neste box você entende melhor o gênero literário nonsense. (Imagens: Walt Disney Pictures. Card: Milena Riboli/Beta Redação)

O gênero se caracteriza por contar histórias ou narrar poemas sem sentido, coerência, nexo ou lógica. Por vezes essa estética do nonsense pode ser usada com propósitos humorísticos, o que é bastante presente na obra de Carroll.

Tudo começa quando Alice — que mais adiante na história dos livros revela ter “sete anos e meio”— começa a sonhar. Sem consciência de estar vivendo um sonho, cai pela toca do Coelho Branco após avistá-lo passeando em seu jardim.

Alice é extremamente educada e demonstra isso ao longo da narrativa. Mas, isso não a impede de perder a paciência de vez em quando, nos momentos em que é testada pelos personagens. Dali a história se segue, ficando cada vez mais insana, até o momento em que a menina acorda assustada, e percebe que tudo foi obra de sua imaginação.

A Alice da animação da Disney, de 1951, foi desenvolvida para ser um pouco mais velha que nos livros, tendo, portanto, 12 anos de idade. (Fonte: Walt Disney/giphy.com)

É através da tecnologia Sensory4 que o shopping faz a história de Carroll ganhar vida mais uma vez, mesmo após tantos anos desde a publicação original. Em cinco espaços diferentes, os visitantes passam por alguns dos lugares mais memoráveis da história maluca de Alice. É possível fotografar — sempre sem o uso do flash, é bom ressaltar — gravar, interagir e, claro, apreciar as informações e os itens expostos.

Os atores pintados e vestidos como cartas recepcionam a todos e conversam com as crianças, em uma espécie de quiz de conhecimento sobre a história. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

Logo na entrada, duas pessoas caracterizadas como cartas de baralho convidam todos a conhecer o espaço, onde ladeiam um grande ás de copas gigante. A sala localizada atrás do ás também é composta por cartas em volta das paredes.

Imediatamente, uma chuva de mini cartas de papel cai sobre a cabeça de todos. As crianças, é quase desnecessário dizer, já ficam maravilhadas e ainda mais empolgadas pelo que virá na sequência. Enquanto isso, tentam coletar quantas cartas em miniatura possam recolher.

Em uma segunda sala, em um formato mais retangular, estão dispostas uma grande tela, um expositor de vidro com itens do autor e sua obra, e cards com informações e curiosidades das personagens mais famosas da história. Por fim, quase à porta da terceira sala, um grande relógio, que remete ao usado pelo Coelho Branco, chama a atenção de todos.

É aqui que as crianças começam a interagir com o espaço, quando os atores, caracterizados como cartas, fazem perguntas de conhecimento geral, pedindo, em seguida, ajuda para achar o par de luvas do Coelho Branco. Uma vez encontradas, os atores convidam todos para uma viagem pela toca do coelho.

Sob a redoma de vidro estão dispostos diversos objetos, que vão desde fotos de Lewis Carroll, fotos de Alice Liddell (a garotinha que inspirou a história) e suas irmãs, e artigos que remetem diretamente à história. (Fotos: Milena Riboli/Beta Redação)

Este terceiro espaço tem o aspecto de um túnel composto de galhos e ramos de árvores, de onde pendem diversos objetos também relacionados às histórias de Lewis Carrol, tais como relógios, tabuleiros de xadrez, mapas do mundo, chapéus, globos terrestres, quadros de fotos, cadeiras e estantes de livros.

Esses objetos, por vezes, se encontram de cabeça para baixo, realmente dando a ideia de que estão flutuando, perdidos na imaginação bastante fértil da jovem Alice, mesclando elementos da primeira e da segunda história. É passando brevemente por essa sala que os atores, ainda trajados como cartas, se despedem, para que dessa forma entrem em cena outras personalidades da narrativa.

Corredor que simula a “toca do coelho”, composto de elementos que lembram galhos e musgo, recheado com objetos que estão de ponta cabeça. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)
Com dois livros, cada um com cerca de 220 páginas, é comum que ocorram algumas confusões entre as histórias e suas diversas adaptações. (Imagens: Walt Disney Pictures. Card: Milena Riboli/Beta Redação)

A quarta sala é bastante ampla e tem formato circular, onde 17 telas gigantes se encontram dispostas, prontas para contar, mesmo que de forma breve e resumida, a história tecida por Carroll.

Mostrando animações desenhadas especialmente para a exposição de maneira perspectiva, é possível acompanhar os personagens por diversos ângulos ao se observar duas ou mais telas de forma simultânea. Uma mais central, é dedicada a mostrar ilustrações originais da obra — eternizadas pelas mãos de John Tenniel — juntamente com trechos da história resumida.

Neste espaço, todos são livres para sentar no chão ou nos pufes espalhados pela sala, criando um ambiente que remete muito ao de contação de histórias. Momentos comuns nas creches, bibliotecas ou mesmo na casa dos pais, avós e tios, durante a infância. É aqui que os visitantes passam mais tempo: cerca de 40 minutos dos 60 totais que a mostra tem são gastos aqui. Isso, porém, nem de longe torna as coisas enfadonhas.

Foto de visão panorâmica da sala onde acontece a contação de histórias. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

A cada pouco alguns atores entram em cena — dessa vez quem aparece é a Alice e o Chapeleiro — para, novamente, convidar as crianças a buscarem algo ou responderem alguma pergunta. Dessa maneira, o espetáculo incorpora trejeitos do teatro em meio à contação de histórias, mantendo as crianças ocupadas e não tornando a experiência desgastante ou enjoativa.

No momento chamado de “Hora do Chá”, os atores que interpretam o Chapeleiro, o Coelho Branco e a Alice interagem entre si e com os pequenos. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

Ao fim da versão sucinta da história, os participantes passam por um corredor em formato de sucessivos buracos de fechadura, até então iluminados por luzes azuis, que passam a brilhar multicoloridas alternadamente.

Corredor que ligava as salas quatro e cinco, no formato de “buraco de fechadura”, algo que aparece muito ao longo das aventuras de Alice. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

O final do corredor revela um espaço com dois grandes brinquedos infláveis, sendo um inspirado no labirinto presente nas terras da Rainha de Copas, e algumas surpresas. Há também uma mesa de chá, onde é possível se sentar para tirar fotos, espelhos que distorcem a imagem daqueles que param à frente dos mesmos, e painéis com rosto vazado onde o visitante pode, momentaneamente, virar Alice, Chapeleiro ou a Lebre de Março.

Mais ao final, há um xadrez gigante, cartas de compensado, um espaço com blocos gigantes para montar, loja de produtos licenciados, um café, dois painéis interativos, algumas personagens em madeira e pufes, alguns no formato de gigantes cogumelos.

Um dos painéis permitia que os visitantes montassem as personagens como quisessem, podendo misturar partes do corpo de outras, sendo todas as peças magnéticas. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

O outro painel, mais tecnológico, por sua vez, permitia que o visitante descobrisse trechos de animação conforme ia clicando em figuras cujas silhuetas estavam em destaque,sendo projetadas em uma parede.

Sem dúvida, a exposição foi idealizada para que as crianças pudessem se divertir e se engajar em diversas atividades, mas certamente não deixa a desejar para os adultos, que mesmo com olhos mais vividos e menos inocentes ainda conseguem aproveitar a beleza e a riqueza do universo criado por Carroll.

É o caso de Alessandra Veronese, 32 anos, recepcionista. Acompanhando as filhas gêmeas, Laura e Luísa, 7 anos, ela conta que não são apenas as meninas que são apaixonadas pelo mundo de Alice. “Gosto muito dos filmes, também”, diz animada.

Alessandra junto às filhas gêmeas, Laura e Luísa, que brincavam construindo uma estrada de blocos. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

Realmente, a história de Carroll encanta crianças e adultos do mundo inteiro, sendo considerada uma das grandes obras da literatura britânica e também mundial. Traduzida para mais de 125 idiomas diferentes (incluindo Esperanto, a língua artificial mais falada no mundo), a obra contou com mais de 100 edições só na língua inglesa.

Bem costurada, a história faz referências à matemática (visto que Carroll também era matemático), a outras línguas, como o francês, e até mesmo a questões históricas, como a Guerra das Rosas, uma série de lutas da época da dinastia entre as casas York e Lancaster, que disputavam o trono da Inglaterra.

Mães e amigas, as advogadas Patrícia Mente Scherer, 39 anos, e Tathiana Okada Marques, 36 anos, conversavam enquanto as filhas se ocupavam com a montagem de prédios e estradas com os blocos grandes de peças, localizados mais ao fundo da última sala da exposição.

No local já pela segunda vez, Patrícia considera a imersão válida ao pequenos, mesmo que, em alguns casos eles aproveitem mais a parte dos brinquedos, realmente. Alice, filha de Patrícia, e Cecília, filha de Tathiana, faziam parte do grupo de crianças com disposição de sobra para brincar, o que mudava um pouco sobre o restante da exposição, que não a atenção dos pequenos.

Patrícia Scherer (esquerda) com a filha Alice, no colo, e Tathiana Marques (direita) ao lado de Cecília. (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

Alessandra conta que a gêmeas, em razão de serem um pouquinho mais velhas, acabam aproveitando o melhor dos dois universos: “Elas gostam tanto da parte de contação de histórias — prestam bastante atenção — quanto da parte aqui das brincadeiras. Como elas têm 7 anos, conseguem aproveitar um pouco melhor que as crianças mais novas.”

Este fator, é claro, não faz com que Alice ou Cecília gostem menos do universo de Alice — pelo contrário: “[A Alice] já conhecia a história de antes, gosta muito”, conta Patrícia. Com relação a Cecília, Tathiana revela que a filha também já conhecia a história, mas de uma outra forma. “O que ela sabia era uma versão um pouco mais lúdica da narrativa, pensada mesmo pra crianças da idade dela”, finaliza.

O Gato de Chesire na animação da Disney, de 1951. (Fonte: Walt Disney/giphy.com)

Tanto “As Aventuras De Alice No País Das Maravilhas” quanto “Alice Através Do Espelho E O Que Ela Encontrou Por Lá” foram livros readaptados inúmeras vezes até os dias atuais, o primeiro tendo feito mais sucesso, no entanto. São mais de 20 adaptações para o formato de filme, que já foi produzido como cinema mudo, stop motion, live action, animação e até mesmo exclusivamente para a televisão.

Uma das versões mais famosas é a animação da Disney, de 1951. Recentemente, em 2010 e 2016, Tim Burton também fez sua própria versão, esta em dois filmes, o que acabou por reviver as histórias de Carroll. Além disso, Alice no País das Maravilhas também foi para os teatros, virou mangá, série de televisão, musical e até mesmo documentário.

Na música as coisas não foram muito diferentes: inúmeros artistas se inspiraram nas aventuras de Alice, seja quanto às letras de suas canções, à estética de seus vídeos ou ambos. Abaixo você pode conferir uma playlist com diversas músicas inspiradas, de alguma forma, pelas histórias:

Músicas e clipes inspirados por Alice. (Imagens: Walt Disney Pictures. Cards: Milena Riboli/Beta Redação)

A exposição no Iguatemi fica aberta para visitação até 8 de abril, sendo uma experiência temporizada de até 60 minutos, podendo atender entre 300 e 400 pessoas por hora, se necessário. São 1500m² de mostra. Os ingressos têm valores que variam de R$ 20,00 a R$ 40,00. Crianças de 0 a 2 anos são isentos e jovens de até 15 anos pagam meia-entrada. Abaixo você confere mais detalhes do serviço:

“Alice — A Wonderland Adventure”

Local: Shopping Iguatemi Porto Alegre, Portaria E (no espaço do antigo supermercado).

Data: de 08 de fevereiro a 08 de abril de 2018.

Horários: de segunda à sexta-feira, das 14h às 22h; sábados, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 11h30 às 20h.

Ingressos: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia-entrada), R$ 25,00 (Clube Hits) e R$ 30,00 (Clube do Assinante ZH).

Todo o visitante ganha uma credencial pessoal e intransferível com seu nome, dessa forma é possível retornar à exibição quantas vezes a pessoa quiser, sem precisar pagar novamente. Sendo uma experiência bastante rica em detalhes, a mostra foi projetada exatamente para isso, permitindo que as pessoas a assistam novamente para assim extrair o máximo da atividade.

Mais algumas fotos dos diversos espaços da exposição. (Fotos: Milena Riboli/Beta Redação)

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Milena Riboli
Redação Beta

Estudante de Jornalismo, quase formada, entusiasta de Fotografia e Gastronomia. Apaixonada por música e gatos. E segue.