Espetáculo de malabares na Casa da Praça. (Fotos: Daniele Souza/Divulgação)

A vez do popular, alternativo e independente

Júlia Ramona Michel
Redação Beta
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20 min readDec 13, 2017

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Por Júlia Ramona Michel e Victor Dias Thiesen

Novo Hamburgo - O alicerce cultural da cidade está relacionado ao Poder Público e à colonização alemã. Patrimônio histórico, museus, artes visuais, música e teatro remetem ao passado da antiga "Hamburger Berg". Aliados à história e à memória de imigrantes de origem alemã estão movimentos populares, alternativos e independentes que promovem o acesso democratizado a manifestações artísticas e comportamentais, sem, é claro, esquecer da iniciativa privada. Segundo Kauê Mallmann, participante de um movimento cultural e artístico, muitos espaços em prol da cultura estão surgindo. "Sejam independentes, pessoais ou privados. O importante é que Novo Hamburgo viva uma primavera cultural", diz.

Atualmente, o município tem como secretário municipal de Cultura, Ralfe Cardoso, que conta com larga experiência na área, como diretor da produtora hamburguense Um Cultural e como vereador durante dois mandatos. O secretário afirma que há muito a conquistar em relação ao cidadão hamburguense consumir produtos culturais. "O desafio da gestão pública é proporcionar novos produtos culturais e, ao mesmo tempo, auxiliar e criar novos públicos para todos os segmentos", pondera.

Em contraposição ao cenário cultural originado pelo Poder Público, em que se nota a necessidade de potencializar e valorizar a cultura local, estão movimentos que recebem a denominação de populares, alternativos e independentes. Espaços, artistas e atrações, dentre as mais diversas iniciativas culturais, surgem como opção aos moradores que prezam, de alguma forma, pelo contato com a arte. Seja na vida boêmia da cidade ou nos desfiles das escolas de samba, por exemplo, o comprometimento é com prosperar da cultura do município.

Confira o mapeando da cidade: https://goo.gl/fsTW7P

CENA ALTERNATIVA

A cena cultural hamburguense vive, atualmente, uma efervescência de expressões artísticas. É por uma necessidade de se manifestar que dez grupos independentes "ocupam" a Casa da Praça (Rua Cacequi, 19, telefone 51-99384.9494) na Praça Heitor Villa-Lobos, do bairro Boa Vista. Uma diversidade marca o local. Os grupos Circo de Bolso (circo e teatro), Circo Petit POA (circo e malabarismo), Melt FM (rádio online), Uni.co - Universo Controverso, Manouche Manolo (grupo de estudos de jazz e suas vertentes), II Papiro (encadernações artesanais), ComuniKT (comunicação para artistas), Coletivo Consciência Coletiva, Morada Groove (estúdio de produção de áudio e audiovisuais) e Fita Crepe (teatro) formam um pequeno, mas produtivo universo que dinamiza uma cultura na cidade do Vale do Sinos.

Diversidade de manifestações artísticas e culturais são a identidade da Casa da Praça. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)

Os grupos promovem a "Cultura do Chapéu" em que o público contribui com a arte deixando o valor que quiser. Muitos integrantes pertencem a mais de um grupo, o que gera um intercâmbio de experiências, técnicas e troca de ideias muito grande. Kauê Mallmann, ocupante com uma ComuniKT, diz que as portas da Casa estão abertas aos artistas para conversar, trocar ideias. "É um celeiro criativo não só de Novo Hamburgo, mas que já ganhou notoriedade em toda a região", conta.

A partir desse pulsante e crescente movimento independente surgiu o Clube da Esquina — Casa Aberta (Rua Casemiro de Abreu, 281, tel. 51–98938.7383). O espaço recebe manifestações e atividades culturais que priorizam a iniciativa independente e alternativa da cidade. “O objetivo é sempre valorizar artistas e ativistas culturais locais, ampliando para as cidades próximas e além do Estado, buscando interações que permitam a troca de experiências”, explica o ativista cultural Paulo Ricardo Pioner, 58 anos. Autointitulado ponto de cultura independente, o local promove debates, palestras, exposições, saraus literários e exibições de documentários e filmes, como a expofeira Outro Mundo Acontece. Repleto de atividades, onde cada artista mostra sua particularidade, o evento envolve uma grande diversidade cultural, como música, pintura, artesanato, escultura e ilustração, visando à celebração do momento cultural que o município vive em conjunto com todos os tipos de público. O Clube da Esquina — Casa Aberta conta com horário de funcionamento apenas em dias de programação.

A cada nova edição, a expofeira Outro Mundo Acontece, que ocorre no Clube da Esquina, celebra a cultura em todas as formas possíveis. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)

Um apoiador da expofeira Outro Mundo Acontece, é o Espaço Sideral, localizado próximo à estação terminal Novo Hamburgo, da Trensurb e também ao Clube da Esquina, (Rua Casemiro de Abreu, 272, tel. 51–99901.7822) que reúne artistas de diferentes áreas com o propósito de estimular a espontaneidade e o senso crítico. “O espaço é ocupado por diferentes áreas — música, dança, poesia, desenho, pintura e fotografia — e contribuiu para reformular o cenário da cultura do município, sem se apegar ao passado”, esclarece o cervejeiro e ativista cultural Tiago Eduardo Genehr, 42 anos. Participante do Coletivo Pelo Mundo Por Outro Mundo, o local tem, ainda, como proposta fortalecer iniciativas engajadas na igualdade e diversidade. Em seus eventos incentiva a Cultura do Chapéu, não cobrando um valor fixo de ingresso, mas, sim, a colaboração espontânea do público presente. O horário de funcionamento é de quinta-feira a domingo, sempre a partir das 17h.

A presença da música é forte no Espaço Sideral que também tem como atração a oferta de cerveja artesanal. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)

Outro espaço que visa fomentar as expressões e manifestações artísticas na cidade é a livraria RockBooks (Bento Gonçalves, 2351, tel. 51–3594.2217). O local, idealizado por Félix Fausto e Thiago Fagundes, reúne a cultura nas suas mais variadas manifestações. Aqui a cultura pop é a identidade da loja, mas literatura brasileira e livros específicos não faltam, além de gibis e histórias em quadrinhos para adultos e crianças. Atualmente, o acervo do estabelecimento é de mais de 10 mil livros, conquistado por meio de trocas, compras e vendas.

A livraria RockBooks, no centro de Novo Hamburgo, oferece uma imersão ao universo da cultura pop. (Fotos: Júlia Ramona)

Aberto desde 2014, o forte do local é, justamente, a troca e venda de livros usados. Presente em diversas atividades culturais pela região, a loja também promove frequentemente saraus com temas relacionados à cultura pop, somando à questões literárias, a música, a filosofia e demais expressões. Apesar do engajamento com o município, Felix Fausto, 50 anos, é cauteloso ao avaliar o atual momento que a cena cultural hamburguense vive. “Aqui, a gente sente que a cultura está largada às traças. Em outras cidades da região, como São Leopoldo e Porto Alegre, é impressionante a diferença. Há empenho em querer realizar, por exemplo, eventos que contribuam para movimentar a cultura”, observa.

CARNAVAL

Da esquerda para a direita, as escolas de samba Aí Vem os Marujos, Cruzeirinho e Portela. (Fotos: Bruna Pacheco/PMNH)
À esquerda, Protegidos da Princesa Isabel e, na sequência, Império de São Jorge no desfile de 2016. (Fotos: Bruna Pacheco/PMNH)

O carnaval na cidade é um evento tradicional. Novo Hamburgo já teve o maior da região do Vale do Sinos, quando havia dois dias de desfile: no domingo, o municipal, e na terça, o regional. Por toda a cidade as pessoas se reúnem para festejar nos clubes. O Carnaval Vermelho e Branco da Sociedade Ginástica (Rua Castro Alves, 166, tel. 51–3584.3900) é tradicional. Bem como o da Sociedade Aliança (Rua Oscar Emílio Müller, 4, tel. 51–3527.3240) e o da Sede Campestre do Grêmio Atiradores (Rua. Guia Lopes, 696, tel. 51–3586.2401). Já as cinco escolas de samba desfilam anualmente na Pista de Eventos José Eli Teles da Silveira (Av. Primeiro de Março, s/nº, Pátria Nova).

No ano de 2017, entretanto, o desfile não teve caráter competitivo e nem contou com carros alegóricos em virtude do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. A escola Protegidos da Princesa Isabel (Rua Germano Fehse, 115, tel. 51–98025.5279) optou por não participar. Para 2018, não há consenso entre as escolas. “Tivemos uma reunião em setembro. A ideia é a captação de recursos, coisa que eu acho que não vai acontecer. As quatro entidades não querem carnaval competitivo, a Protegidos quer. Até porque se você está ganhando verba, tem que ter a contrapartida”, diz o Presidente da Protegidos, Ivan Nascimento.

As outras escolas são Aí Vêm os Marujos (Parque do Trabalhador, Rua Boa Saúde, s/n, tel. 51–99331.3445), a tradicional Cruzeiro do Sul, conhecida como Cruzeirinho (Rua Osvaldo Cruz, 96, tel. 51–99335.0324), Portela do Sul (Rua Fernando de Noronha, 960, tel. 51–99671.1460) e Império de São Jorge (Rua Guaíba, 1070, tel. 51–99276.9952). Todas elas promovem eventos durante o ano em suas comunidades com quem têm grande integração. O público comparece aos ensaios e, no dia do desfile, a estimativa da prefeitura é que cerca de cinco mil pessoas façam a festa na avenida. A atual campeã é a Portela. O ano do título foi 2016, já que em 2017 o desfile não teve caráter competitivo.

Com o samba enredo, “Do pão da vida ao pão nosso de cada dia, daí a todos alegria”, a Portela se consagrou a campeão da última edição competitiva em 2016. (Fotos: Bruna Pacheco/PMNH)

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL

À esquerda, a fachada do Museu Comunitário Casa Schimitt-Presser, em seguida da Fundação Ernesto Frederico Scheffel e do Museu Nacional do Calçado. (Fotos: Júlia Ramona/Beta Redação)

É impossível falar de ‘cultura’ em Novo Hamburgo sem remeter aos imigrantes alemães que chegaram na região em 1824. Dentre eles estava Johann Peter Schmitt, um dos pioneiros no distrito pertencente a São Leopoldo, também conhecido como “Morro do Hamburguês” em função da proveniência de Johann de Hamburgo, na Alemanha. Schmitt construiu uma casa em estilo enxaimel onde morou e estabeleceu seu comércio. No salão da casa ele vendia secos e molhados, alguns remédios, entre outras coisas. Quase duzentos anos depois, a construção se tornou o Museu Comunitário Casa Schimitt-Presser (Av. Gen. Daltro Filho, 929, tel. 51- 3593.6233), um símbolo do nascimento da cidade que revela ao público traços da vida dos colonos hamburguenses durante o fim do século XIX.

Museu Comunitário Casa Schimitt-Presser expõe objetos de uso cotidiano e próprios do comércio dos imigrantes. (Fotos: Júlia Ramona/Beta Redação)

Ao lado do Museu Schimitt-Presser, encontra-se o casarão construído pelo filho de de Johann Schmitt, Adão Adolfo Schmitt. A construção em estilo neoclássico já serviu de residência, comércio e até de hospital para os cidadãos hamburguenses. Hoje, seus salões tombados como patrimônio histórico e artístico nacional expõem permanentemente mais de 350 obras do pintor Ernesto Scheffel (1927–2015), filho de imigrantes alemães. Scheffel fez da casa sua residência quando firmou parceria com o município de Novo Hamburgo e a tornou sede da Fundação Ernesto Frederico Scheffel (Av. Gen. Daltro Filho, 911, tel. 51-3593.6233). Além da exposição, a Fundação também recebe outras exposições artísticas, como a temporada anual de concertos, por exemplo.

O acervo da Fundação Scheffel integra o tombamento do Centro Histórico de Hamburgo Velho, homologado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2015. (Fotos: Júlia Ramona/Beta Redação)

Novo Hamburgo também é reconhecida pela produção de calçados, inclusive, chamada de Capital Nacional do Calçado. Localizado nas dependências da Universidade Feevale, o Museu Nacional do Calçado(Av. Dr. Maurício Cardoso, 510, telefone 51-3584.7101), abriga resquícios da história da indústria calçadista-coureira da região. O foco principal do museu são os calçados produzidos na região, mesmo com o conteúdo do acervo com peças que remontam ao século XII. As instalações contam com quatro espaços, sendo os dois primeiros de maior rotatividade e com mais ‘liberdade’, “em termos daquilo que está exposto”, segundo a curadora Francine Tavares. Ela conta que embora o museu tenha característica histórica, é um espaço de exposição de diversas perspectivas relacionadas ao calçado. Schmitt-Presser e a Fundação Scheffel funcionam das 9h às 17h, com pausa no almoço do meio-dia às 14h. Já o Museu Nacional do Calçado funciona à tarde e à noite: das 14h às 18h e das 19h às 21h.

O acervo do Museu Nacional do Calçado conserva a memória da atividade coureiro-calçadista do país por meio do acervo que reúne modelos desde o século XII. (Fotos: Júlia Ramona/Beta Redação)

Em relação à literatura, um dos espaços que despertam o interesse na população em ler, assim como em demais cidades da Região Metropolitana, é a biblioteca pública. Com horário de atendimento ampliado neste ano, a Biblioteca Pública Municipal Machado de Assis, (Praça da Bandeira, Rua Júlio de Castilhos, 66, tel. 51–3097.9484) a partir de agora, também é encontrada aberta pela comunidade aos sábados, com horário de funcionamento das 8h às 12h. Situada em um histórico prédio construído em 1908, que hoje é considerado patrimônio público da cidade, a biblioteca possui um acervo com cerca de 70 mil livros de autores nacionais e estrangeiros para retirada ou consulta local.

Neste ano, a Biblioteca Pública Machado de Assis ampliou o horário de funcionamento, passando a atender todos os sábados pela manhã. (Fotos: Andressa Lima/Rafael Petry/PMNH)

O espaço, que de acordo com o secretário municipal de Cultura Ralfe Cardoso, tem a previsão de ser reformado no próximo ano, conta ainda com uma Gibiteca, concentrando mais de 500 exemplares de diversos títulos de histórias em quadrinhos. Oferece também uma sala para contação de histórias e o telecentro — ambiente equipado com 11 computadores e acesso gratuito à internet. Todos esses serviços estão à disposição dos moradores de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h sem fechar ao meio-dia.

ARTES VISUAIS

O Espaço Cultural Albano Hartz (Passeio Calçadão Osvaldo Cruz, 112, tel. 51–3036.2162) proporciona a realização de projetos culturais, artísticos e sociais que contribuem para a caracterização da cena cultural de Novo Hamburgo. Porém, são as artes visuais que movimentam o local, uma vez que a Pinacoteca Municipal e o Memorial Carlos Alberto de Oliveira — Carlão estão abrigados no prédio histórico. Aberto para toda a comunidade de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e, neste ano, aos sábados das 9h às 13h, o espaço oferece aulas gratuitas de pintura.

Em uma sala de paredes totalmente brancas, a Pinacoteca Municipal exibe, até janeiro de 2018, obras das artistas hamburguenses Lory Carmen Metzger Birk e Ariadne Decker, que integram a terceira etapa da exposição Movimento Casa Velha — 40 anos, aberta em abril. O ambiente voltado a exposições artísticas, neste ano, trouxe em três momentos obras que representam a grande mobilização artística que marcou a década de 70 na cidade e envolveu artistas como Marciano Schmitz, Flávio Scholles, Lurdi Blauth e Gilmar Luiz Tatsch (o Tacho). Para o próximo ano, a pinacoteca funcionará via editais públicos de seleção de exposições que têm como ponto de partida a promoção e a divulgação de diversas manifestações nas artes visuais.

Terceira etapa da exposição “Movimento Casa Velha — 40 anos” que exibe obras das artistas hamburguenses Lory Carmen Metzger Birk e Ariadne Decker. (Fotos: Júlia Ramona/Beta Redação)

Já o Memorial Carlos Alberto Oliveira homenageia as obras do artista Carlão (1951–2013), um dos nomes mais importantes das artes visuais de Novo Hamburgo e que também participou do Movimento Casa Velha. Com exposições permanentes, o memorial revitalizado pelo atual governo revela, a partir da ótica do artista, a cultura popular hamburguense e da região. Recentemente, foi lançada a exposição Capturas de Encontros — Arte, Educação e Cultura com o propósito de mostrar a relação direta que Carlão tinha com educação e arte. De acordo com a servidora pública Kelly Cristina Bennemann, 37 anos, a infraestrutura do Espaço Cultural Albano Hartz colabora para a democratização do acesso à arte. “Esses diferentes espaços procuram inserir a comunidade no ambiente artístico, além de fomentar a cultura local e despertar o interesse ao consumo de artes visuais”, declara Kelly Cristina Benneman.

Obras da exposição “Capturas de Encontros — Arte, Educação e Cultura”. (Foto: Kelly Cristina Benneman)

TEATRO

Da esquerda para direita, montagens cênicas da Cia de Teatro Entre Linhas e ParaNóia Produções Artísticas. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)
Fachada do Centro Municipal de Cultura, à esquerda, que abriga o Teatro Paschoal Carlos Magno. ( Foto: Joel Reichert/PMNH) Palco e acomodações do Teatro Feevale (Foto: Lucas Cunha/Divulgação)

São três os espaços que figuram entre as salas principais de Novo Hamburgo para receber companhias de teatro e suas montagens. Curiosamente, a realidade de cada um desses locais é contraditória. Se, por um lado, o principal palco municipal está com o agendamento para espetáculos suspenso devido à reforma de adequação do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI), a iniciativa privada e a cena alternativa seguem recebendo apresentações e movimentando a cultura do teatro na cidade.

Porém, mesmo com diversas atrações espalhadas pela cidade, a relação do público hamburguense com a atuação das companhias de teatro ainda não se caracteriza como um elo fortemente estável, submetendo artistas a estar sempre buscando a formação de público. A diretora da Cia de Teatro Entre Linhas (Av. Dr. Maurício Cardoso, 905, tel. 51- 99998.3388) e artista com 30 anos dedicados ao teatro Alice Ribeiro comenta que o público fiel pode ser considerado somente aquele que conhece, de longa data, o trabalho da companhia. “O público se caracteriza por pessoas que já conhecem e admiram nosso trabalho, mas também por pessoas que são amantes das artes e que acreditam na arte como ponto de reflexão”, avalia.

Inaugurado em 2011, o Teatro Feevale (Universidade Feevale Campus II, RS-239, 2755, tel. 51–3271.1200) é cenário para diversas produções artísticas, apontando o município e a região do Vale do Sinos no roteiro de espetáculos nacionais e internacionais. Com cerca de 10.500 m² e capacidade de até 1.831 espectadores, o espaço cultural compreende palco em estilo italiano e se destaca pela acústica de qualidade impecável que respeita a variação de áudio em diferentes eventos, sem comprometer a clareza do som. Desde a abertura, há seis anos, o teatro realizou mais de 200 atrações com público superior a 450 mil espectadores. As peças teatrais do ator e humorista brasileiro Paulo Gustavo, o espetáculo Uma Noite em Buenos Aires e apresentações da respeitada companhia mundial Russian State Ballet são algumas das atrações que já passaram pelo espaço e pela cidade. Reconhecido como um dos melhores palcos do país, o local tem papel fundamental para a formação de plateia e também para o crescimento econômico de Novo Hamburgo, conforme afirma a gerente do Teatro Feevale Patrícia Scossi, 42 anos. “O teatro é fundamental para o desenvolvimento econômico e cultural da região, uma vez que é referência e coloca cada vez mais em evidência a cidade e seu entorno”, ressalta Patrícia Scossi.

Com capacidade para até 1.831 espectadores, Teatro Feevale compreende palco em estilo italiano e se destaca pela acústica. (Foto: Lucas Cunha/Divulgação)

De um grandioso empreendimento a uma pequena porta de entrada próxima à região central da cidade está a ParaNóia Produções Artísticas (R. Vinte e Cinco de Julho, 1215, tel. 51–3593.6947). Com mais de 30 anos de existência, a produtora oferece um universo cultural que se estende pela região do Vale do Sinos. Considerada referência na formação de atores na cidade, o espaço atua em diversas vertentes culturais, como oficinas de teatro, dança, TV e cinema. Além disso, promove, anualmente, produções próprias, como o Festival de Esquetes Teatrais, uma competição com espetáculos de até 25 minutos de duração que acontece há 19 anos. Há, ainda, o Dançando, festival de dança que se realiza na cidade há 29 anos. Na edição de 2017, foram cerca de 1 mil bailarinos inscritos, segundo a organização. E a produção mais recente é a Mostra de Curtas, que completou sua sexta edição em novembro deste ano. A sede da produtora também é um dos palcos que o município conta para receber artistas locais.

Ao pensar, rapidamente, em companhias teatrais instaladas em Novo Hamburgo surgem nomes tradicionalmente conhecidos como Entre Linhas, Luz e Cena e Circo de Bolso. Dentre esses três grupos, todos já realizaram apresentações no palco do Teatro Paschoal Carlos Magno — situado junto ao prédio do Centro Municipal de Cultura (Rua Eng. Ignácio Christiano Plangg, 66, sala 54, tel. 51–3279.7571). Já o recém formado grupo de teatro Tre Vecchio, que iniciou suas atividades há um ano, até agora não encontrou as portas da principal sala pública da cidade abertas para receber o espetáculo tragicômico Aquela dos Velhos. Isso porque, desde dezembro de 2016, o local está fechado para reforma, sem uma data de reabertura para o agendamento de espetáculos. A única certeza é que com o teatro do Centro Municipal de Cultura fechado, o impacto na cena cultural do município é preocupante.

Há mais de um ano, alunos e professores da Rede Municipal de Ensino lotaram o Teatro Paschoal Carlos Magno para assistir ao espetáculo “Salada de Fruta”. (Fotos: Patrícia Pedrozo/PMNH)

De acordo com o Secretário de Cultura de Novo Hamburgo, Ralfe Cardoso, o Teatro Paschoal Carlos Magno é o principal espaço público voltado à cultura na cidade. “O espaço também é uma das poucas oportunidades que o município oferta para grupos profissionais ou amadores”, reflete Ralfe Cardoso. O secretário municipal de Cultura ainda explica que a reforma não está finalizada devido a um erro no projeto que não contava com todos os itens do Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). Entretanto, a adequação da obra e a regularização da documentação já foi revisada e está em fase de orçamentação. É necessário, agora, a abertura de uma nova licitação para que, então, a obra de complementação seja realizada.

MÚSICA

Da esquerda para a direita, Abbey Road Bar, Rock And Roll Sinuca Bar, Share Pub, O Lord Pub e Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)

Seja próximo ao centro ou no bairro histórico, a vida boêmia segue aliada à cultura de Novo Hamburgo. De portas abertas aos amantes da música, bares e pubs valorizam o trabalho de artistas locais, principalmente da cidade, alcançando desde o público jovem até a terceira idade. Rock, Blues, Jazz e MPB são alguns dos gêneros que ecoam de espaços intimistas e também repletos de referências da música mundial.

Em uma das principais avenidas do município estão localizados, a menos de uma quadra, dois pontos tradicionalmente conhecidos pelos moradores de Novo Hamburgo. Inaugurado há mais de 15 anos, o Abbey Road Bar (Av. Pedro Adams Filho, 4434, tel. 51–3582.6496) remete à atmosfera do bar temático inglês Cavern Club, onde os Beatles fizeram suas primeiras apresentações. Idealizado pelo fã do quarteto de Liverpool, o empresário Fernando Motta, 40 anos, o estabelecimento promove uma agenda de shows semanal dedicada desde a atrações do rock gaúcho até a indústria mundial. “Trabalhamos sempre com músicos voltados ao Rock tanto da cidade, quanto do Estado, garantindo espaço para a cena autoral e cover. Além disso, artistas do Brasil e do mundo também passam por aqui”, afirma o proprietário Nando Motta. O Abbey, como é carinhosamente chamado pelos frequentadores, abre de quinta-feira a sábado a partir das 22h. Já aos domingos o horário de abertura é às 20h.

A poucos metros está o Rock and Roll Sinuca Bar (Avenida Pedro Adams Filho, 4530, tel. 51–99342.2165) que, assim como Abbey Road, oferece shows semanais de bandas tributos a nomes consagrados da música. O espaço que também soma mais de 10 anos de história entre a vida noturna da cidade promove, ainda, apresentações de grandes nomes do rock gaúcho como Júlio Reny, Wander Wildner, Cachorro Grande e Preza, ex-vocalista dos Cartolas. A casa abre de segunda-feira a sábado às 17h. Aos domingos, a partir das 16h.

À esquerda, apresentação de Chris Jagger, irmão de Mick Jagger, no Abbey Road Bar, em sequência, show da banda carioca Matanza no Rock and Roll Sinuca Bar. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)

Além de concentrar parte relevante do patrimônio cultural edificado no Estado, o bairro histórico de Hamburgo Velho é o endereço de mais dois espaços que caracterizam a cena boêmia do município. Sediado em uma casa construída na década de 1920, o Share Pub (Rua General Osório, 788, tel. 51–99239.9491) se integra a programação noturna de Novo Hamburgo há dois anos. Preservando todo o charme da arquitetura original, que já abrigou uma alfaiataria, o estabelecimento chama a atenção pela decoração nada convencional que exibe paredes centenárias em tijolo aparente, além da mistura harmônica entre tons de preto e vermelho nas peças de mobiliário. Um piano, para acompanhar as apresentações musicais, principalmente de Blues e Jazz, completa o espaço. A empresária e proprietária Cristiane Strunck, 37 anos, afirma que desde a abertura do pub a prioridade é oferecer atrações de qualidade, contribuindo para a cena cultural da cidade. “O Share Pub, além de oferecer atrações musicais, também é disponibilizado para demais manifestações artísticas, como exposições, pequenas peças teatrais e lançamentos de livros. Com um público bastante eclético, entre pessoas de 18 a 80 anos, a casa abre em quartas e quintas-feiras às 18h. Já nas sextas às 19h e sábados às 20h30.

Ainda pelas ruas históricas de Hamburgo Velho, a exatos 950 metros de distância do Share Pub, está O Lorde Pub, (Rua General Daltro Filho, 1090, tel. 51- 99858.0596). Aberto a cerca de um ano pelos sócios Diego Corrêa, 31 anos, e Vinícius Hoffmann, 29 anos, o espaço também se insere na cena cultural contemporânea de Novo Hamburgo por meio do Rock and Roll e a partir de referências da história mundial. “Somos um pub com influências britânicas e irlandesas com o propósito de proporcionar uma experiência nova ao consumidor. Trabalhamos exclusivamente com rock, de todas as épocas, para curtir a noite na cidade”, comenta o proprietário Vinícius Hoffmann. Aberto às quartas e quintas-feiras a partir das 19h e também em sextas e sábado a partir das 20h, o local frequentemente viabiliza apresentações de artistas renomados do Estado e País, mas tem como premissa a valorização de músicos locais, principalmente de Novo Hamburgo e arredores. Recentemente, o estabelecimento foi palco para Frank Jorge, um dos principais nomes do rock gaúcho, que participou da formação das bandas Graforréia Xilarmônica, Cascavelletes e Cowboys Espirituais, além de abrir o show de Paul McCartney, em Porto Alegre, em outubro de 2017.

Recentemente, o músico Frank Jorge se apresentou no O Lord Pub. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)

Trocando baterias, guitarras e baixos por trompetes, flautas e saxofones, Novo Hamburgo conta com a atuação da Orquestra de Sopros (Rua Eng. Ignácio Christiano Plangg, 66, sala 54, tel. 51–3279.7571). Sediada junto aos andares do Centro Municipal de Cultura, que abriga, ainda, a Secretaria Municipal de Cultura, a OSNH preserva a memória musical da imigração alemã. Um dos grupos orquestrais mais antigos do Rio Grande do Sul e tombada como patrimônio histórico, artístico e cultural do município, a OSNH, em 2017, completou 65 anos de atividades ininterruptas.

O trabalho da Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo se insere, principalmente, na manutenção e no fomento da cultura germânica. Remetendo não somente a tantos grupos musicais, os quais popularmente são chamados de “bandinhas”, o repertório da OSNH também transita entre a música erudita, popular brasileira e internacional. Com a regência do maestro Lincoln da Gama Lobo, 55 anos, ao lado de mais de 30 músicos profissionais, a Orquestra de Sopros ensaia semanalmente no Espaço Cultural Albano Hartz, no Calçadão de Novo Hamburgo. Visando aproximar ainda mais as pessoas das atividades da orquestra, os ensaios, que ocorrem entre às 18:30 às 21:30, são abertos à comunidade. A formação de músicos de instrumentos de sopro e percussão realiza, em média, três concertos por mês.

Concerto da Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo interpretando clássicos do heavy metal na edição deste ano do Metal Sul Festival em Bento Gonçalves. (Fotos: Reprodução Facebook/Divulgação)

Mesmo com tanta dedicação ao longo de anos e um legado elogiável, ainda, é preciso formar público e fortalecer a relação do cidadão hamburguense com a OSNH. “Nós temos um público que eu considero pequeno comparado à população do município, mas que é muito afeiçoado ao trabalho da orquestra”, revela o maestro Lincoln da Gama Lobo que teve como sua primeira formação em música a Escola Liceu Palestrina de Novo Hamburgo. O maestro também pondera a importância do processo de formação de público. “Precisamos levar a orquestra até as pessoas e trazê-las até nós. Por isso, em nossas apresentações procuramos interagir com público. Além disso, os ensaios abertos, que ocorrem no centro da cidade, são fundamentais para alcançar a comunidade”, reforça.

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