A visibilidade das transmissões de futebol feminino e das narradoras esportivas

Mulheres vem ganhando cada vez mais espaço na categoria

Julia Schutz
Redação Beta
4 min readJun 22, 2021

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Adreanna Chamello integra time de comentaristas e aponta visibilidade para as mulheres na área esportiva (Arquivo Pessoal: Adreanna Chamello)

Durante muito tempo, o esporte era considerado apenas para homens e totalmente proibido para as mulheres que tinham apenas uma função: serem donas de casa. Ainda bem que as coisas mudaram de lá pra cá e no ano de 1983 o futebol feminino foi regulamento e oito anos depois, em 1991, teve a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino, sendo que a masculina existe desde 1930.

Além disso, outro espaço de inserção das mulheres, destacada recentemente, é a presença do gênero feminino narrando e comentando jogos de futebol, algo que tempos atrás seria considerado até um absurdo pelos que tinham ideias mais contemporâneas. Afinal acabamos nos acostumando com as vozes masculinas de Galvão Bueno, Cléber Machado e Luís Roberto nas transmissões durante décadas na TV. Porém as mulheres vêm buscando cada vez mais quebrar esse tabu, mostrando que são capazes de atuar em qualquer atividade, inclusive estarem no meio esportivo, que não deveria ter divisão de gênero.

A comentarista de futebol, Adreana da Silva Chamello, de 21 anos, conta que começou a jogar futebol com cinco anos de idade e sempre teve incentivo da família: “Passei anos jogando na Escola da Duda (em Porto Alegre), e aos 15 fui integrada a equipe principal de futebol de campo do Canoas”. Mais tarde o clube dividiu-se em dois e Adreana jogou no time sub-20 do Sport Club Internacional em 2017. No ano seguinte acabou largando o esporte por não existir mais a categoria e não integrou o grupo profissional.

Logo após esse distanciamento, a ex-jogadora ingressou na Faculdade de Gastronomia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, afastando-se assim do futebol por 3 anos. “Fui demitida do restaurante em que trabalhava e no mesmo mês, o repórter Jairo Winck, que fazia lives (transmissões ao vivo), no Youtube, sobre o Inter me chamou para participar e acabei gostando tanto que virei sócia do canal, investindo na carreira”, diz Adreanna. Logo em seguida fez curso de locução e começou a faculdade de Jornalismo na Uninter. “Conheci um amigo que treinava um time de futebol 7, o Nova Era e me chamou para jogar, então retornei aos gramados”, comenta.

Sobre essa visibilidade feminina nos meios futebolísticos, a comentarista diz que as mulheres lutam pelo seu espaço e exercerem aquilo que amam:

“Para mim narrar e comentar futebol é importante. Como jogadora não tive as oportunidades que sonhava, quero passar o quanto as mulheres merecem o reconhecimento e o quanto a modalidade tende e precisa crescer”.

No Brasil as mulheres foram vetadas por 40 anos de praticarem e atuarem no esporte, o que travou o crescimento da modalidade. Para Adreanna, nos dias atuais, as mídias vêm noticiando e transmitindo o futebol feminino, que tem muita relevância, público e importância. “Aos poucos o machismo enraizado vai diminuindo e as pessoas recebem o futebol feminino na televisão com mais aceitação e compreendem que lugar de mulher é onde ela quiser”, afirma.

A jornalista e assessora do Sporte Clube Internacional, Mariana Capra, 24 anos comenta que a questão das mulheres como narradoras vai ser cada vez mais presente. “Na rede Bandeirantes a gente tem a narradora Isabelly Moraes, na Globo tem a Natália Lara e a Renata Silveira no SporTV. As mulheres são aptas a fazer isso, pois se prepararam bastante e cada vez mais elas vão ganhar esse espaço não só no futebol feminino, como também no masculino e em outros esportes, até porque o preconceito está ficando para trás”, diz ela.

Mariana Capra cobrindo jogo do Inter nos entornos do Estádio Beira-Rio (Arquivo Pessoal: Mariana Capra)

Desde 2017, Mariana trabalha com o futebol feminino. No começo ela fazia transmissão de jogos pela TV e depois passou a integrar a Assessoria de Imprensa das Gurias Coloradas, fazendo fotos, redes sócias, vídeos dos bastidores e todas as questões que envolvem o esporte em si.

Sobre a visibilidade dada pelas transmissões nos veículos conhecidos, Capra conta que é de extrema importância, pois assim o futebol feminino ganha cada vez mais apoiadores, o que hoje em dia pertence aos meios alternativos como sites, perfis de Instagram, canais do Youtube: “é indispensável que a imprensa tradicional veicule o futebol feminino, pois ela tem mais alcance, trazendo publico que não está acostumado a consumir esse conteúdo diariamente. Se uma pessoa está vendo a partida pela TV, a família acaba assistindo junto”.

Mariana, complementa, que é imprescindível essa cobertura da mídia tradicional apoiando a categoria feminina e possibilitando ao telespectador a contemplação de competições protagonizadas por mulheres:

“Existe um esforço da mídia para que os telespectadores acompanhem o jogo torcendo e com isso fomentem a categoria para que ela possa chegar, um dia, no mesmo nível ou pelo menos perto do alcance das transmissões de jogos masculinos”, finaliza.

A Rede Globo, recentemente, bateu recordes de audiência com a transmissão dos amistosos da Seleção Feminina de futebol, alcançando 20 pontos na transmissão do jogo contra a Rússia. Neste dia deixou para trás o SBT que atualmente exibe a Copa América, disputada pela Seleção Masculina. A última vez que a emissora de Roberto Marinho alcançou esse patamar foi em 2019, com a Copa Feminina na França, na qual o Brasil foi eliminado nas oitavas pela seleção anfitriã. O título ficou com os Estados Unidos, coroando a atacante Megan Rapinoe como melhor jogadora da competição.

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