Acolhimento e atendimento garantido para pessoas trans em Porto Alegre
Ambulatório T foi inaugurado em agosto e teve 80 atendimentos no primeiro mês, preenchendo todos os horários disponibilizados
Por Caroline Tentardini e Lucas Lanzoni.
“Várias, inúmeras, milhares de situações de preconceito, rechaço, humilhação, violência e outras mais”, responde Alessandra Graff, mulher trans, quando questionada se já passou por alguma situação de constrangimento em atendimentos na saúde pública. E como consequência desse despreparo, ela acabou evitando diversos destes serviços.
Para evitar a repetição deste cenário o Ambulatório T foi pensado juntamente com a população de interesse, e também com profissionais qualificados e movimentos sociais. A ação foi lançada em agosto pela Política Municipal de Saúde Integral LGBTQI+ de Porto Alegre.
De acordo com Guilherme Ferreira, residente de Saúde Coletiva, a equipe é composta por um farmacêutico, duas nutricionistas, uma assistente social, um enfermeiro e o médico Vinícius Vicari, que atua na área da família e comunidade. A coordenação é administrada pela assessora técnica da Saúde Integral LGBTQI+, Simone Ávila.
“As pessoas que acessam o serviço são atendidas por uma equipe multidisciplinar, capacitados a tratar o paciente de forma integral”, afirma Ferreira.
Para realizar um atendimento é necessário marcar consulta via Whatsapp (51) 9938–3572. O espaço funciona todas às quartas-feiras, das 17h30 às 21h30, no segundo andar do Centro de Saúde Modelo, na Rua Jerônimo de Ornellas, 55, bairro Santana, em Porto Alegre.
“São oferecidas consultas, exames, acolhimento e encaminhamento para psicoterapia e para cirurgia de redesignação de sexo ou adequações corporais do Programa Transdisciplinar de Identidade de Gênero do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (PROTIG)”, conta Ferreira.
O residente também reforça que as consultas ocorrem a cada meia hora com clínico geral, e caso haja necessidade de algum especialista, é realizado o encaminhamento. No primeiro mês o Ambulatório T preencheu todos os horários disponíveis, realizando o atendimento de 80 pessoas. Além dos profissionais da área da saúde, diversos movimentos sociais, como a Igualdade RS, SOMOS e Homens Trans em Ação (HTA) estão presentes no local para oferecer apoio às pessoas que procuram o espaço.
Sensação de acolhimento
A paciente Alessandra Graff resume o que sentiu depois de realizar um atendimento no Ambulatório T. “Tem uma assistência mais direcionada e atende questões que outros locais julgam não serem certo”, declara.
Segundo o psicólogo e integrante do grupo SOMOS, Vincent Goulart, na área da saúde, é comum que pessoas trans evitem o sistema em decorrência de frequentes humilhações, preconceito e discriminação. “Eles não têm sua identidade respeitada, inclusive são tratadas/os como doentes mentais, aberrações ou como alguém que não necessita do cuidado”, afirma.
Goulart também conta que o Ambulatório T funciona por meio de uma dinâmica diferente da que geralmente é encontrada nos serviços voltados para pessoas trans. O trabalho é feito com uma lógica despatologizante e humanizada, atendendo às necessidades de quem precisa do atendimento.
A novidade na capital entra como uma política pública de grande relevância, resistindo e atendendo a esse público direcionado. Seu principal objetivo é oportunizar um ambiente seguro, de fácil acesso e vinculação de informação.
RS possui outros serviços
Em Canoas já existe um local de atendimento especializado para o público trans. O Ambulatório Trans, criado em 2017, está localizado no Centro de Especialidades Médicas.
O ambiente, que foi desenvolvido a partir da Política de Saúde Integral da População LGBT da cidade, oferece diferentes atendimentos: individual ou coletivo, tratamento de hormonização e o encaminhamento ao Hospital de Clínicas para realização de cirurgias de redesignação sexual.
Para realizar o atendimento, o paciente precisa passar por alguma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Canoas, para depois ser encaminhado ao Ambulatório Trans.
Ambulatórios pelo Brasil
O Brasil está atrasado quando o assunto é respeito e educação para todos os públicos, principalmente quando a temática é LGBTQI+. Não são todos os estados brasileiros que possuem um local apropriado para atendê-los, mas os principais centros do país já criaram espaços para cuidar destas pessoas.
Rio de Janeiro — RJ
Fundação Municipal de Saúde Policlínica Sylvio Picanço. Endereço: Av. Ernani do Amaral Peixoto, 169 — Centro, Niterói — RJ. Telefone: (21) 2717–8140
Brasília — DF
Centro de Saúde Nº 1 — Hospital Dia. Endereço: Asa Sul — Entre quadra Sul 508/509 — Asa Sul, Brasília — DF. Telefone: (61) 3443–1679 — (61) 3242–5207
São Paulo — SP
Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais. Endereço: Rua Santa Cruz, 81 — Vila Mariana, São Paulo — SP. Telefone: (11) 5087–9833 — Diretoria
Ambulatório do Núcleo de Assistência Multiprofissional a Pessoa Trans da UNIFESP. Endereço: Rua Napoleão de Barros, nº 859, em conjunto com o Ambulatório de Medicina Geral e Familiar do Departamento de Medicina Preventivo da EMP/UNIFESP. Telefone: (11) 5087–9984
Minas Gerais — BH
Hospital Eduardo de Menezes. Endereço: Rua Dr. Cristiano Rezende, 2213 — Bonsucesso, Belo Horizonte — MG. Telefone: (31) 3328–5000
Pernambuco — Recife
Policlínica Lessa de Andrade. Endereço: Rua Estrada dos Remédios, 2416 — Madalena, Recife — PE. Telefone: (81) 3355–7805
Pernambuco — Camaragibe
Unidade Básica de Saúde — Espaço Darlen Gasparelli. Endereço: Rua Pedro de Paula Rocha, centro — Camaragibe. Telefone: (81) 3458–0694
Paraíba — João Pessoa
Complexo Hospitalar Clementino Fraga. Endereço: Rua Estér Borges Bastos, S/N — Jaguaribe, João Pessoa — PB. Telefone: (83) 3612–5050 — (83) 3218–5421
Bahia — Salvador
Hospital Universitário Prof. Edgar Santos. Endereço: Rua Dr. Augusto Viana, S/N — Canela, Salvador — BA. Telefone: (71) 3283–8195