Adoção responsável e consciente de animais é discutida durante pandemia

Especialistas alertam para informações falsas, que contribuem para o abandono, e entidades relatam atuação cuidadosa em período de crise

Ketlindesiqueira
Redação Beta
6 min readMay 19, 2020

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Até o momento, não há pesquisas científicas que comprovem a possibilidade de transmissão do vírus de animais para humanos. (Foto: Ketlin de Siqueira/Beta Redação)

A chegada do novo coronavírus ao Brasil despertou na população muitas dúvidas e preocupações sobre a possibilidade de animais domésticos pegarem o agente infeccioso causador da Covid-19, mas até o momento não há evidência de que bichos de estimação estejam adoecendo por esse vírus, nem que sejam capazes de propagar a doença. Entretanto, já existe o receio de que informações equivocadas, passadas à sociedade, possam ocasionar mais abandonos de animais.

Diante do atual cenário e da grande circulação de notícias falsas, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CRMV- RS) esclarece que nenhuma vacina para outros tipos de coronavírus utilizada em animais que pode ser utilizada em humanos contra a Covid-19.

Conforme a presidente do Conselho, Lisandra Dornelles, os resultados dos estudos feitos em animais contaminados até agora não são conclusivos nem suficientes para afirmações sobre as formas em que o vírus é transmitido e, até o momento, as pesquisas científicas não comprovam a possibilidade de transmissão do vírus de animais para humanos (ouça a entrevista a seguir) .

Em entrevista, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinário do Rio Grande do sul fala sobre a inexistência de dados indicadores de que qualquer animal doméstico tenha algum papel na disseminação de SARS-CoV2.
Há outras diferentes espécies de coronavírus que acometem os animais.

Os cães podem ser infectados com a espécie CCoV, específica de caninos, que causa gastroenterite e pode ser prevenida com as vacinas múltiplas V8, V10 e V12 ,e também a espécie CRoV, que causa infecções respiratórias — não há no mercado vacina eficaz contra este tipo. Já os felinos podem ser acometidos com espécia FFcoV, que resulta em PIF (Peritonite Infecciosa Felina) e não há comprovação científica da eficácia de vacinas para a doença. Os bovinos podem adquirir a espécie BCoV, que causa a diarreia neonatal dos terneiros, podendo ser evitada com a vacina Rotavec.

A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e a Associação Mundial de Veterinária (WVA) emitiram nota defendendo que os serviços veterinários e de nutrição animal são essenciais para a saúde pública, especialmente na prevenção de doenças, no gerenciamento de emergências e enfrentamento de pandemias, como a que ocorre atualmente.

Segundo a veterinária Daniele Meneghetti, ter um animal de estimação é saudável (Foto: Arquivo Pessoal)

Conforme a médica veterinária Daniele Menegnetti, estamos vivendo um momento delicado, precisamos agir para conter a disseminação da doença. Constantemente somos bombardeados de notícias sobre a Covid-19 e muitas das informações não são verdadeiras, o que pode ocasionar em mais abandono de animais.

“Ter um animal em casa é uma maneira de interagir e tirar um pouco a pessoa desse estado de morbidade, negatividade, medo e pânico. Pode fazer um carinho, propor um convívio social, que é a função primordial do animal de estimação. Principalmente para idosos que estão dentro de casa, sem passear com o cachorro. Mas cuidado com as noticias falsas, devemos sempre confiar em informações de fontes seguras”, ressalta a veterinária.

O artigo 32 da Lei 9.605/98 determina detenção de três meses a um ano e multa a quem praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. É sujeito às mesmas penas aquele que realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo e, caso ocorra a morte do animal, a punição é aumentada de um sexto a um terço. Já a Lei Estadual 16.308/16 prevê proibição da guarda do animal e de outros para aquele que maltratar animais domésticos, e somente após cinco anos, a contar da data da violência, o agressor terá o direito à guarda novamente. O prazo é reiniciado se o indivíduo for reincidente.

A médica veterinária Daniele conta que no início do mês de abril aconteceram diversos abandonos de animais em frente à seu pet shop:

“Como temos câmaras, vimos quem era e entregamos (as imagens) à Brigada Militar, para assim tomar as devidas providências. Antes de adotar ou comprar um animal doméstico, tenha consciência, ele não é objeto, ele tem sentimento” comenta a veterinária.

Associação promove adoções em Carlos Barbosa

Cães que estão para adoção na Abapa (Arquivo Pessoal — Abapa)

Associação Barbosense de Proteção aos Animais (Abapa), de Carlos Barbosa, foi fundada em 2008 por um grupo de amigos que se uniu em função de uma única causa, o amor pelos animais, e da convicção de que ter pena não é o suficiente para mudar uma realidade. Conforme a presidente da associação, Liane Magagnin, a Abapa conta atualmente com 26 voluntários.

“Nossa proposta não é a criação de um abrigo nem o recolhimento de animais. Nosso objetivo é coibir os casos de maus-tratos e abandono de animais, promover o bem-estar deles por meio da adoção sem preconceito, estimular a guarda responsável e conscientizar a população barbosense”, ressalta Liane.

A Abapa se mantém através das contribuições mensais dos associados, doações espontâneas, bem como a venda de produtos da associação. Essa renda obtida é toda direcionada ao custeio de tratamentos veterinários, hospedagens, rações, campanhas e material de conscientização sobre a valorização da vida animal. Conforme a voluntária da ONG Jadiana Fabro, entre 15 de março a 15 de maio aproximadamente 10 animais foram adotados.

“Não temos canil ou sede, trabalhamos com lares provisórios, e na maioria das vezes pagamos um valor por diária para mantê-los. Em relação ao aumento de adoção por causa da pandemia, nada mudou, pois quem nos procura tem a mesma ideia, a busca de um companheiro para sempre e não para alguns meses” , relata Jadiana.

ONG acompanha animais adotados em Bento Gonçalves

Alguns animais para adoção na ONG Patas e Focinhos (Foto: Arquivo pessoal )

A ONG Patas e Focinhos, de Bento Gonçalves, foi fundada em abril de 2013, por um grupo de pessoas que dedicavam seu tempo ao resgate de animais abandonados e que sofriam maus-tratos. É uma entidade sem fins lucrativos, que não possui sede, equipe de resgate ou qualquer outro local específico para guarda dos animais recolhidos até que ocorra sua doação. Para isso, depende de voluntários que cedem espaços e tempo em suas casas, chamadas de lares temporários.

Conforme a presidente da ONG, Aline de Godoy, as adoções em meio à pandemia (desde metade de março) estão sendo realizadas via redes sociais. As pessoas interessadas entram em contato com as voluntárias, que enviam fotos e vídeos dos animais disponíveis para adoção, e depois fazem um termo de adoção e vistoria do local onde o animal ficará — aqueles que estiverem dentro das normas da ONG podem adotar.

“As pessoas que querem adotar precisam pensar antes de tomar essa atitude, pois tem gente que adota por impulso e carência. Nosso cuidado como ONG é como será o futuro deste animal, então sempre permanecemos em contato, ligando e pedindo fotos e como o animal está. Também acreditamos que durante a pandemia muitos se desfizeram de seus animais, por poucos recursos e/ou a falta de responsabilidade”, comenta Aline.

Projeto Mãos e Patas

Associação conta com 90 animais, na sua maioria idosos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em um sítio em Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, localiza-se o Projeto Mãos e Patas, fundado em 2015, quando era tocado somente por Lurdes. Hoje, a senhora de 70 anos conta com o auxílio de Marina Moreira e outras voluntárias. A associação está com 90 animais e, desde o início da pandemia até metade de maio, foram adotados apenas oito cães.

“Estamos principalmente com cães idosos na associação, com faixa etária de 10 a 20 anos. O lugar é simples, mas não falta nada, desde alimentação, água, vacina e muito amor”, diz Marina.

Segundo a voluntária, mesmo sendo mais rígidos com adoção de animais durante a pandemia, ocorre a devolução de alguns. “Vemos muitas pessoas querendo adotar por impulso e depois, quando voltam a trabalhar, como aconteceu com um filhote, querem devolver. Os animais não são objetos, eles precisam de cuidados e, quando pequenos, fazem mais bagunça. Antes da adoção fazemos entrevista para esclarecer que o animal requer paciência e atenção até que se adapte aos tutores e ao lar”, comenta Marina.

Como ajudar:

Associação Barbosense de Proteção aos Animais, de Carlos Barbosa

Cnpj 10735870/0001–62

Banco Sicredi — Agência 0167 — Conta 946184

ONG Patas e Focinhos, de Bento Gonçalves

Através do Aplicativo: @angelsdoacoes

Cnpj: 18483041/0001–41

Banco do Brasil — Agência 0181–3 — Conta 74908–7

Projeto Mãos e Patas, de Viamão

Cnpj 93919660/00001–51

Banco Banrisul — Agência 0156 — Conta 06.0000085.0–7

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