Afinal, o que é Comunicação em Rede?

Pedro Kobielski
Redação Beta
Published in
4 min readSep 7, 2017

Tema de seminário da Unisinos, a Comunicação em Rede é um dos principais fenômenos da sociedade contemporânea

Foto: Simon Cockell.

Na quarta-feira (13), a Unisinos Porto Alegre realiza, com o Canal Futura, o evento “Conexão para Comunicação: Como Construir Espaços de Diálogos com Jovens?”. O seminário integra o projeto “Encontros de Comunicação em Rede”, promovido pelo Futura e universidades parceiras em todo o país.

Mas afinal, o que é “Comunicação em Rede”, tema que motiva essa série de encontros? A Beta Redação conversou com os professores da Unisinos, doutores em ciências da comunicação Alberto Efendy e Cybeli Moraes para compreender o fenômeno e o impacto que ele gera na sociedade contemporânea.

Basicamente, “Comunicação em Rede” é um termo que passou a ser discutido em meados da década de 1990, com o surgimento de grandes redes mundiais de informação, como a Internet. O fenômeno chama a atenção de diversos estudiosos das ciências da comunicação e sociais, que têm alertado sobre o impacto social gerado pela globalização — que só é possível graças aos grandes canais de Comunicação em Rede.

“A noção de comunicação em rede contemporânea é definida em termos da constituição da rede mundial de computadores; essa invenção humana que entrou em funcionamento em 1994, mudou significativamente as condições de distribuição das informações e da comunicação”, explica Efendy.

Mas, de acordo com ele, o fenômeno teve raízes crescidas antes mesmo do surgimento da World Wide Web (www): “a comunicação em rede tem um longa história. A espécie humana a inventou para configurar suas primeiras comunidades e depois suas formações sociais mais complexas”.

Para Cybeli Moraes, a internet não é sinônimo de Comunicação em Rede, e sim uma de suas ferramentas. “A comunicação em rede vem antes da internet. É um processo amplo, independente das tecnologias”, destaca.

Dessa forma, a “Comunicação em Rede” implica, de forma natural, em uma escala ainda maior: a “Sociedade em Rede”, já que os meios de propagação de informações impactaram diretamente na constituição social. O sociólogo espanhol Manuel Castells foi um dos grandes responsáveis pela popularização do termo na sociedade acadêmica, com a publicação de sua trilogia “A Era da informação: Economia, sociedade e cultura”.

Sociólogo espanhol Manuel Castells, um dos principais teóricos da chamada “Sociedade em Rede”. Créditos: USCPublicDiplomacy.

Castells explica que as tecnologias de informação desenvolvidas com fins militares foram impulsionadas pelo capital financeiro, gerando o chamado “capitalismo informacional”, e também foram utilizadas pelas grandes instituições estatais.

Efendy entende que no século XXI essa lógica de controle das informações por parte das grandes corporações foi quebrada, com o surgimento de fenômenos como o WikiLeaks. Tal movimento gerou uma reação por parte dos antigos detentores do poder informacional, que fortaleceram suas ações para se apropriarem de canais de informação, afim de sustentar sua autoridade. Tema de seminário da Unisinos, a Comunicação em Rede é um dos principais fenômenos da sociedade contemporânea.

“O controle estratégico da distribuição pelas grandes multinacionais acabou. No século XXI, redes de comunicadores independentes, como WikiLeaks, passaram a administrar e distribuir informações fora do comando das grandes corporações transnacionais e dos governos hegemônicos. De maneira simultânea, esses poderes de controle das elites mundiais foram fortalecidos pela utilização das invenções informáticas a serviço da espionagem, da extorsão, da perseguição e da distorção da realidade mundial,” conta.

Quanto ao Wikileaks, Cybeli é parcimoniosa ao enxergar o Wikileaks como uma “nova” perspectiva. “O WikiLeaks é importante pela busca da transparência de informação, a busca pelo furo deve sempre acontecer. Mas não é algo ‘novo’, vide Garganta Profunda, por exemplo”, conta, lembrando da famosa fonte secreta utilizada pelos repórteres do Washington Post para deflagrar o caso Watergate.

O equatoriano Efendy é pessimista em relação ao uso da Comunicação em Rede enquanto ferramenta de inclusão. “As pesquisas mostram que a maioria da população no Brasil utiliza esses recursos tecnológicos de maneiras pouco criativas, repete costumes e hábitos condicionados pelos poderes tradicionais em relação a captação de informação, construção de gostos, expectativas, desejos e visões de mundo. Ainda está longe uma transformação cultural que permita uma relação inventiva transformadora entre as pessoas e as potencialidades tecnoculturais”.

Já Cybeli acredita que as ferramentas apenas potencializam fenômenos já existentes na sociedade. “A internet coloca um amplificador sobre comportamentos já existentes. Toda ferramenta que surge traz uma série de possibilidades tanto de exclusão, como de inclusão”.

O fato é que a comunicação em rede é uma realidade irreversível no mundo contemporâneo. Na próxima quarta (13), convidados como Djamila Ribeiro, Debora Albu e Marcelo Wasem irão debater a relação do tema com a juventude na Unisinos Porto Alegre. O evento é gratuito.

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