Afroempreendedorismo fortalece a economia

Paula Câmara Ferreira
Redação Beta
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3 min readOct 20, 2018

Empresários negros movimentam aproximadamente R$219,3 bilhões anualmente

Apesar da crise, o afroempreendedorismo brasileiro vem conquistando cada vez mais espaço. De acordo com a SEBRAE, entre 2001 e 2014, o número de negros à frente de empreendimentos cresceu 29%. Além disso, de acordo com o IBGE, entre os donos de negócios existentes no Brasil, 31% pertencem a uma mulher negra.

O espaço de beleza Africaníssimas foi inaugurado em abril de 2017 pelas afroempreendedoras Priscilla Alves (esq), Cassiana Alves (centro) e Renata Dornelles (dir) (Foto: Arquivo pessoal)

Um dos rostos desta estatística é a sócia proprietária do espaço de beleza Africaníssimas, Renata Dornelles da Cruz. “Africaníssimas é um negócio, mas é também um movimento de valorização da beleza — e isso vai muito além da cor da pele”, declara.

Com o slogan “moda, beleza e poder” o empreendimento de Renata foi criado na cidade de São Leopoldo pela carência de um negócio que atendesse as necessidades das mulheres negras. “Conforme estatísticas do IBGE, mais da metade da população brasileira não é branca. Por algum motivo, talvez o preconceito, a questão econômica que vem junto com um problema social histórico, há poucos espaços de beleza especializados no biotipo predominante no nosso país”, detalha.

Funcionando há 18 meses, o estabelecimento voltado a beleza negra foi bem recebido na cidade. Renata conta que recebem elogios diariamente dos clientes e atribuiu os bons resultados a identificação do público com a marca. “Fizemos uma construção de marca forte, identificada com os nossos objetivos e com o nosso público e levamos ao pé da letra o empoderamento das nossas clientes, sejam do biotipo que forem. Valorizamos o amor próprio e isso se transformou em uma energia que temos a sorte de compartilhar com todos que fazem parte da família Africaníssimas”, fala orgulhosa.

Incentivo ao afroempreendedorismo

O movimento do afroempreendedorismo é incentivado por movimentos como a Rede Brasil Afroempreendedor (REAFRO). De acordo com a advogada, empresária, Coordenadora da Reafro e membro do Grupo Mulheres do Brasil Mariana Ferreira dos Santos, 30 anos, a instituição surgiu de uma iniciativa de inclusão das populações afro-brasileiras mais abrangentes. “Durante 3 anos, em 12 estados brasileiros, foram realizadas ações de capacitação e formação de micro e pequenos afroempresários. Ao término do projeto, em 2016, o conjunto de afroempreendedores participantes fundou a REAFRO que tem por objetivo principal desenvolvimento e fortalecimento das iniciativas de afronegócios no Brasil”, explica.

Mariana conta que desde a sua criação a REAFRO auxiliou mais de 250 empresários, desenvolvendo palestras, wokshops, encontros, capacitações, mentorias e network para troca de experiências e fomento de intercâmbios de negócios. “Atualmente, oferecemos capacitações para empreendedores negros em parceria com o SEBRAE/RS. Esta rede de apoio é muito importante, já que mesmo em meio a crise política e econômica, a cada dia mais aumenta o número de afro-brasileiros que buscam conquistar o seu espaço dentro no empreendedorismo nacional e regional”, acrescenta.

O primeiro encontro do programa afromentoring no dia 9 de outubro. O programa oferecerá mentoria às mulheres negras em diversas áreas: Gestão e Finanças, Marketing, RH, Jurídico, Vendas, Tecnologia e Precificação (Foto: Reprodução Facebook)

A empresária também conta que a instituição colocou recentemente em prática um projeto voltado para as empresárias negras. “O afromentoring, é um projeto de mentoria para mulheres negras cujo o objetivo é potencializar não apenas a força da mulher negra como empreendedora, mas auxiliar a desenvolver a base da pirâmide de negócios a partir de um processo de mentoria focado no crescimento pessoal e profissional”, esclarece.

Para Renata, o aumento da participação da mulher negra no empreendedorismo significa um avanço histórico. “Ainda precisamos falar em afroempreendedorismo, e não apenas em empreendedorismo. Como mulher, negra, sinto-me fazendo parte de um novo momento na história do nosso país”, declara.

Apesar deste crescimento, a afroempreendedora fala com tristeza sobre questões sociais que fazem com os negros precisem reafirmar que também podem ser empreendedores de sucesso. Para ela, o movimento de empoderamento que está acontecendo agora vai fortalecer as novas gerações, fornecendo uma forma de driblar o preconceito. “Escapar do preconceito é uma questão de educação, principalmente das novas gerações. O fato de as crianças de hoje estarem assistindo a essas novas posturas, acredito que contribuam. Atendemos também a crianças e é muito gratificante ver meninas tão novinhas amando fazer tranças afro”, exemplifica.

Questionada sobre as perspectivas para o futuro, Renata defende que é preciso entender que afroempreendedorismo não é um nicho de mercado. “Não é uma tendência. Estamos falando da maioria dos consumidores e trabalhadores brasileiros”, conclui.

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Paula Câmara Ferreira
Redação Beta

Estudante de Jornalismo. 25 anos. Apaixonada por: animais, livros, música e séries.