Agricultura 4.0 torna a tecnologia uma realidade para o setor
O uso de meios tecnológicos está cada vez mais presente nas produções rurais do estado
O setor de agricultura possui um importante papel para a economia do Rio Grande do Sul. A produtividade tem sido impulsionada pela adoção de tecnologias para a gestão de propriedades rurais. Segundo estimativas da Emater/Ascar, o plantio e colheita da safra de 2018–2019 apresentará aumentos significativos no volume e na rentabilidade e isso se deve em grande parte às tecnologias aplicadas. Baseada nos pilares da internet das coisas, Big Data e segurança da informação, a agricultura e a pecuária têm adotado sistemas automatizados, que facilitam a vida dos agricultores.
Um desses exemplos de desenvolvimento a serviço do campo é o do especialista em sistemas de armazenagem de grãos, Maicon Douglas Curti, que é representante da empresa Procer. O ramo vem ganhando espaço no país. A cada ano as safras têm aumentado, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no último ciclo 2017–2018 o país produziu cerca de 228,3 milhões de toneladas de grãos, sendo 119,3 milhões eram de soja. Clique aqui para acessar o relatório do Conab.
A empresa para qual Maicon trabalha vende um software que auxilia no monitoramento dos produtos armazenados em silos. “Gerenciamos cerca de 130 milhões de sacos de grãos, atendemos produtores de 17 estados brasileiros. Com nosso sistema eles podem acompanhar o armazenamento de seus produtos na palma da mão, através de smartphones e tablets de uma maneira muito mais eficaz e que evita o desperdício e perda de produção”, afirma.
A tecnologia avalia as condições internas do silo, repassando informações sobre umidade e temperatura em tempo real, o que ajuda na tomada decisões que evitam a perda do produto. “É possível acionar a aeração por meio da tela do celular, tudo de forma simples e rápida. O controle é 24 horas por dia, sete dias por semana”, destaca o especialista em sistemas.
Esse tipo de ferramenta auxilia no armazenamento dos grãos (soja, milho e arroz) por períodos mais longos, o que faz com que possam ser negociados em épocas com melhor preço. “Tudo isso aumenta o lucro. O acompanhamento gera um grão com qualidade acima da média, o que valoriza o produto e aumenta os preços”, conclui.
Alternativas para regiões com baixa conectividade
Outra tecnologia presente no meio rural está na cidade de Santa Margarida do Sul, região da campanha. A engenheira mecânica Michelle Cristóvão desenvolveu um sistema de irrigação para lavouras ou hortas de pequenos produtores totalmente automatizado. “Meu trabalho final de curso foi criar esse projeto, que com baixo custo pode auxiliar desde grandes produtores até pessoas comuns que decidem plantar suas hortaliças em casa”, conta.
Recém formada pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul — Unijuí, Michelle, está colocando sua ideia em prática na propriedade da família, onde o sistema vem dando bons frutos, literalmente. “O sistema tem se mostrado bastante eficiente e logo estará pronto para comercialização em larga escala”, comemora.
Como a cidade onde mora é pequena e com um sistema de internet deficitário, Michelle precisou adaptar sua ideia, remodelando e adaptando seu dispositivo para a realidade da região. “Moramos em uma cidade onde a internet é via rádio, temos uma conexão lenta e muitas vezes falha. Essa tem sido a maior dificuldade, pois para termos um produto totalmente tecnológico a internet tem papel fundamental e o acesso ainda é muito difícil na maioria das localidades do interior”, afirma.
Essa é a realidade de muitos agricultores, conforme a pesquisa Tecnologia da Informação no Agronegócio do Sebrae, os produtores do Rio Grande do Sul que costumam acessar a rede para os negócios utilizam principalmente internet via rádio (44,2%), seguido de acesso 3G ou 4G móvel (26,9%). Aqueles que não apresentam esse hábito informaram que não o fazem pois o acesso é inexistente (51,4%).
Mas por vivenciar essas dificuldades, a engenheira acredita que será capaz de criar algo que atenda as necessidades dos agricultores que vivem em propriedades afastados, onde o acesso as aos meios digitais ainda é limitado, fazendo com as tecnologias da indústria 4.0 alcancem a todos.
Tecnologia ao alcance de todos?
Essa é a mudança que a chamada indústria 4.0 tem trazido para as propriedades rurais, que cada vez mais estão ligadas com o que há de mais moderno e inovador. O termo surgiu na Alemanha e recebeu esse nome por se tratar da Quarta Revolução Industrial. Como em todas as outras revoluções, essa surgiu a partir de descobertas importantes, nesse caso a tecnologia. A Indústria 4.0 nada mais é do que uma denominação para o uso de softwares que auxiliam na melhora dos rendimentos.
Como nos exemplos de Michelle e Maicon, a tecnologia pode contribuir para a produção em massa, com sistemas digitais inteligentes, que facilitam a rotina dos produtores e modificam o setor. Embora toda essa inovação pareça maravilhosa, há alguns desafios que precisam ser enfrentados. Fazendas e outras propriedades localizadas no interior ainda sofrem com a conectividade de seus sistemas e esse é o maior entrave para o acesso à agricultura 4.0.
Para que toda essa tecnologia seja colocada em prática, é preciso que o acesso à internet chegue até os locais mais distantes. Pode parecer estranho, mas a conexão digital ainda não alcançou todos os brasileiros, como afirma a pesquisa TIC Domicílios 2017 do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), que mostra que 39% dos brasileiros, cerca de um terço, não possui acesso a rede mundial de computadores.