Coletivo General Idea promove movimento artístico que dá voz à comunidade LGBT, grupo de risco para a Aids. (Foto: Reprodução/General Idea)

Ainda precisamos falar sobre a Aids

Quase 40 anos após os primeiros registros do HIV, o vírus ainda assusta — especialmente no Rio Grande do Sul — e é cercado de dúvidas e preconceitos. A boa notícia vem da medicina: novos testes e remédios facilitam a prevenção e o tratamento

Beta Redação
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18 min readNov 30, 2017

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Desde a descoberta da Aids e de seu vírus transmissor, o HIV, por volta dos anos 80, a doença crônica tem dizimado centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo. Estimativas da UNAIDS afirmam que no ano de 2016, o número de de pessoas infectadas pelo HIV era de 36,7 milhões, com uma estimativa de 2,1 milhões de novos casos a cada ano.

Diferentemente da geração anterior, que viu muitos de seus ídolos sucumbirem à enfermidade, atualmente os casos de HIV que evoluem para um quadro de Aids têm sido cada vez menores. Mas o número de jovens infectados pelo vírus vem aumentando desde 2007.

O ano de 2015 é o que contabiliza mais casos em todas as idades a partir de 10 anos. Apenas um grupo demonstrou redução no período de 2011 a 2015, ainda que não expressiva: a faixa etária entre 30 e 34 anos, na qual os registros diminuíram de 572, em 2014, para 557 casos a cada 100 mil habitantes. A maior incidência de casos de HIV no Rio Grande do Sul, no entanto, está entre pessoas de 25 a 29 anos.

Casos de HIV por idade, em progressão de 2007 a 2015, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.
Número total de brasileiros infectados pelo vírus HIV notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde de 2007 a 2015 nas regiões Sul e Rio Grande do Sul.

Katlina Machado Fernandez, portadora do vírus HIV e moradora de Canoas, faz tratamento no Sistema de Atendimento Especializado (SAE). Ela vive em uma das regiões de saúde do Rio Grande do Sul com maior índice de Aids por 100 mil habitantes*. Em primeiro lugar está a região 10 (Capital/Vale do Gravataí), com 66 casos — que corresponde aos municípios de Alvorada, Cachoeirinha, Glorinha, Gravataí, Porto Alegre e Viamão — seguida pela região 8 (Vale do Caí/Metropolitana), com 45,6 casos a cada 100 mil habitantes, integrada pelas cidades de Barão, Brochier, Canoas, Capela de Santana, Esteio, Harmonia, Maratá, Montenegro, Nova Santa Rita, Pareci Novo, Salvador do Sul, São José do Sul, São Pedro da Serra, São Sebastião do Caí, Sapucaia do Sul, Tabaí, Triunfo e Tupandi.

O detalhamento de cada região pode ser conferido aqui: https://goo.gl/KJM7YY.

Apesar de não ter cura, o HIV tem tratamento, e hoje é possível viver com a patologia, desde que a medicação seja administrada corretamente. Questionada sobre o tratamento que recebe, Katlina reclama que ultimamente têm faltado alguns atendimentos, além do complemento alimentar, que foi cortado. “Ganhávamos uma mini cesta básica através do SAE, porém, há cinco anos não é feito o pedido e o complemento foi extinto”, relata. Ela também aponta problemas na forma como os pacientes são acolhidos. “Eu tenho um nome social e está no meu prontuário, mas elas me chamam com o meu nome de batismo”, reclama Katlina, que é uma mulher trans.

Intrigados pelos dados ainda alarmantes sobre a epidemia global de Aids no mundo que assola também o RS, os repórteres da Beta Redação foram conferir os relatos de quem convive com a Aids em pleno século 21, desvendar os principais mitos e tabus que circundam o assunto, informar sobre as novas descobertas da medicina no combate à doença e perguntar como a patologia está sendo abordada nas escolas — entre outros assuntos que você pode conferir neste especial que marca a importância de ligarmos o alerta: dezembro é o mês vermelho.

Nas escolas e no dia a dia

“Precisamos falar sobre o vírus na faculdade, no trabalho, em todos os aspectos, não como uma doença a ser tratada, mas como algo que não é fácil apenas por ter um tratamento”, salienta Lucas (o nome é fictício, a pedido do entrevistado), que a partir de dores de garganta recorrentes descobriu ser portador do vírus HIV.

Na época, com quase 20 anos, Lucas recorda que os primeiros exames deram negativo, até que um confirmou a razão da imunidade baixa. Hoje, com 27, formado em Psicologia e seguindo seu tratamento normalmente, conta que o vírus não o inviabiliza de qualquer troca social ou nem lhe causa outros problemas de saúde, mas reforça que a doença não tem cura e que o portador precisará manter cuidados para a vida toda. Por isso, vai enfrentar preconceitos, dificuldades, e terá que aprender a ser forte para não deixar o HIV derrubá-lo.

A transmissão do HIV pode ocorrer através do sangue, do sêmen e demais líquidos seminais, das secreções vaginais, da amamentação e até mesmo no momento do parto. As maneiras de contrair o vírus são as mais variadas possíveis, podendo haver a transmissão horizontal, por prática sexual, e a vertical, que se refere às crianças que foram infectadas pelas mães no momento do parto.

A camisinha (tanto masculina quanto feminina) bloqueia os vírus de inúmeras doenças, impedindo-os de entrarem no corpo de todas as pessoas que participam da prática sexual. (GIF: Giphy.com)

Quando criança, Lucas conta que sofria preconceito por ser negro e afeminado. “Eu estava sempre com as meninas da turma”, busca suas memórias do começo da década. E, atualmente, em conversas junto aos alunos de 15 a 17 anos nas escolas das redes pública e privada de Porto Alegre, percebe-se que a informação ainda se mistura com alguns mitos sobre o vírus e a doença — revelando, também, que o preconceito ainda é presente naquilo que se diz sobre a Aids.

“O que eu lembro é que é uma doença sexualmente transmissível”, recorda um estudante quando provocado. “Quando uma pessoa tem Aids, baixa o sistema imunológico”, comenta uma aluna, lembrando uma das primeiras coisas que vinham à cabeça. Logo após, toda a turma responde para a professora — que acompanhou as conversas — quando esta pergunta se “alguém morria de Aids”. “Não, morrem da doença que se aproveitou da imunidade baixa”, confirmam. “Preservação é a primeira palavra”, define, em tempo, outra estudante.

Quando questionados se a Aids poderia ser transmitida pelo beijo, a questão divide alguns alunos da escola pública. “Eu já escutei falar que, se tiver um corte na boca, pode pegar. Não sei se é verdade”, opina uma aluna.

Mas como surgiu? “Dizem que foi pelo macaco, uma coisa assim. Uma doença que tem nos macacos, só que não é tão prejudicial a eles”, especula outra estudante. “Acho que veio do macaco”, confirmou outro adolescente, que fez seus colegas rirem quando contou que sua avó era quem havia lhe mencionado isso.

Rememore ou conheça os acontecimentos mais populares sobre a Aids e o HIV entre 1980 e 2000.

O preconceito parece ser um tabu ainda presente na sociedade, segundo um dos alunos. “Muita gente tem vergonha em dizer ‘Sou HIV positivo’, o que é um problema bem sério. Principalmente aqui no RS, que eu acho que é o Estado que mais tem disseminação de Aids entre os jovens no Brasil”, pondera o estudante. Outro confessa que teria dificuldades em contar às pessoas caso contraísse o vírus. “O cara que tem Aids, ninguém vai querer sair com que ele”, reflete. Mas, depois, repensa: “Se eu tivesse, eu falaria. Mas seria difícil. Vem uma pressão pra cima do cara”. “As pessoas têm vergonha de falar. É muito comum”, comenta outro.

Lucas também reporta, ao relembrar sobre quando se descobriu portador do vírus, a respeito da discriminação que veio, justamente, de quem ele mais esperava apoio: a família. “O preconceito externo ao seio familiar é algo mais compreensível. Já o da família, que tu espera que ao menos te dê forças para continuar, é o primeiro que te aponta”, comenta. Ele lembra de uma frase dita por um parente quando decidiu contar que era portador do vírus HIV: “Te considero como um filho, mas para mim você morreu”.

Devido ao diagnóstico e à discriminação de pessoas próximas, o jovem conta que o processo de aceitação foi lento e doloroso. Segundo ele, era difícil sair de casa ou até do quarto. “Entrei em depressão, pouco falava, e mantinha em segredo o resultado do exame. Até o ponto em que não deu mais para segurar e resolvi contar para minha mãe e algumas pessoas mais próximas”, explica o rapaz que ilustra uma estatística muito mais presente em nossos tempos do que se imagina. Ele integra os 48% da população masculina do RS que contraiu o vírus HIV no ano de 2010 — soma que chegou aos 57% em 2015. Até o ano de 2012, as mulheres lideravam o ranking de contaminação, com um pico em 2009, quando a diferença para os homens ficou em 16 pontos percentuais. A partir de 2013, eles passaram à frente.

Diagnóstico de Aids por sexo no Rio Grande do Sul: 2010–2015 de acordo com o Sinan.

Apesar de, agora, conhecer todas as características da doença e do vírus, quando descobriu sua condição, Lucas não sabia nada do assunto. Ele conta que, como todo mundo, morria de medo só de ouvir falar nisso, sem procurar se informar mais. Na época, a ideia que ele fazia da Aids era de que esta seria uma sentença de morte.

Com a ajuda de amigos e professores, no entanto, o fardo se tornou menos pesado para se carregar. Segundo Lucas, dos amigos ele só escuta coisas boas, que o ajudam a passar por isso. Com a família, porém, ele não dá muita abertura para que falem sobre a situação. “O que eu tive que escutar no início foi suficiente, tipo: não pode usar o mesmo banheiro, os mesmos talheres ou beber no mesmo copo. Dos desconhecidos, não chego a escutar nada, só me afasto”, relata Lucas.

Como o vírus foi resultado de um relacionamento amoroso, Lucas confessa que se envolver novamente com alguém ainda é algo difícil, porque precisa confiar muito na pessoa. “Isso se tornou uma dificuldade no sentido sentimental”, analisa.

Apesar disso, com a força de quem já precisou passar por muitas adversidades na vida, ele destaca desejos que podem amenizar o sentimento dos portadores da doença. O principal é que espalhe mais conhecimento sobre a Aids e o HIV: Lucas já faz uso da medicação há seis anos, as doses sempre foram administradas e, por isso, nunca houve algum episódio fora da normalidade. Mesmo assim, ele relata que existe muita confusão entre a Aids e o vírus HIV, ou seja, você pode ser portador do vírus, como é o caso dele, e não desenvolver a doença.

Ao finalizar a entrevista para esta reportagem, Lucas faz sua última consideração: um aviso amoroso e empático para quem descobre ser portador do vírus HIV. O recado é de que a pessoa não precisa passar sozinha por momentos tão decisivos de sua vida. “Para uma pessoa que descobre algo desse nível, digo, qualquer doença sem cura, recomendo que não tente seguir esse caminho solitário. Procure um amigo, uma amiga, uma pessoa em quem você confie para diminuir um pouco da dor desse fardo. Se puder, faça terapia, converse via internet (tem site específico para pessoas com a sorologia positiva), onde você pode tirar suas dúvidas e quem sabe até fazer amizades”, finaliza.

Entre os estudantes entrevistados nas escolas de Porto Alegre, os mitos sobre o tema ainda estão presentes, mas felizmente vão caindo. Principalmente aqueles que envolvem alguns interesses dos adolescentes, como a tatuagem. Elas transmitem o vírus? “Depende da agulha”, diz um. Outro demonstra como agiria em caso de descobrir ser soropositivo: “Eu tenho HIV, então, pelo amor de Deus, não usa (a agulha) com outra pessoa”, simula. “Já avisa (o tatuador), porque ele não tem como adivinhar. Não sei pra quantas pessoas eu poderia passar sem relação (sexual)”, exemplifica.

“Antes, achavam que era só (doença de) homossexual”, lembra uma aluna, em referência à antiga ideia da Aids como sendo uma “Peste Gay”. Mas todos os estudantes apontam que o preconceito ainda está presente na sociedade. Para retratar isso, muitos se colocam no lugar de uma pessoa doente. “Eu não gostaria, se acontecesse algo comigo, que as pessoas ficassem me olhando: ‘ah, coitadinha’”, posiciona-se uma jovem, que diz que gostaria que lhe perguntassem de forma propositiva: "Como tu vai fazer? Como tu vai tratar?".

Mas como o tema vem sendo abordado em instituições públicas e particulares do RS? Em conversa com os professores de Biologia Caroline Savionek, do Colégio Estadual Paula Soares, e Vanderlei Farias Guerreiro Júnior, do Colégio Marista Rosário, ambos de Porto Alegre, são levantadas algumas pistas.

Caroline destaca que a Aids é o principal vírus abordado em sua matéria, sendo que o tema integra parte dos conteúdos do 7º ano do Ensino Fundamental e do 2º ano do Médio. “Explica-se uma série de coisas. O que é mais enfocado são os modos de prevenção”, conta, acrescentando que também são abordadas as consequências da contaminação.

Já Guerreiro Júnior afirma trabalhar com duas perspectivas. “O estudo de caracterização dos vírus, que é mais clássico da escola e dos conteúdos de biologia, e o debate franco a respeito de algumas doenças virais que são mais preocupantes”, enfatiza. O professor também costuma levar dados para debater com a turma. “Para incomodar, deixar a pulga atrás da orelha deles."

Nas farmácias e sobre as novidades de prevenção

Se provocar o debate e a busca de dados acaba sendo um método bastante eficaz na visão de portadores do HIV e professores que informam os estudantes sobre a Aids em sala de aula, nas farmácias e no cenário de pesquisa para a prevenção da doença experimentar acaba sendo ação fundamental. É o que revelam as duas mais novas notícias de saúde pública sobre a questão: o autoteste e a Profilaxia Pré-exposição (PrEP).

Com embalagem discreta e nomeado de “Action!”, o autoteste de HIV dificilmente é encontrado nas prateleiras. A caixinha branca fica atrás do balcão da farmácia, sem maiores explicações sobre o seu conteúdo. Mas passada a dificuldade inicial de encontrar o produto, registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 15 de maio deste ano, é fácil adquiri-lo. Não é necessária receita médica, apenas vontade de descobrir se você está infectado e dinheiro para comprá-lo (o preço médio é de R$ 80). Também é possível fazer o teste rápido gratuitamente em qualquer posto de saúde.

O autoteste passou a ser vendido em agosto de 2017 por diversas redes de farmácias, inclusive pela internet. Além de ser um método mais acessível para tirar a prova, o objetivo do produto é também prevenir a transmissão do vírus por portadores que desconheçam a própria condição, colaborando para a redução de novos casos.

Para testar o produto, uma repórter de 22 anos da Beta Redação comprou o Action! em uma farmácia no centro de Porto Alegre. Ouça em podcast o relato da experiência, do momento da compra às questões que surgem após o uso — desde o desconforto percebido nos atendentes da farmácia até a desconfiança sobre a validade do teste, que não pode ser respondida pelo atendimento do Ministério da Saúde e nem mesmo pela empresa Orange, fabricante do autoteste.

Outra novidade do ano de 2017 é o lançamento, neste 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids, de uma nova forma de prevenção à doença que será implementada em todo o país. Segundo o site PrEP Brasil, a Profilaxia Pré-exposição (PrEP) é uma estratégia de prevenção que envolve a utilização de um medicamento antirretroviral (ARV) por pessoas não infectadas, para reduzir o risco de aquisição do HIV através de relações sexuais e bloquear a multiplicação do vírus.

O método será aplicado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a partir desta sexta-feira em 12 municípios do território nacional. Porto Alegre será a única cidade no Rio Grande do Sul que receberá a PrEP, explica Ana Lúcia Pecis Baggio, da Coordenação Estadual de IST/HIV/Aids.

O uso do antirretroviral funciona como uma espécie de vacina contra o vírus HIV, mas não significa que se deve deixar de lado os métodos tradicionais de prevenção. “A PrEP é uma medicação que protege apenas do HIV. Porém, as pessoas devem seguir utilizando a camisinha, para a prevenção de outras doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, por exemplo”, ressalta a coordenadora Ana Lúcia.

Um personagem de “Os Simpsons” utiliza uma máquina de camisinhas, uma das formas mais comuns de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). O uso do preservativo é muito importante não só em função da prevenção da AIDS: atualmente, o Brasil enfrenta outra grande epidemia — a da sífilis e uma das causas é a falta de uso da camisinha. (GIF: Giphy.com)

Paulo Alencastro, infectologista e responsável pelo estudo da PrEP em Porto Alegre, afirma ser um método que se encaixa na prevenção combinada, dependendo da adaptação do usuário, através de aconselhamentos e conversas entre médico e paciente. Na capital gaúcha, dentro do Instituto Fiocruz, e nas outras áreas do país, a PrEP estava apenas na fase de estudos e pesquisas. Além de Porto Alegre, o estudo é feito no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Manaus.

O principal objetivo proposto pelo Ministério da Saúde é avaliar se o público conhece e aceita esse método. Trata-se de um estudo demonstrativo. No ano de 2016, a PrEP não obteve a aprovação para ser implantada oficialmente como medicamento, pela ANVISA. Atualmente, para Alencastro, os antirretrovirais são a principal maneira do tratamento contra o vírus. E, da mesma forma que a PrEP, a eficácia do tratamento depende, em boa parte, do paciente.

Material explicativo sobre a PrEP (LinkedIn do Ministério da Saúde).

Já disponível há mais de dois anos, a Profilaxia Pós-exposição (PEP) é o tratamento que também se dá através de antirretrovirais e atende pessoas que já tiveram relações sexuais desprotegidas e estão com dúvidas sobre a possibilidade de terem sido infectadas. Ana Lúcia explica que o tratamento é muito eficaz se realizado em tempo hábil, ou seja, até 72 horas após o ato sexual. Da mesma forma que a PrEP, o PEP não previne outras doenças, somente o HIV, e pode apresentar efeitos colaterais, como amarelão, em algumas regiões do corpo.

A PEP é realizada em centros especializados e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de 78 cidades do Rio Grande do Sul, dentre elas, Porto Alegre. “De dois anos para cá, vem sendo discutida em meios de comunicação a utilização desse método, pois ainda é muito desconhecido”, ressalta a coordenadora Ana Lúcia. O PEP também virou o aplicativo "Tá na mão", disponível desde 2015 para os sistemas Android e IOS, um guia eletrônico de orientações e serviços sobre Aids e outras DSTs, ainda somente disponível na cidade de São Paulo.

Material explicativo sobre PEP do Blog da Saúde (Ministério da Saúde).

Precisa de Ajuda? Quer saber mais?

Para entender como funciona o tratamento para as PVHA (Pessoas Vivendo com HIV/Aids) e com o propósito de auxiliar aqueles que não sabem onde procurar ajuda, a Beta Redação fez um levantamento, nas quatro cidades mais populosas do Rio Grande do Sul — Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas e Canoas — sobre centros e orientação e serviços que estão à disposição das comunidades.

Porto Alegre

De acordo com o site da prefeitura de Porto Alegre, o atendimento para soropositivos acontece nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) localizadas nos bairros, podendo o paciente fazer tratamento em outros lugares, desde que tenha a vaga. Além dos postos, são disponibilizados três serviços:

  • Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS/CTA): realiza aconselhamento e oferece o teste para o vírus HIV. O teste é feito de modo anônimo e gratuito. Para fazer o teste, basta comparecer na Rua Professor Manoel Lobato, 151, às segundas, terças, quintas e sextas-feiras, pela parte da manhã, a partir das 9h, e também nas segundas e sextas-feiras, a partir da 13h.
  • Serviço de Atendimento Especializado em DST/Aids (SAE): realiza atendimento multidisciplinar para Doenças Sexualmente Transmissíveis, assistência ambulatorial a portadores do HIV ou doentes de Aids, crianças portadoras do HIV/Aids, acompanhamento pré-natal de mulheres portadoras do HIV/Aids, assistência ambulatorial a portadores do vírus HTLV-I e adesão ao tratamento. Localizado no Centro de Saúde da Vila dos Comerciários (antigo PAM 3), na Rua Professor Manoel Lobato, 151, térreo, o SAE disponibiliza a distribuição de medicamentos antirretrovirais. O horário de atendimento é das 8h às 17h.
  • Assistência domiciliar terapêutica a portadores de Aids (Adot): Atende indivíduos doentes de Aids cujo estado físico não permite, temporariamente, a locomoção até um serviço de saúde. A Adot presta cuidados intermediários entre o atendimento hospitalar e o ambulatorial, através de uma equipe interdisciplinar que conta com enfermeiro, médico, psicólogo, fisioterapeuta e auxiliares de enfermagem.

Já a ONG Casa Fonte Colombo tem o objetivo de ajudar as pessoas portadoras do vírus HIV e condicionar um espaço para que elas se sintam acolhidas. A ONG surgiu em 1999 como obra social dos Freis Capuchinhos, que atendem há 18 anos pessoas com HIV e Aids.

Na Casa são desenvolvidos trabalhos de autoestima e espiritualidade, além de auxílio e acompanhamento da saúde, alimentação, doações de roupas, entre outros. Todos os serviços são prestados por voluntários. A Casa atende atualmente 300 famílias e conta com 50 voluntários.

No próximo dia 16 de dezembro, às 14h, acontece a festa de Natal da Casa Fonte Colombo. Para quem quiser ajudar, ser voluntário ou participar como membro, basta se dirigir à Rua Hoffmann, 499, no bairro Floresta, de segunda a sexta feira, à partir das 13h. Pode também entrar em contato pelo fone (51) 3346–6405. Confira em vídeo relatos de pessoas que são atendidas pela Casa Fonte Colombo.

Caxias do Sul

De acordo com a enfermeira e coordenadora do Serviço de Infectologia de Caxias, Grasiela Cemin Gabriel, o trabalho desenvolvido pela Secretaria de Saúde com os portadores do vírus passa desde o desenvolvimento com ações de prevenção, assistência e pesquisa, até os diversos serviços de atendimento. “Atualmente, o Serviço Municipal de Infectologia conta com o Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids e o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). No SAE, prestamos atendimento a pessoas vivendo com HIV, oferecendo consulta médica, assistência farmacêutica, consulta de enfermagem, psicoterapia individual, grupo de autoajuda, consulta com nutricionista e assistente social”, explica Grasiela. No CTA, é realizado o aconselhamento individual pré e pós-teste, sendo ofertado testagem de HIV (bem como sífilis e hepatites B e C), Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), gel lubrificante, preservativos masculinos e femininos.

Segundo Grasiela, as principais dificuldades estão relacionadas ao horário de atendimento e aos poucos profissionais existentes para atender à grande demanda, visto que Caxias é referência na área e atende mais 12 municípios, além da questão de recursos financeiros, o que acaba prejudicando um pouco o sistema. “O serviço de saúde atende a população no horário das 7h às 16h, por vezes dificultando o comparecimento das pessoas nas suas consultas, exames e demais atendimentos. Também o CTA fecha às 15h, o que dificulta o acesso da população à testagem”, conta a enfermeira Grasiela, que está à frente da coordenação há mais de nove anos.

O Serviço Municipal de Infectologia de Caxias do Sul atende de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h, junto ao Centro Especializado de Saúde (CES).
Endereço: Rua Sinimbu, 2.231, 1º andar, bairro Centro.

Pelotas

O programa de saúde contra DSTs e Aids do município de Pelotas realiza campanhas de orientação sobre HIV e sífilis, entre outras. Além de promover cursos e seminários, é responsável pela logística de distribuição de preservativos, insumos e o teste rápido. Os atendimentos acontecem nas unidades de saúde do município.

  • Centro de Testagem e Aconselhamento CTA — Localizado no Centro de Especialidades (Rua Voluntários da Pátria, 1.428, sala 407).
  • Ambulatório da Faculdade Medicina da UFPel — Serviço de Assistência Especializada (SAE) em HIV/Aids.

Canoas

Canoas não difere muito dos outros municípios: para receber o atendimento, é só ir até uma UBS com documento e fazer o exame rápido. Caso dê positivo, o paciente é encaminhado para o SAE. Ele conta com uma equipe de infectologistas, clínicos gerais especializados em HIV/Aids, ginecologista, pediatra, nutricionista, dentista, assistente social, equipe de enfermagem e equipe de psicólogos. Os medicamentos são retirados lá mesmo.

Os testes podem ser feitos em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS) ou no CTA que fica na Rua Frei Orlando, 141, no Centro. O teste pode ser feito de segunda a sexta-feira, no horário das 8h às 16h.

Para aqueles que residem em outras cidades, o primeiro passo é procurar um posto de saúde ou hospital ao suspeitar ter contraído o vírus HIV, a fim de buscar a orientação necessária.

Agora é lei

Aprovada pelo Senado Federal em outubro, a Lei 13.504 instaura a Campanha Nacional de Prevenção ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis, o chamado Dezembro Vermelho.

O objetivo é prevenir a transmissão do vírus e prestar assistência àqueles que possuem o HIV ou a Aids, fazendo com que os cidadãos possam conhecer seus direitos e informando quais são os órgãos e mecanismos que podem auxiliá-los no tratamento. O último mês do ano contará com campanhas na televisão, rádio e internet, palestras, oficinais educativas e mais.

Caso você suspeite que contraiu o vírus HIV ou conheça alguém que esteja nessa situação, procure e ofereça amparo, saiba que há tratamento.

Para saber mais, a Beta Redação preparou uma playlist de vídeos bastante informativos — e descontraídos— para mostrar que a vida não precisa acabar por causa de uma doença como a Aids. Confira!

*A estatística de 2015 é baseada em notificações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), declarações no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e registros no Sistema de Controle de Exames Laboratoriais da Rede Nacional de Contagem de Linfócitos CD4+/CD8+ e Carga Viral do HIV (Siscel) e no Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom).

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A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.