Eterna educadora, amante da vida e do samba

Alice Maria Goulart de Morais (1950–2020)

Thaís Lauck
Redação Beta
3 min readJun 16, 2020

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Foto: Arquivo Pessoal

Alicinha, como era carinhosamente chamada pelos mais próximos, era o espelho, o alicerce da família e dos amigos. “Você precisa levantar a cabeça e seguir em frente” foi uma das frases mais ditas por ela ao longo dos seus 70 anos de vida, muito bem vividos. Alicinha era o gás, era a energia que movia as pessoas.

O gosto na infância pelo doce quindim — que ela chamava de “tinguim” — lhe rendeu o apelido “Tinga”, e as primas e primos a chamavam de “Tinguinha.”

Alice era como a canção de seu ídolo no samba, Alcione, a Marrom — “Não deixe o samba morrer; não deixe o samba acabar…” — , e a eterna Clara Nunes — “Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela; será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela…”. Assim era a carnavalesca e coordenadora cultural do Bloco do funil, presidido por Leo Vasconcelos, seu companheiro, amigo e esposo. “A mãe gostava disso, gostava de um samba. Chegava na casa dela, estava ela lá, com a Sky ligada no canal de samba raiz”, lembra, com carinho, Lindolfo de Morais, filho único da “Gorda”, como ele a chamava.

Pessoa conhecida em Alegrete, onde morou a vida toda, foi professora de Língua Portuguesa. Cumpriu seu papel com maestria por mais de 30 anos. Dedicou praticamente toda a sua vida à educação de crianças e adolescentes. Além da sala de aula, cursou Pedagogia e atuou na coordenação do Serviço de Orientação Educacional (SOE).

Já aposentada, foi juíza leiga no Tribunal de Medição e Arbitragem na sua cidade. “O sonho dela era se formar em Direito. Chegou a cursar na juventude, em Santa Maria, mas abandonou o curso para se dedicar à Pedagogia, atendendo ao desejo dos pais”, conta Lindolfo.

Com o coração ainda apertado, mas imensamente feliz por resgatar na memória lembranças de uma mulher que foi espelho para tantas pessoas, o filho se lembra de Alicinha com muito carinho. “Minha mãe era alegria, era vida”, diz Lindolfo, que fica orgulhoso toda vez que alguém se refere a ele como “o filho da dona Alice”. “O único defeito dela era ser gremista”, dispara, sorrindo.

Junto de Leo Vasconcellos, o Leozinho, Alice viveu 19 anos de companheirismo, carinho, respeito e cumplicidade. “Acredito que era um amor da juventude. Saber que o Leozinho estava junto dela me trazia tranquilidade e confiança. Eu sabia que tinha sempre alguém cuidando dela para mim. Foi ele que esteve do lado dela nos últimos dias, devo muito a ele”, conta Lindolfo, emocionado.

Além de Leo e de Lindolfo, Alicinha também deixou muita saudade no coração da nora Otilia Gomes de Andrade e da única neta, Maria Eduarda Gomes de Andrade de Morais, acadêmica de Odontologia que não terá a avó em sua formatura.

“Não adianta lermos as vidas das pessoas, se cada um não fizer sua parte contra esse vírus. Ele está tirando o melhor de cada um de nós, que são as pessoas que amamos”, finaliza Lindolfo, agradecendo a oportunidade de dizer quem foi sua mãe.

Alicinha nasceu em Alegrete (RS) e faleceu em Santa Maria (RS), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

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